Em 1857 é a vez do pintor francês Leon Scott inventar o Fonautógrafo, um aparelho que regista o som, mas que não o reproduz. Leon Scott teve a ideia de gravar o som como uma série de linhas sinuosas. O seu aparelho era constituído por um funil com uma membrana esticada na extremidade estreita, no centro desta membrana estava fixada uma cerda de Porco, o estilete. Este estilete roçava contra uma folha de papel escurecida com fumo enrolada num cilindro que se movia manualmente, as vibrações do som faziam mexer o estilete inscrevendo o som no papel, a máquina não podia era reproduzir o som gravado.
Vinte anos depois da experiência de Leon Scott, a 18 de Abril de 1877, Charles Cros entregou na academia das Ciências Francesa um pacote selado contendo um projecto para um sistema de gravação e reprodução sonora. Charles Cros chamou-lhe “Paléophone”.
A 18 de Agosto de 1877, o inventor americano Thomas Alva Edison conseguia levar a experiência de Scott mais além, ao reproduzir o som gravado, chamou ao seu invento “Fonógrafo”.
Edison fez a primeira gravação com o célebre poema “Mary has a little lamb”. Houve entretanto uma certa polémica em torno destes dois inventores pois as suas máquinas eram semelhantes e baseadas no modelo de Leon scott. A paternidade da primeira gravação acabou sendo atribuída a Edison.
O Fonógrafo era constituído por um cilindro giratório em torno do seu eixo, este cilindro era accionado manualmente por uma manivela de progressão axial por sistema de parafuso.
No ano seguinte Edison melhorou a sua invenção substituindo o papel por uma folha de estanho, e separando o estilete de gravação do da reprodução.
Os cilindros de Edison tinham uma duração limitada 3 a 4 utilizações além do mau som e curta duração das gravações, cerca de um minuto.
No entanto até 1912, este foi o sistema que Edison colocou no mercado, cuja propaganda estáva fortemente vinculada às possibilidades de gravação doméstica. É um desses modelos que está presente no seguinte episódio narrado pelo escritor Oswald de Andrade nas suas memórias:
“Numa soiré em casa dele, nessa chácara imensa, foi-me apresentado o fonógrafo: – É uma coisa que a gente põe um fio na orelha e ouve! Minha mãe fez questão que eu comparecesse a essa apresentação da espantosa descoberta: – Uma coisa que roda e a gente escuta tudo! […] De fato, fiquei impassível e nada exclamei quando me apresentaram a pequena máquina, onde um cilindro de cera negra em forma de rolo despedia sons musicais através de fios que a gente colocava nos ouvidos. Depois de exibida a invenção norte-americana – de Thomas Edison! – dizia, encarecendo-a, passou-se a gravar um disco virgem.”
As possibilidades abertas pelo fonógrafo também provocaram a imaginação do escritor francês Guillaume Apollinaire, que chegou a gravar alguns poemas na Sorbonne, em 1913; limitações técnicas, no entanto, impediram a exploração das suas ideias. Em 1917 afirmou que “um poema ou uma sinfonia composta com o fonógrafo poderia muito bem constituir-se de ruídos artisticamente escolhidos e misturados ou justapostos de forma lírica.”
Em 1886, Chichester Bell, primo de A. G. Bell o inventor do telefone, e Charles Sumner Tainer registaram a patente de um fonógrafo aperfeiçoado a que chamaram Gramofone, e onde substituíram a folha de estanho por um cilindro de cera mineral, o ozocerito, e o estilete de aço por um de safira em forma de goiva.
O passo seguinte é dado por Emile Berliner, um imigrante americano de Hanover, em 1888, este inventor mudou a forma dos cilindros para discos planos de 33 cm de diâmetro e 6,4 cm de espessura.
Enquanto se gravava sons em cilindros e discos o dinamarquês Valdemar Poulsen patenteia, em 1898, o primeiro sistema de gravação magnético o “Telegraphone”.
Na máquina original a gravação era feita em fio de aço do género usado para os pianos. O arame saía de um carreto onde estava enrolado e passava por um electroíman que o magnetizava segundo um padrão que variava de acordo com os sons captados por um microfone, enrolando-se noutro cilindro.
Para reproduzir o som gravado era só passar o arame magnetizado pelo electroíman e por indução magnética geravam-se correntes eléctricas que eram transformadas no som original nos auscultadores.
Este sistema, embora melhorado dao longo dos anos, manteve-se até aos anos 40, quando foi substituído pela fita de plástico revestida a oxido de ferro.
A máquina de Poulsen ganhou o Grande Prémio da Exposição Mundial de Paris em 1900.
A concorrência entre os Cilindros e os Discos atingiu o auge na viragem do século XIX para o século XX, acabando o Cilindro por ser totalmente derrotado em 1905, quando os Irmãos Pathé adoptaram o Disco.
Nestes primeiros tempos as gravações eram muito demoradas pois cada cilindro ou disco era gravado individualmente, ou seja, para fazer dez discos o artista tinha de cantar dez vezes.
Esta situação terminou em 1892 quando Emile Berliner passou a usar um disco original para se fazer outros. Aqui o artista só precisava de cantar uma vez, para fazer vários discos. Com esta nova técnica os discos passaram a ser prensados com o recurso a matrizes, obtidas por galvanoplastia num composto à base de goma-laca, e que se manteria em uso até ao aparecimento da microgravação em 1943.
Em 1907, a Columbia Gramophone apresenta ao público pela primeira vez, um disco de dupla face e com a espessura de um centímetro. Esta novidade era tão espectacular, que a Columbia deu ordens aos seus vendedores para atirarem os discos ao chão, para provarem que eram inquebráveis.
Os avanços técnicos sucedem-se e os discos vão aumentando de tamanho. Discos de 50 e 60 cm de diâmetro, com cerca de 15 minutos de duração, são comuns em 1910.
Os laboratórios Bell experimentam em 1919 o registo eléctrico, gravações obtidas electricamente através de um microfone, em vez de um vocal, e o primeiro “pick-up”, testado por Lionel Gurt e H. Merriman. O “pick-up” é a célula fonocaptora e compõe-se de uma ponta, a agulha, e um sistema conversor. O sistema conversor aproveita as variações introduzidas no campo magnético de uma bobine condutora, produzindo pequenas correntes eléctricas, que ao serem amplificadas reproduzem o som original.
Os Gramofones estariam em moda até finais dos anos 20, altura em que apareceram os primeiros gira-discos eléctricos.
A gravação em disco era prática comum, mas paralelamente a gravação magnética ia-se impondo para outros fins que não o de fazer discos.
Desde que Poulsen inventou o “Telegraphone”, que as melhorias foram muitas, mas ao chegar a década de 30, ainda se gravava em fio de aço e este ainda se manteria em uso, em muitas estações de Rádio, até aos anos 40.
A firma inglesa Electric & Musical Industries, mais tarde EMI, inventou em 1933 as gravações estereofónicas, gravando alguns discos de 78 rotações por minuto.
Após a II Guerra Mundial o Vinil iria sobrepor-se à goma-laca, o material de que eram feitos os discos há mais de 50 anos, e este novo material permitia que os sulcos dos discos fossem mais estreitos, o que poderia reduzir a velocidade e aumentar a duração dos mesmos tocando cerca de 23 minutos de cada lado a 33 1/3 rpm.
Este novo disco foi introduzido pela Columbia e recebeu o nome de Long Playing ou simplesmente LP.
A gravação manteve-se praticamente inalterável durante uma década, os estúdios gravavam em bobines de fita magnética em Mono e depois passavam a uma matriz, que faria vários discos de vinil iguais, para serem distribuídos por pontos de venda.
Só em 1958 é que o panorama musical muda com a introdução de discos de 45 e 33 1/3 rpm, estereofónicos.
A firma americana Audio Fidelity e as firmas inglesas Decca e Pye foram as primeiras a introduzir este género de disco no mercado, 25 anos depois dos primeiros discos estéreo de 78 rpm da EMI.
A década de setenta traz uma novidade à gravação: a quadrifonia. Este sistema grava quatro sinais de som independentes. Pretendia-se com esta solução criar um ambiente mais realista, colocando 4 altifalantes em torno do ouvinte.
Devido aos altos custos de produção e das aparelhagens reprodutoras o sistema foi abandonado só sendo feitas umas poucas gravações.
O LP “Exposed”, de Mike Oldfield foi um desses raros exemplos, gravado ao vivo, dispunha de uma tecnologia (SQ) que permitia ouvir em quadrifonia mesmo a partir de uma fonte estéreo, usando um dispositivo de descodificação. Mas mesmo o SQ não teve grande aceitação pelo mercado de consumo.
A morte anunciada
Em finais da década de 70 a Sony e a Phillips aliaram-se para desenvolver um disco digital de apenas 11,5 cm de diâmetro e com a duração de uma hora de um só lado.
Em 1983, começou a comercialização deste suporte digital com o nome de Compact Disc, ou simplesmente CD.
O CD era anunciado como o “som superior e eterno”, pois os fabricantes apregoavam que o disco não sofria de desgaste, não era tocado por nenhuma agulha como no vinil, e por ser digital o som era de “superior qualidade”.
Dez anos depois, o CD, ainda não se tinha conseguido impor, pois a qualidade do som era inferior ao disco de vinil, sofria dos mesmos problemas de manuseamento, era preciso ter cuidado para não riscar a face gravada, e para terminar até os leitores sofriam de “microfonia”, ou seja de captar as vibrações da energia acústica emanada pelas colunas, tal e qual uma agulha de gira-discos.
O CD acabou por se impor não pelas suas “qualidades” mas porque simplesmente era mais barato fabricar CDs do que discos de Vinil. Os velhinhos LPs deixaram de ser fabricados em massa, no inicio dos anos 90.
A Fénix renascida
Num cenário de desolação em relação ao CD e ao digital em geral, muitos (e não só os audiófilos) voltaram a colocar em funcionamento o velho gira-discos e foram ao sótão buscar os velhinhos discos de Vinil.
Este movimento de adesão ao Vinil não tem parado de crescer, com novos equipamentos e novos discos de Vinil a sair regularmente, facilitando a vida a todos aqueles que procuram reencontrar a beleza do som puro, sem os problemas do CD ou a escassez de emissões de álbuns em DVD-A ou SACD.
Os fabricantes iniciaram então uma lenta mas constante criação de novos modelos de gira-discos, tecnologicamente mais evoluídos, recorrendo a novos materiais, e nunca como hoje se conseguiu um grau tão grande de qualidade e precisão mecânica nos seus diversos componentes, desde os rolamentos e pontos de apoio, às suspensões, aos braços de alta rigidez e de baixíssima ressonância, e às novas células e agulhas MM e MC de baixa distorção e altíssima qualidade sonora.
O vinil está bem vivo e pronto para continuar a competir com os formatos digitais, ocupando um espaço priveligiado nas discotecas e colecções de quem já percebeu que este é o melhor som.
aminharadio. Do rolo de cera ao vinil (2007).
PS:
De volta por um fio |
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O Prêmio Grammy deste ano para Melhor Álbum Histórico foi para a equipe de Kevin M. Short, matemático da University of New Hampshire, e o engenheiro de som Jamie R. Howarth. Como você pode ver na Scientific American Brasil de junho, eles conseguiram restaurar uma frágil gravação ao vivo de 1949 do legendário cantor de música folk Woody Guthrie, de sons em fio magnetizado. A técnica desenvolvida para a restauração explora de forma inteligente os ruídos de fundo da gravação. |