Maristela Bairros no Coletiva Net
Entrevero na cultura local
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Fim de mês movimentado este, de fevereiro de 2010, para as áreas de cultura e comunicação ditas “institucionais” do Rio Grande do Sul. No Palácio Piratini,maisum assessor responsável pelo trânsito de Yeda Crusius junto às mídias saiu.
E nas tais “coisas culturais”, três bochinchos sacudiram a poeira destes pagos: o fechamento da sala de cinema Norberto Lubisco, abrigada na Casa de Cultura Mario Quintana, a deselegante exoneração de Voltaire Schilling da direção do Memorial RS, e a notícia de que a Cavalgada do Mar matou dois cavalos à míngua e deixou outros 15 doentes.
Nestes três “eventos” de (contra)cultura está a assinatura de Mônica Leal, aliás ela própria uma deslumbrada amazona que relatou sua experiência no twitter e no seu blog em que ela afirma: cavalgar sempre.
Pois talvez por estar tão assoberbada, a titular da Sedac não tenha tido tempo de falar nada, nem no seu twitter, nem no seu blog, nem aos veículos de comunicação locais sobre as decisões mais recentes envolvendo a mudança da TVE para o Centro Administrativo e da possível aliança da emissora com a TV Brasil. Pelo que foi publicado aqui no Coletiva, por enquanto, a dobradinha está garantida. Tenho me manifestado, principalmente neste espaço, sobre a questão e defendido minha tese particular de que o interesse da EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) pela TVE é político e visa a ter uma ferramenta midiática em mãos para o ano eleitoral. Um amigo petista, em conversa informal, negou interesses do PT durante as prévias e a campanha, mas deixou escapar: “Quando Dilma e Tarso tiverem ganhado, claro que sim, vai ser uma televisão aparelhada”.
Enviei, então, três questões para Ricardo Azeredo, atual presidente da Fundação Cultural Piratini, e para a EBC, via meu colega de início de carreira José Roberto Garcez: 1) a que vc credita o interesse da TV Brasil pelo prédio em que a TVE ficou durante tantas décadas justo agora, que haverá eleição, para presidente e para governador?; 2) em algum outro momento houve manifestação do governo federal querendo a retomada do prédio e pretendendo dar uma ajuda à TVE?; 3) o que, efetivamente, a TV Brasil poderia fazer pela TVE, caso houvesse um acordo? quais a vantagens reais de uma parceria?
Luis Henrique M. dos Anjos, assessor jurídico da EBC e responsável pelo braço sul da empresa, respondeu. Disse ele que, desde a criação da TVBrasil, em abril de 2008, foram feitas tentativas de aproximação com a TVE atendendo ao que ele designa “estatuto de relacionamento entre as emissoras do campo público de televisão que tivessem interesse em compor a Rede Nacional de Comunicação Pública – RNCP/TV, nos termos da Lei 11.652/2008.” E acrescentou: “a EBC conversou com todos os Presidentes da Fundação Piratini, gestora da TVERS, nesse período, expondo o interesse na formação desta parceria. Também o Secretário de Comunicação da época, Paulo Fona, foi informado sobre a vontade da EBC de estabelecer um relacionamento com a TVERS. Chegamos ao final de 2009 na seguinte situação: em todos os estados da Federação em que há emissora educativa no ar, há essa parceria instituída pela EBC, menos no RS.”
Henrique conta, ainda, que uma pesquisa solicitada pela EBC junto ao instituto Datafolha, em outubro passado, apontou, entre outros dados, que, devido à falta de sinal, o Rio Grande do Sul é o Estado que menos conhece a TV Brasil e tem o menor hábito de assisti-la. “Como a Lei da EBC prevê a sua existência em todas as regiões do Brasil e um de seus objetivos é o de ter a maior audiência possível, a EBC decidiu instalar sua sede própria em Porto Alegre, sobretudo pela grande oportunidade que surgiu no final do ano de 2009, quando o INSS cumprindo sua legislação de regência e determinação do TCU, disponibilizou para venda o prédio da Rua Corrêa Lima.” A recusa da Fundação gaúcha em comprar o prédio que ocupa teria levado a EBC a decidir fechar este negócio que, afirma Henrique, surgiu apenas quando foi anunciado, em 26 de novembro de 2009, que o prédio estava à venda.
O lucro da TVE com a união estaria em o canal gaúcho passar a integrar a Rede Nacional de Comunicação Pública/TV, “como já foi ofertado a todos os presidentes da Fundação Piratini desde 2008, tendo tido resposta negativa por escrito pelo atual presidente em abril do ano passado”. Já a permanência da emissora no morro de Santa Teresa teria sido registrada no ofício enviado à Yeda “independentemente de qualquer acordo de rede (e compartilhamento de programação), pois neste momento a EBC não ocupará integralmente o prédio em processo de aquisição” e, ainda,
Acredita Henrique que, dividindo fisicamente o mesmo espaço, as duas emissoras poderão executar ações cooperadas em vários setores e que, “se um dia a TVE resolver ingressar na RNCP/TV, contará com os benefícios de que desfrutam as emissoras associadas, segundo a norma que prevê os contratos de rede, tais como aporte para a produção de programas e de conteúdos jornalísticos”. No caso da TVE, teria sido oferecido apoio financeiro à produção do programa infantil Pandorga, cujos programas antigos seriam transmitidos nacionalmente enquanto os novos passariam a ser produzidos com o investimento de R$ 500 mil da EBC. “Outro contrato que a EBC assina com todos os parceiros do qual a TVE também poderia ser beneficiária prevê o repasse de R$ 25 mil por mês para produção local de conteúdo jornalístico para utilização em rede nacional pela TV Brasil.”
Outra fonte da EBC, inteirada de todo o processo, afirmou a esta coluna que as negociações foram brecadas na gestão de Luiz Fernando Moraes, que sucedeu a Flávio Dutra, quando da mudança de governo, embora, na época, o secretário de Comunicação de Yeda Crusius, Paulo Fona, tenha se manifestado favorável à aliança. “Luiz Fernando, creio que impregnado pela nossa tradição divisionista, entendeu que a proposta era uma tentativa do PT de tomar conta da TVE”, afirma a fonte, que acrescenta ter ainda havido progressos quando Airton Nedel esteve à frente da presidência, inclusive com confecção de grade de programação conjunta. “As negociações foram retomadas com Ricardo (Azeredo) que, em maio do ano passado, escreveu dizendo que havia uma ordem de não fazer acordo conosco.”
Quanto à Azeredo, pediu desculpas, via mail, por não ter respondido à coluna no período de oito dias, alegando ter passado “por situações que não convém relatar”. Lamentavelmente, não aproveitou o gentil mail de escusas para dirimir as dúvidas da pauta que tinha em mãos.
Quanto a esta coluna, fica agora no aguardo do andar da carruagem para ver se, cumprido o ritual de acasalamento , o público gaúcho, bem como os bons profissionais que atuam na TVE e não fazem da emissora plataforma para politicalha ou lances corporativos e sindicais, sejam valorizados e respeitados comme il faut.
maristelabairros@gmail.com
Jornalista já atuou como redatora, repórter, editora e crítica de teatro nos principais diários de Porto Alegre, colaboradora de revistas do Centro do País e foi produtora e apresentadora nas rádios Gaúcha, Guaíba AM, Guaíba FM e Rádio da Universidade, assessora de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e da Fundação Cultural Piratini
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