Arquivo do dia: janeiro 9, 2010

Neil Young: velhas canções renascidas

CD: 'Dreamin' Man Live '92' (Neil Young) - Velhas canções renascidas

Em 1990, Neil Young colocou nas lojas o álbum “Ragged Glory”, um dos mais pesados de sua carreira, gravado ao lado da sua fiel banda Crazy Horse. No ano seguinte, foi a vez dos igualmente pesados “Weld” e “Arc”, registrados durante a turnê de lançamento de “Ragged Glory”. Como já é de seu feitio, em 1992, Neil Young resolveu dar uma virada de 180º, ao retornar a Nashville e lançar o acústico “Harvest Moon”, uma espécie de continuação do celebrado “Harvest”, lançado em 1972. Inclusive, parte do Stray Gators (banda formada por Ben Keith, Kenny Buttrey e Tim Drummond, e que acompanhou Young em 72), voltou para dar uma força em “Harvest Moon”, que se tornou, com todo merecimento, um álbum quase tão celebrado quanto “Harvest”.

“Harvest Moon” originou uma turnê solo de Neil Young, na qual o multi-instrumentista canadense cantava e tocava violão, banjo, gaita e piano. Mais uma virada após a barulhenta turnê com a Crazy Horse em 1990/91. E é esse show que está registrado em “Dreamin’ Man Live’92”. O CD, curto e grosso, conta com as dez faixas de “Harvest Moon” em 55 minutos de duração. E nada mais.

E nem era necessário. A delicadeza do álbum originário de estúdio ficou ainda mais latente nesse “Dreamin’ Man Live’92”, que dá continuidade ao mega-projeto “Archives”, de Neil Young. Com simplicidade, as canções de “Harvest Moon” ficaram ainda melhores ao vivo, de forma que é possível entender melhor as suas melodias. Sofisticado e simples ao mesmo tempo. Poderia ser melhor?

Um bom exemplo é a própria faixa-título, que ficou mais crua nessa nova versão ao vivo, assim como “One Of These Days”, uma das canções mais tocantes do repertório de Neil Young (“One of these days / I’m gonna sit down / And write a long letter / To all the good friends I’ve known / And I’m gonna try / And thank them all / For the good times together / Though so apart we’ve grown”), e que perdeu o acento country originário para ficar muito mais emotiva (e bonita).

E assim “Dreamin’ Man Live’92” (lançado apenas lá fora no mês passado) se sucede, com canções que, se não se transformaram em grandes sucessos, são clássicos particulares de muita gente, como “Such a Woman” (apenas com o piano de Young), “You And Me” (que ganhou um andamento mais rápido do que no disco de estúdio), “Hank To Hendrix” (a bela homenagem do canadense a alguns de seus heróis), “War Of Man” (a premonitória canção em uma nova versão, no mínimo, arrepiante) e “Old King”, esta última apenas com a voz e o singelo banjo de Neil Young.

“Dreamin’ Man Live’92” não chega a ser um álbum essencial na obra de Neil Young. O original de estúdio, “Harvest Moon”, é mais importante, por motivos óbvios. Mas o “novo” disco ao vivo do cantor e compositor canadense é absolutamente indispensável para os fãs que não se contentam com apenas a versão de estúdio. Até mesmo porque eles sabem que Neil Young, em cima do palco, é capaz de fazer renascer uma canção de modo surpreendente. Coisa que vem da alma. Coisa de gênio. Os seus fãs entendem. E agradecem.

Luiz Felipe Carneiro/SRZD

Rádio Cabelo FM

jb
Se existe o Papai Noel, ele não sai de Brasília, sabemos, diante de tantas bondades no Congresso. E presenteou também o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), o Cabelo, o suplente de Hélio Costa que há anos ocupa o plenário. Na sessão de 9 de dezembro da Comissão de Ciência e Tecnologia, o senador embargou o projeto de decreto legislativo nº 422, de 2006, que concedia uma rádio FM para São Gonçalo, cidade onde sua família mantém uma grande universidade particular.

A decisão beneficiou a segunda colocada no processo de concessão, a Rádio FM Mania Ltda. Os sócios dessa rádio levam o sobrenome Salgado de Oliveira, o mesmo de Wellington, o Cabelo. Procurado por telefone, o senador não retornou.

Tudo em casa

Uma das sócias da rádio Mania é diretora de um colégio em São Gonçalo, que funciona como campo experimental da Universidade Salgado de Oliveira, da família de Wellington.

Cerco furado

O episódio rendeu uma denúncia contra o Cabelo no Conselho de Ética do Senado. O Conselho de Ética do Senado é aquele que não tem mais membros, diga-se de passagem.

Audiência máxima

Curiosidade, a maioria dos membros da Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação, que cuidam das concessões, são donos de emissoras de rádio ou TV.

InformeJB

Li gostei e colei: “Mas nem parece África!”


Tá no Blog do Ricardo Freire

Pingüins em Boulders Beach

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Agora entendi. Quando o presidente Lula visitou Windhoek, a capital da Namíbia, e proferiu sua famosa gafe – “Mas nem parece África!” –, ele não estava querendo ofender nenhum africano. Aquilo foi apenas uma pequena autocrítica, provavelmente em nome de todos nós. Quando Lula disse “Mas nem parece África”, o que ele realmente quis dizer era: “Mas nem parece o Brasil!”.

Ao visitar minha primeira cidade branca no sul da África, duas coisas me vieram à mente. A primeira: não existem cidades brancas no Brasil. A segunda: não existem brancos no Brasil.

Eu já saí do Brasil sabendo que o Rio de Janeiro (ou qualquer outra de nossas grandes cidades) se revelaria uma cidade bem mais africana que a Cidade do Cabo. Eu só não estava preparado é para encontrar uma cidade tão, sei lá, suíça. Não há nenhum vestígio de Terceiro Mundo na Cidade do Cabo – nem aqueles que a gente já se acostumou a ver em Londres, Nova York ou Paris. Está bem: há guardadores de carros (muitos). Há pedintes (alguns). Mas nenhum está sem camisa, de bermudão e chinelo. E além do mais, o cenário em volta é tão certinho, tão limpinho, tão organizado, que parece que eles não são daqui – mais ou menos como os africanos que vendem bolsas Vuitton falsas nas ruas da Itália.

Camps Bay

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Você pode passar semanas inteiras na Cidade do Cabo sem se dar conta que está na África. A parte central da cidade tem um quê de São Francisco. As praias do Atlântico poderiam estar na Califórnia. No lado da península banhado pelo Índico, os vilarejos praianos mais antigos poderiam estar em Cape Cod ou na Cornualha – se em Cape Cod e na Cornualha fizesse esse sol que faz aqui no verão. Na bela região dos vinhedos, a apenas 45 minutos do centro da cidade, as novas construções não seguem mais o estilo colonial holandês, para forçar ainda mais uma bem marqueteada identificação com a Provence.

(E sobre as tais semelhanças entre a Cidade do Cabo e o Rio? Ah, sim: tem duas. Um bondinho e um montanhão.)

O Cabo da Boa Esperança, que dá nome à cidade

Em nossa pousada no bairro de Tamboerskloof – a Cidade do Cabo está repleta de pousadas bacanas instaladas em charmosos casarões vitorianos – conhecemos dois brasileiros que vêm para cá há mais dez anos. Os dois ficaram chocados com a nossa insistência em procurar o lado africano da cidade. Como assim, comer comida local? Como assim, procurar um restaurante malaio-do-Cabo? Como assim, fazer um passeio à favela?

Bem que o Rio podia ter umas pousadas que nem essa nossa em Tamboerskloof.

Assim que eu percebi que dava para passar semanas a fio na Cidade do Cabo sem perceber que se está na África, morri de rir. Porque me dei conta de que é impossível alguém passar 15 minutos no Brasil sem perceber que está no Brasil. E a razão é simples. Não há brasileiro – nem em Curitiba, nem em Gramado, nem mesmo em Blumenau – que seja suficientemente branco para disfarçar a nossa avacalhação. Não importa a cor da pele, somos cultural, intelectual e moralmente coloured. Graças a Deus.

Clifton

Da próxima vez que vier, vou seguir o conselho dos brasileiros que conheci por aqui. Vou aproveitar o tempo firmíssimo dessa época do ano (o clima aqui não é subtropical, é mediterrâneo) para torrar em Clifton. (Mas não vou entrar na água, porque a 11 graus ela só é própria para pingüins.)Vou reservar os restaurantes da moda com antecedência e só pedir os vinhos dos produtores certos. Vou alugar um carro e aprender a dirigir na mão esquerda (o transporte público aqui não existe, e o táxi é caríssimo.)

E quando quiser curtir o melhor da África, é fácil: pego o primeiro avião para o Brasil.