Em 1990, Neil Young colocou nas lojas o álbum “Ragged Glory”, um dos mais pesados de sua carreira, gravado ao lado da sua fiel banda Crazy Horse. No ano seguinte, foi a vez dos igualmente pesados “Weld” e “Arc”, registrados durante a turnê de lançamento de “Ragged Glory”. Como já é de seu feitio, em 1992, Neil Young resolveu dar uma virada de 180º, ao retornar a Nashville e lançar o acústico “Harvest Moon”, uma espécie de continuação do celebrado “Harvest”, lançado em 1972. Inclusive, parte do Stray Gators (banda formada por Ben Keith, Kenny Buttrey e Tim Drummond, e que acompanhou Young em 72), voltou para dar uma força em “Harvest Moon”, que se tornou, com todo merecimento, um álbum quase tão celebrado quanto “Harvest”.
“Harvest Moon” originou uma turnê solo de Neil Young, na qual o multi-instrumentista canadense cantava e tocava violão, banjo, gaita e piano. Mais uma virada após a barulhenta turnê com a Crazy Horse em 1990/91. E é esse show que está registrado em “Dreamin’ Man Live’92”. O CD, curto e grosso, conta com as dez faixas de “Harvest Moon” em 55 minutos de duração. E nada mais.
E nem era necessário. A delicadeza do álbum originário de estúdio ficou ainda mais latente nesse “Dreamin’ Man Live’92”, que dá continuidade ao mega-projeto “Archives”, de Neil Young. Com simplicidade, as canções de “Harvest Moon” ficaram ainda melhores ao vivo, de forma que é possível entender melhor as suas melodias. Sofisticado e simples ao mesmo tempo. Poderia ser melhor?
Um bom exemplo é a própria faixa-título, que ficou mais crua nessa nova versão ao vivo, assim como “One Of These Days”, uma das canções mais tocantes do repertório de Neil Young (“One of these days / I’m gonna sit down / And write a long letter / To all the good friends I’ve known / And I’m gonna try / And thank them all / For the good times together / Though so apart we’ve grown”), e que perdeu o acento country originário para ficar muito mais emotiva (e bonita).
E assim “Dreamin’ Man Live’92” (lançado apenas lá fora no mês passado) se sucede, com canções que, se não se transformaram em grandes sucessos, são clássicos particulares de muita gente, como “Such a Woman” (apenas com o piano de Young), “You And Me” (que ganhou um andamento mais rápido do que no disco de estúdio), “Hank To Hendrix” (a bela homenagem do canadense a alguns de seus heróis), “War Of Man” (a premonitória canção em uma nova versão, no mínimo, arrepiante) e “Old King”, esta última apenas com a voz e o singelo banjo de Neil Young.
“Dreamin’ Man Live’92” não chega a ser um álbum essencial na obra de Neil Young. O original de estúdio, “Harvest Moon”, é mais importante, por motivos óbvios. Mas o “novo” disco ao vivo do cantor e compositor canadense é absolutamente indispensável para os fãs que não se contentam com apenas a versão de estúdio. Até mesmo porque eles sabem que Neil Young, em cima do palco, é capaz de fazer renascer uma canção de modo surpreendente. Coisa que vem da alma. Coisa de gênio. Os seus fãs entendem. E agradecem.