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ARTIGO: Os não leitores de Jack London

Li e recomendo:

Em terras brasileiras, a bandeira da literatura é semelhante a do ensino público. Esfarrapada, em 500 anos, nunca foi prioridade nacional hasteá-la com louvor. No entanto, que se proclame a verdade.

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Cristiano Bastos

jl[1]É DURO SER CATEGÓRICO COMO UM GOL DE PLACA e admitir que o hábito da leitura está perdendo grandes extensões territoriais para outras distrações mais “fáceis” no turbilhão agitado da vida das crianças, dos adolescentes e dos adultos modernos.

De fato, entre o povo brasileiro, a literatura nunca carregou porta-estandarte da mesma estatura que o futebol, cuja predileção sempre será soberana.

O Brasil não é a França, onde os índices de leitura chegam a sete livros por habitante/ano. Nossa média é de 1,8 livro. Não é por essa razão, certamente, que nos orgulhamos do Brasil e o amamos: nação banguela e cariada que, contudo, não deixa de sorrir à boca larga.

Em terras brasileiras, a bandeira da literatura é semelhante a do ensino público. Esfarrapada, em 500 anos, nunca foi prioridade nacional hasteá-la com louvor. No entanto, que se proclame a verdade. A “literatura”, consegue, sim, aproximar-se das multidões, todas às noites, quando vai ao ar mais um eletrizante capítulo da interminável saga maniqueísta travada pelos seres humanos nos folhetins eletrônicos – scriptum post scriptum, ano após ano.

Consegue lembrar quando foi a última vez que você parou pra conversar com um adolescente pra falar sobre um livro?

Eu não. Grande parte dos adolescentes, se não está se bolinando em frente ao playstation, prefere fazer isso no banheiro, e não há nada de errado nisso. Os mais avançadinhos investem ações no rentável mercado da “pegação”. Não há leitura nesse mundo que desbanque o binômio diversão virtual/fricção carnal.

Fiquei meio chocado – mas nem tanto -, quando um amigo, homem crescido, jornalista, confessou-me que naquele ano não havia sequer folheado um livro. Não fazia questão de esconder, o tremendo safado, uma ponta de orgulho em sua revelação. Estava provando a si mesmo que não precisava de leituras e, aparentemente, parecia que estava ganhando a aposta. Curtia mesmo eram umas cervas. Grande parceria, mas duvido muito que tivesse pego em armas, quero dizer, copos, digo, livros, há anos.

Diversões infernais – O mundo de hoje é um parque de diversões satânicas difícil de escapar. Um livro, perto desse inferno lúdico, é a expressão do monótono – a significação perfeita para a maioria das pessoas que não tem saco para ler ou acham isso pura perda de tempo.

Se um jovem ficar sábado à noite em casa lendo Dom Casmurro, ao invés de “cair na balada”, provavelmente seus amigos vão dizer que ele é depressivo. Ou freak, e logo uma terrível fama se espalhará. Ele pode até virar um assassino em série, se viver nos Estados Unidos. No Brasil, corre o risco de ser chamado de mulherzinha, se o pegarem lendo O Reverso da Medalha, de Sidney Sheldon.

Podem te chamar do que bem entenderem, mesmo que leia Sidney Sheldon – o que eles nunca vão entender é que dedicação à leitura se paga com uma moeda às vezes cara, a solidão. O aspirante a grandes leituras, com preço muito maior: a misantropia. Ler é um destino ainda pior para as famílias que não têm dinheiro para as coisas mais básicas da vida, quanto mais para comprar – por tudo o que é mais sagrado – um livro. De estômago vazio não se passa da orelha do livro.

A reportagem “Um país de não-leitores”, publicada pela revista The Economist, em março de 2006, estapeava a cara de todos: “Leitura no Brasil é a vergonha nacional”. Segundo a matéria, que apresentou dados de 2000, muitos brasileiros não sabem ler. Até aqui, sem novidades.

Agora, o que mais impressiona: “Dos que sabem ler, muitos simplesmente não querem ler: apenas um adulto alfabetizado em cada três lê livros. O brasileiro médio lê 1,8 livro não-acadêmico por ano – menos da metade do que se lê nos EUA ou na Europa”, escancarava a reportagem.

The Economist também citou pesquisa recente sobre hábitos de leitura, na qual os brasileiros ficaram em 27º em um ranking de 30 países. De acordo com as pesquisas, no geral, gastamos 5,2 horas por semana com um livro, basicamente. Os argentinos, vizinhos, ficaram em 18º lugar na lista.

A revista ainda lembrou, alfinetando o monopólio dos meios de comunicação no país, que a Rede Globo, maior emissora de TV, também edita livros, jornais e revistas. Como se não bastasse…

A explicação para o descaso com a leitura, afirma a matéria da The Economist – fazendo a apuração jornalística que deixamos passar batido -, é que séculos de escravidão levaram os líderes da nação a negligenciar a educação.

No Brasil, a escola primária só se tornou universal na década de 90: “O rádio era presença constante já nos anos 30; as bibliotecas e as livrarias ainda não conseguiram emplacar. A experiência eletrônica chegou antes da experiência escrita”, explicou à The Economist o representante da Câmara Brasileira do Livro, Marino Lobello.

Se examinada com lente de aumento (e nem precisa colocar muito perto), a tal “experiência eletrônica” mencionada por Lobello delata, nas entrelinhas, muito sobre a precocidade que acomete atitudes dos jovens contemporâneos em várias áreas do comportamento.

De todo bom livro, mesmo o relato sobre a mais sórdida violência, exige-se um prefácio. A experiência eletrônica, contudo, não exige prefácio qualquer – “passa-se logo ao prepúcio”, parafraseando a zombaria de um amigo, literato, óbvio. A malandragem de hoje é puramente prepucial.

Desprefaciados – A mesma malandragem desprefaciada que não necessariamente ouve funk ou rock, mas engole mais drogas do que Hunter Thompson e os caras do Grateful Dead juntos, tudo numa noite só, como se tomar drogas fosse algum torneio disputado nas raves.

Perto das letras machistas do funk que estão na boca das multidões, o sexismo estereotipado da linguagem rock-and-roll, hoje mais do que nunca iletrado, ficou até meio démodé – embora o rock sempre retorne para cobrar seu dízimo de chauvinismo.

Mas todos os fenômenos produzidos em nossa sociedade, é preciso admitir, são culturalmente importantes – da escalada da violência ao blá-blá-blá antropológico do Big Brother, do BOP ao conteúdo das letras do funk.

O problema é quando, na grande cabeça ventricular da sociedade, esses fenômenos passam a ser códigos quase imperativos a serem compartilhados por todos. Indício claro de que alguma coisa vai muito errada. Não há dúvida de que alguma coisa vai muito errada.

Faz tempo!

Na obra A Importância do Ato de Ler, o educador Paulo Freire, ao seu estilo dialogante, narra os diferentes momentos em que a leitura aconteceu em sua vida. Ele diz que a leitura do “seu mundo” foi sempre fundamental, e não fez dele um menino antecipado em homem, “um racionalista de calças curtas”.

Freire conta que foi alfabetizado no chão do quintal de casa, à sombra das mangueiras, com palavras de “seu mundo” e não do mundo maior dos seus pais. O chão foi o seu quadro-negro; gravetos, o seu giz:

“A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. E foi com eles, precisamente, em certo momento dessa rica experiência de compreensão do meu mundo imediato, que eu comecei a ser introduzido na leitura da palavra”.

Aos leitores cabe a experiência na “leitura da palavra”. O importante é começar de algum ponto. Comigo, um desses momentos mais importantes aconteceu com a leitura do clássico de aventura Caninos Brancos (White Fang), do escritor norte-americano Jack London (1876-1916).

Livro que li pela primeira vez numa velha edição da Editora Globo, traduzida pelo introdutor de London no Brasil, Monteiro Lobato – arrematada por cinco reais em um sebo de Porto Alegre.

No post seguinte, não mais falo sobre essa relíquia (avariada pelas traças e caninos afiados do meu cão salsicha, o Guri), mas sobre o maravilhoso volume lançado pela Companhia Melhoramentos. Preparada originalmente pelas Éditions Gallimard, traz ilustrações de Phillippe Munch e comentários do professor de antropologia da Universidade Louis Lumière, de Lyon, e especialista em América do Norte, Philippe Jacquin.Caninos Brancos é a história de um lobo mestiço de cão que abandona a solidão gelada do extremo norte-canadense, o temível Wild, para ganhar a civilização.

Não tire o olho.

A aventura está apenas começando.

LIVROS: Obra de Stefan Zweig entra em domínio público

 

Apesar de ter vários livros publicados, o novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta e biógrafo austríaco Stefan Zweig ainda é pouco conhecido pelos brasileiros. Muitos repetem o sobrenome que Zweig deu ao Brasil, sem saber que é dele a autoria: “um país do futuro”. Em 2013, após ter completado 70 anos da morte do escritor, sua obra entra em domínio público, ou seja, qualquer editora poderá traduzir e publicar seus livros sem pagar direitos autorais. Com isso, os brasileiros ganham uma nova chance de explorar seu trabalho.
Traduzido para diversas línguas e com mais de 40 filmes baseados em sua obra, Stefan Zweig foi o principal autor a escrever biografias e novelas pelo viés da psicanálise. Quando publicou “Brasil, um País do Futuro”, um retrato um tanto ingênuo e otimista do país, foi taxado de simpatizante de Getúlio Vargas e do Estado Novo. Além dessa, “Maria Antonieta” e “O Mundo que Eu Vi – Minhas Memórias” são suas obras mais conhecidas.

Brasileiros não poderão mais comprar e-books na Amazon americana

Entenda como a gigante do varejo vai operar no Brasil

Amazon no BrasilSite em português já anuncia a comercialização do leitor Kindle

Amazon chegou oficialmente ao Brasil nesta quinta-feira. A novidade pode mudar não só os hábitos de novos consumidores por aqui, mas também alterar a rotina dos brasileiros que já fazem compras no site da Amazon nos Estados Unidos. Isso porque, segundo a assessoria de imprensa da companhia, os usuários que fizerem a migração de sua contas originais para o serviço brasileiro não poderão mais comprar livros digitais na loja americana. Nada muda, porém, em relação à aquisição de obras no formato tradicional, o papel. A versão em português do site da Amazon oferece 1,4 milhão de e-books, incluindo mais de 13.000 títulos em português, sendo que 1.500 deles são gratuitos.

Entenda como vai funcionar o serviço da Amazon no Brasil:

1. Já tenho perfil no site da Amazon no exterior. Posso usar o mesmo e-mail e senha no site brasileiro?
Sim. O acesso à Amazon Brasil acontece através do mesmo e-mail e senha cadastrados na Amazon dos Estados Unidos.

2. A migração de perfil acontecerá automaticamente?
Não. Para comprar qualquer livro na Amazon Brasil o usuário terá que fazer a migração do perfil.

3. Os livros comprados na Amazon dos Estados Unidos continuarão disponíveis no meu Kindle após a migração de perfil?
Sim. Todos os livros adquiridos através da conta americana continuarão disponíveis.

4. Posso comprar e-books na loja americana após a migração de perfil para o site brasileiro?
Não. Os usuários que migrarem suas contas para o site brasileiro só poderão comprar livros digitais na loja brasileira.

5. Sou assinante de edições digitais de jornais e revistas. O que acontecerá com minhas assinaturas após a migração? 
O serviço de assinaturas não está disponível no Brasil. Portanto, os assinantes de tais serviços não poderão mais acessar aqueles conteúdos após a migração. A Amazon providenciará o estorno do valor pago. O acervo das edições anteriores também ficará indisponível.

6. Comprei vídeos e músicas usando a minha conta americana. Após a migração, terei acesso a esses conteúdos?
Vídeos e músicas não estão contemplados no serviço brasileiro. Portanto, não estarão disponíveis após a migração. As músicas já adquiridas, contudo, poderão ser baixadas para o computador do usuário a partir do Cloud Player, serviço de armazenagem em nuvem da companhia.

7.  O que acontecerá com os aplicativos e games comprados na loja americana após a migração?
Tanto os aplicativos quanto os games estarão disponíveis após a migração de perfil. Serviços de assinatura continuarão disponíveis pelo período vigente, mas a renovação da assinatura só acontecerá se o recurso estiver disponível no Brasil. A oferta de assinaturas pode variar de país para país.

LIVROS: Fusão entre Penguin e Random House cria maior grupo editorial do planeta

A Bertelsmann, empresa alemã de mídia, e a Pearson, sua rival no Reino Unido, estão fundindo a Random House e a Penguin, suas respectivas editoras de livros, numa reação aos desafios surgidos com a revolução dos e-books. Marjorie Scardino, presidente da Pearson, disse que a nova empresa terá mais recursos para investir em publicações digitais, o que poderá incluir o desenvolvimento de uma plataforma virtual para vender livros diretamente aos consumidores ou a criação de um leitor eletrônico para enfrentar o Kindle, da Amazon.

Numa iniciativa que deve desencadear mais consolidação, as empresas anunciaram que 53% da Penguin Random House serão propriedade da Bertelsmann e os 47% remanescentes serão da Pearson, dona do “Financial Times”. Os dois grupos concordaram em conservar suas participações durante pelo menos três anos, depois dos quais a Bertelsmann deverá tentar ampliar sua fatia, de acordo com uma fonte.

A Bertelsmann é a maior multinacional de mídia da Europa e uma das cinco maiores do mundo. Em 2012, a Random House teve um sucesso especular com a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, de EL James, que só nos países de língua inglesa vendeu mais de 30 milhões de cópias – metade das quais em versão digital.

A multinacional alemã nomeará cinco diretores para o conselho da Penguin Random House; a Pearson será responsável por quatro.

“Nossa nova companhia reunirá a experiência de duas das mais bem sucedidas e sólidas editoras comerciais. Essa fusão vai criar uma casa editorial que dará aos funcionários, autores, agentes e comerciantes de livros acesso a recursos sem precedentes,” disse o novo diretor executivo da Penguin Random House, Markus Dohle.

VALOR

 

LIVRO: as cartas de amor de Fernando Pessoa

É uma edição da Assírio & Alvim (R$ 67,40, 368 págs., importado, na Livraria Cultura) e traz novidades. Além da inclusão de parágrafos omitidos na primeira edição das cartas de Ofélia, o livro inclui duas cartas inéditas da namorada de Pessoa.

Quando o heterônimo Álvaro de Campos escreve, em 1935, o poema “Todas as Cartas de Amor São Ridículas”, Fernando Pessoa já não namorava Ofélia Queiroz.

“Quem me dera no tempo em que escrevia/ Sem dar por isso/ Cartas de amor/ Ridículas.”, diz o poema. “A verdade é que hoje/ As minhas memórias/ Dessas cartas de amor/ É que são/ Ridículas.”

Pela primeira vez, nas livrarias portuguesas, encontram-se as cartas de amor de Fernando Pessoa (1888-1935) e de Ofélia Queiroz (1900-1991) reunidas em uma única edição e obedecendo a um critério cronológico.

Em 2013, como parte da programação do Ano de Portugal no Brasil, a obra será editada em nova versão pela brasileira Capivara. “O nosso livro sairá em maio com cerca de 170 cartas a mais e apresentará as cartas de Pessoa em fac-símile”, disse à Folha a editora Bia Corrêa do Lago.
Em Portugal as cartas do poeta foram publicadas pela primeira vez em 1978, e as de sua amada ganharam uma edição em 1996.Até a publicação da edição brasileira, a edição organizada pela acadêmica Manuela Parreira da Silva é a mais completa reunião das cartas trocadas entre o poeta e Ofélia.

Bia lembra que no prefácio dessa edição dos anos 1990 se dizia “que apenas 110 das 276 cartas enviadas por Ofélia estavam transcritas”. A edição brasileira terá as cartas que faltam nas edições portuguesas e que pertencem a seu marido, o colecionador Pedro Corrêa do Lago.

APAIXONADOS

Foi em novembro de 1919 que se conheceram, quando Ofélia tornou-se, aos 19 anos, secretária do escritório Félix, Valladas & Freitas, onde o autor de “Mensagem” trabalhava como tradutor comercial.

Foram trocando bilhetinhos até que em janeiro do ano seguinte, durante uma falta de luz no escritório, o escritor se declarou, citando “Hamlet”, contará ela mais tarde.

Nesta edição estão as 51 cartas que Pessoa escreveu a Ofélia Queiroz, entre março e novembro de 1920 (na primeira fase do namoro) e entre setembro de 1929 e janeiro de 1930 (na segunda fase).

“Os altos e baixos do ‘enredo’, as oscilações de humor, os ritmos ‘cardiográficos’ tornam-se, por assim dizer, mais fáceis de detectar numa edição como esta”, acredita a organizadora.

O casal marca encontros secretos, fala de problemas de saúde. E muitas vezes demonstra ciúmes.

Os dois brincam e falam como se fossem crianças, e Ofélia entra no jogo dos heterônimos do poeta.

Pessoa, no entanto, nunca quis ir à casa dela nem conhecer os seus familiares e também nunca falou da namorada à sua família.

Na carta que o escritor lhe envia para acabar com o namoro, em novembro de 1920, pergunta se ela prefere que ele devolva as cartas acrescentando que preferia conservá-las “como memória viva de um passado morto”.

Após o hiato de nove anos entre a primeira e a segunda fase do namoro, os dois voltam a corresponder-se por causa da fotografia que Pessoa lhe envia, tirada em 1929 num estabelecimento de bebidas de Lisboa, com um trocadilho na dedicatória: “Em flagrante delitro”.

MEMÓRIAS ÍNTIMAS

Tanto as cartas de Fernando Pessoa como as de Ofélia pertencem, neste momento, a colecionadores.

Por isso, a organizadora teve acesso a fotocópias dos originais, postas à sua disposição pelos herdeiros. As duas cartas inéditas incluídas na edição portuguesa, escritas por Ofélia em julho de 1920, faziam parte do conjunto.

“O motivo da não inclusão na primeira edição foi por vontade dos familiares de Ofélia. Creio que queriam preservar sua memória e evitar que a vida íntima da jovem fosse exposta. Interpretaram talvez erradamente as duas cartas e, por isso, preferiram que não fossem publicadas”, explica a pesquisadora.

Em uma dessas cartas, Ofélia diz a Fernando que lhe escreve da cama, de onde não se consegue levantar por estar doente.

Fala de uma “misteriosa doença”, e percebe-se que estará relacionada com seu período menstrual, tema ainda tabu na época. No final, ela pede que Pessoa rasgue a carta, coisa que ele nunca fez.

Passaram-se cerca de 15 anos, e a sobrinha-neta de Ofélia, com quem Manuela Parreira da Silva diz ter mantido uma excelente troca de ideias, achou que não fazia mais sentido não torná-las de conhecimento público.

“Afinal, elas tratam apenas de assuntos femininos, que o pudor de uma jovem de 20 anos impedia, naquela época, de abordar mais abertamente”, explica a pesquisadora portuguesa.

Lidas sem confronto com as da sua destinatária, as cartas de Pessoa pareceram a muita gente “meros exercícios literários”, o que explicará a ideia que se perpetuou de que o namoro entre os dois seria apenas platônico.

“Quando Fernando Pessoa escreve, a certa altura, que lembra com saudades da época em que ‘caçava pombos’, alguns leitores apressados imaginaram que se tratava de uma desconversa do autor, de uma brincadeira para provocar a sua namorada”, diz Parreira da Silva.

“Mas, ao conhecer-se a resposta de Ofélia, percebeu-se que, pelo menos, ela entrava na brincadeira, manifestando uma falsa perplexidade.”

A leitura cruzada de outras cartas confirma que Pessoa se referia aos seios da jovem, os “pombinhos” sobre os quais, em outro momento, diz deitar a sua cabeça.

Em outra carta, Pessoa escreve: “Queria ir, ao mesmo tempo”, à Índia e a Pombal.

“Se Pombal se torna agora uma metáfora transparente, a Índia permanece velada, sugerindo, obviamente, um outro ‘lugar’ menos acessível”, explica a investigadora.

Na correspondência do casal há outras referências, sobretudo de Ofélia, aos beijos e carícias trocados pelos dois e ao sentimento de júbilo e, às vezes, de saudade que essa recordação lhe provoca.

“Não creio, no entanto, que tenha havido entre os dois uma intimidade maior do que essa”, conclui.

“Enfim, foi, sem sombra de dúvida, um namoro comum, que irrita os que imaginavam que Fernando Pessoa tenha sido um homem incapaz de se relacionar com uma mulher. A verdade é que essas cartas reencontram um Fernando Pessoa como um homem muito normal, dentro da extrema anormalidade de ser um grande poeta”, acredita a especialista.

Fernando Pessoa deixou os sentimentos em segundo plano

 

FSP

 

Abusada por Polanski em 1977 vai lançar livro

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Samantha Geimer: revelações…

Uma das maiores polêmicas do mundo das celebridades há décadas ganhará um relato em primeira pessoa em breve. Isso porque Samantha Geimer, que ficou famosa como a adolescente que teria sido estuprada pelo diretor Roman Polanski em 1977, aos 13 anos, aceitou uma oferta feita pela editora norte-americana Simon & Schuster para escrever um livro sobre o que realmente aconteceu.

Intitulado “The Girl: Emerging From The Shadow of Roman Polanski”, o livro de Samantha, hoje com 48 anos, deverá ser lançado até o fim do ano. Nele, a autora afirma que quer se livrar da imagem de “garota vítima” que a persegue há anos. Vale lembrar que Samantha chegou a interferir em favor de Polanski para que o processo de abuso sexual aberto contra ele fosse arquivado, o que foi negado pelas autoridades dos Estados Unidos. Em tempo: para contar seu lado da história, Samantha recebeu um adiantamento de quase US$ 4 milhões da Simon & Schuster.

Revista Poder

Livro “As Cartas de John Lennon” chega às lojas hoje

Em 1968, John Lennon deixou George, Paul e Ringo constrangidos ao lançar o disco “Unfinished Music No. 1: Two Virgins”. Na capa, em cima de uma nobre frase encomendada a Paul McCartney, “Quando dois santos se encontram, a experiência nos faz mais humildes. A longa batalha para provar que ele era um santo”, John e Yoko se abraçavam, nus. Dentro, gravações experimentais tão subversivas quanto a arte que as envolvia indicavam o início de uma fértil carreira solo. “Two Virgins” chegou às lojas dez dias antes do lançamento do “White Album”, e o choque provocado pela capa, não só entre os Beatles, mas no mundo inteiro, é caso de estudo nas enciclopédias do rock.

É também um retrato da multifacetada personalidade de John Winston Lennon, nascido em 1940, em Liverpool, e assassinado em Nova York, em 1980. Ao mesmo tempo em que foi um balde de lama na imagem da banda mais querida do mundo (jogado por um criador cansado de aturar as falsidades inerentes à projeção de uma carreira internacional), o nu de “Two Virgins” pode ser visto por diversos ângulos: uma brilhante tacada de autopromoção, uma pura e inocente declaração de amor, um grito autodestrutivo, um vil surto em sua já deteriorada relação com Paul McCartney, ou apenas um trabalho vanguardista de um dos gênios do século 20. Não há resposta errada, e isto faz de John Lennon o Beatle mais complexo e, no olhar de muitos, o mais interessante.

Estes vários Johns – o gênio, o beberrão, o misantropo, o romântico inveterado, o mártir, o marido submisso – ganham vida em “As Cartas de John Lennon”, coleção completa de sua correspondência que chega às lojas nesta terça-feira, no dia em que John completaria 72 anos. A coleção, concebida por Hunter Davies, o único biógrafo autorizado dos Beatles, é em parte um agrado aos beatlemaníacos, em parte o retrato de uma das personalidades mais cativantes da história do rock. Entre suas pérolas estão as cartas que um apaixonado e carente John trocava com futura esposa, Cynthia, enquanto os Beatles aperfeiçoavam suas canções na zona de baixo-meretrício de Hamburgo; uma perversa troca de farpas com Paul McCartney depois do fim do grupo; e veementes cala-bocas em críticos, ativistas e músicos.

A primeira coisa a vir à tona são as complicadas relações que John tinha com as mulheres. Sem pai, órfão aos 18, John encontrava a salvação – ou a perdição – nos braços de mulheres como Cynthia Powell, seu primeiro grande amor, para qual escrevia, ainda aos 18 anos, cartas de amor adolescente. Uma delas ocupa uma página inteira com a frase I Love You, que tem o mesmo tipo de paixonite de outra carta, escrita anos depois, quando John já se separara de Cynthia e casara-se com Yoko, em que uma série de perguntas de uma revista holandesa, sobre cantores, filmes, cores e hábitos é respondida com a palavra “Yoko”, e as respostas de Yoko com a palavra “John”. Os desenhos de John e Yoko, e de Cynthia e John também costuram a narrativa do artista apaixonado, pronto para entregar sua autonomia a mulheres fortes.

As brigas com Paul McCartney depois que os Beatles se separaram, em 1970, têm um capítulo próprio. Neste se encontra a carta mais impressionante do livro. John dispara contra Paul e sua mulher, Linda: “Eu espero que vocês percebam a merda que vocês e o restante dos meus amigos ‘amáveis e abnegados’ jogaram em Yoko e em mim, desde que estamos juntos. Nós dois ‘nos elevamos acima disso’ algumas boas vezes – e perdoamos vocês dois -, então é o mínimo que podem fazer por nós, seus nobres. Linda – se você não liga para o que eu digo – cale a boca! – deixe Paul escrever – ou algo assim”.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Estudioso confirma: Shakespeare era bissexual

Um especialista em Shakespeare do Reino Unido confirmou que o histórico dramaturgo era bissexual, aconselhando as pessoas a superarem seus preconceitos em relação a este tema.
As declarações do professor Stanley Wells, presidente do Shakespeare Birthplace Trust, vieram a público depois que o ator Sir Ian McKellen, que é homossexual, afirmou em público que o dramaturgo teve relações com outros homens.
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Sir Ian afirmou que não há “nenhuma dúvida” que William Shakespeare teve relações sexuais com homens, o que gerou certa polêmica nas terras de sua majestade.
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Segundo o Professro Wells, Sir Ian não é “de maneira nenhuma” o primeiro a afirmar isso. E esclarece que a questão está clara há vários séculos, visto que há diversos sonetos de Shakespeare que são, inquestionavelmente, dirigidos a um homem.
“Shakespeare tinha três filhos e como tal é provável que não fosse exclusivamente homossexual. Mas ele pode ter amado tanto os homens como as mulheres.” disse. E brincou com a camiseta que o famoso actor do Senhor dos Aneis e X-Men usa em algumas situações: “Algumas pessoas são gays. Get over it!”.
A sexualidade de Shakespeare já é debatida desde o século XIX. Mesmo que não se baiba exatamente qual a identidade do jovem homem a quem os sonetos são dirigidos, não é posto em questão o fato que os alvos do amor transcritos nas palavras do autor são em alguns casos homens e noutros casos mulheres, reforçando assim a bissexualidade do autor.
Por outro lado na peça O Mercador de Veneza há uma relação entre o já envelhecido Antonio e o seu jovem companheiro Bassanio. Há também a paixão entre homens em Henrique V.

Escritores de Buenos Aires recebem pensão

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Caetano Veloso: “Quinze anos é a minha idade”

Linda a crônica de Caetano Veloso publicada dia 24 de junho, no Segundo Caderno do jornal O Globo 

 

Suponho que eu não gostava da infância. Lembro-me de muita impaciência e de uma quase permanente irritação contida. Havia alegrias — como desenhar caminhos de ferro com carvão no cimento imenso do quintal (nesgado de canteiros com arbustos às vezes floridos, num deles um araçazeiro, no do centro, maior, uma mangueira gigantesca) — por onde fazíamos viajar os trens feitos de ferros retangulares (…)

Havia mesmo felicidade nas horas passadas nos galhos altos da mangabeira (que é o que chamávamos de araçazeiro), achando araçás ainda não maduros, as cascas mostrando o entumecimento lento da maturação, movimento supostamente imperceptível mas nitidamente percebido por meus olhos atentos demais, prazerosos demais em sua adivinhação da resistência que a polpa da fruta ofereceria aos dentes antes de exibir seu sabor agridoce, seu travo e sua fresquíssima informação de vegetalidade.

E também na convivência com a grande malta da família, muitas mulheres e nenhuma briga aberta, minha mãe distante mas presta ao menor anúncio de lesão corporal, meu pai além dela mas comandando tudo. Todos os meus irmãos. Felicidade, sim. Em todos uma certa admiração divertida pelo que pareciam ser meus dotes especiais de memória, poder de aprendizado, lucidez.

Não tenho nada objetivo de que me queixar. Apenas fui crescendo com impaciência e vi que quem tinha 7 anos desprezava a condição de quem tinha 4, e quem tinha 12, a de quem tinha 7. Isso era Santo Amaro.
As marcas assustadoras, deliciosas da adolescência me assaltaram no Rio. Deixei de ser criança no ano que passei em Guadalupe. Até hoje, por mais que leia sobre as angústias da adolescência e a infinita felicidade da infância, noto antes a alegria que apresentam todas as pessoas que conheci ao deixarem de ser crianças. Crianças choram várias vezes por dia, comem, deitam-se para dormir e tomam banho na hora que os adultos mandam. Não ter autonomia não é sentido como algo que dê contentamento. Não quero negar os conflitos que deve haver — e há — no período da passagem. Mas, para mim, adolescentes são mais alegres do que crianças. Acho que sempre achei isso. Desde que era criança. Também quando era adolescente.

Percebi que a idade adulta traz ainda maior firmeza a esse gozo da autonomia, mas o florescer dessa ventura ficou para sempre ligado, em meu imaginário, à puberdade. Então posso dizer que sempre fui adolescente. Quinze anos é a minha idade. Talvez 14. O resto são marcos exteriores que não me dizem respeito, como esse número 70 que a gravadora e meu escritório de produção colaram em meu nome no site que rola na internet. (…)

O desenvolvimento da mente tem uma espécie de ápice aos 50. Não é uma regra, mas senti isso em mim. Julguei que seguiria igual aos 65. Mas logo vi que minha memória não era a mesma. Eu tinha sofrido muito quando, aos quarenta e poucos, tive que pôr óculos para ler. Eu sempre tinha tido excelente visão, não achava suportável ter que usar esse apetrecho nem preocupar-me em não perdê-lo.

Tive também de me acostumar a ouvir as pessoas dizerem “o óculos” em vez de “os óculos”. A não concordância de número nos verbos e adjetivos relacionados também me faziam mal. Gosto de gramática, de normas para a língua, acho que a tendência à não observância dessas coisas denota insalubridade social. Escrevo de modo um tanto barroco, mas não acho que os brasileiros devessem estar desatentos a regras de clareza, coerência e coesão. Também não me deixa feliz ler, com tanta frequência, coisas como “Fulano não entregou o DVD à Beltrano”. Esse acento agudo que indica crase onde não há (coisa que um linguista declarou uma vez que deveria já ser a regra) me entristece.

Casmurrice de velho? Não: quando era garoto, eu era mais puro em minhas paixões e vaidades gramaticais.
Digo que tenho 14 anos. Poderia dizer 30, a idade que tinha quando nasceu meu primeiro filho, em meio à alegria indizível de ter voltado para o Brasil. Mas também então me sentia adolescente. A descrição minuciosa das impressões de infância pode fazer crer que a idealizo como todo mundo.

Um dos sinais mais claros de que estou velho foi ler Francisco Bosco dizendo não entender que graça achávamos em Francis. Amadureci o bastante para dizer que não creio que conceitos como “luta de classes” expliquem tudo. Que nem sei se esse um diz respeito a algo evidente. Como adolescente, sinto o gosto das descobertas, tenho medo, tenho imensa alegria, começo a ousar dirigir a palavra a estranhos, não apenas a papai e mamãe. Acho lindo o Cristiano Ronaldo e sua difusão mundial da música de Teló.