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Caetano Veloso será o homenageado do Grammy Latino deste ano

Caetano Veloso foi escolhido a personalidade de 2012 pela Academia Latina de Gravação, será homenageado em noite especial do deste ano em 14 de novembro, desta vez em Las Vegas. No jantar de gala para cerca de 1.500 pessoas na MGM Grand Garden Arena, convidados interpretarão dez canções de Caetano ou que tenham marcado seu repertório.

Seu Jorge, Ivete Sangalo, Maria Gadú e Alexandre Pires são os brasileiros escolhidos para cantar com nomes internacionais como Nelly Furtado, Natalie Cole, Lila Downs, Juanes, Juan Luis Guerra, Tania Libertad, Natalia LaFourcade, Mala Rodriguez e Enrique Bunbury.

A noite de gala em homenagem a Caetano é um evento fechado, em que convites serão vendidos a patrocinadores. A renda revertida irá para a Fundação Viva Cazuza, a pedido do artista. Caetano é o segundo brasileiro a ser escolhido personalidade do ano pelo Grammy Latino. O primeiro foi Gilberto Gil, em 2003. No dia 15 de novembro, acontece a entrega do prêmio, no Mandalay Bay Events Center, também em Las Vegas, esta sim uma festa com transmissão pela TV, para audiência estimada em 80 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo 11 milhões nos EUA, por meio do canal latino Univisión. Para o Brasil, a transmissão será pelo canal fechado TNT.

OGlobo.

Caetano Veloso: “Quinze anos é a minha idade”

Linda a crônica de Caetano Veloso publicada dia 24 de junho, no Segundo Caderno do jornal O Globo 

 

Suponho que eu não gostava da infância. Lembro-me de muita impaciência e de uma quase permanente irritação contida. Havia alegrias — como desenhar caminhos de ferro com carvão no cimento imenso do quintal (nesgado de canteiros com arbustos às vezes floridos, num deles um araçazeiro, no do centro, maior, uma mangueira gigantesca) — por onde fazíamos viajar os trens feitos de ferros retangulares (…)

Havia mesmo felicidade nas horas passadas nos galhos altos da mangabeira (que é o que chamávamos de araçazeiro), achando araçás ainda não maduros, as cascas mostrando o entumecimento lento da maturação, movimento supostamente imperceptível mas nitidamente percebido por meus olhos atentos demais, prazerosos demais em sua adivinhação da resistência que a polpa da fruta ofereceria aos dentes antes de exibir seu sabor agridoce, seu travo e sua fresquíssima informação de vegetalidade.

E também na convivência com a grande malta da família, muitas mulheres e nenhuma briga aberta, minha mãe distante mas presta ao menor anúncio de lesão corporal, meu pai além dela mas comandando tudo. Todos os meus irmãos. Felicidade, sim. Em todos uma certa admiração divertida pelo que pareciam ser meus dotes especiais de memória, poder de aprendizado, lucidez.

Não tenho nada objetivo de que me queixar. Apenas fui crescendo com impaciência e vi que quem tinha 7 anos desprezava a condição de quem tinha 4, e quem tinha 12, a de quem tinha 7. Isso era Santo Amaro.
As marcas assustadoras, deliciosas da adolescência me assaltaram no Rio. Deixei de ser criança no ano que passei em Guadalupe. Até hoje, por mais que leia sobre as angústias da adolescência e a infinita felicidade da infância, noto antes a alegria que apresentam todas as pessoas que conheci ao deixarem de ser crianças. Crianças choram várias vezes por dia, comem, deitam-se para dormir e tomam banho na hora que os adultos mandam. Não ter autonomia não é sentido como algo que dê contentamento. Não quero negar os conflitos que deve haver — e há — no período da passagem. Mas, para mim, adolescentes são mais alegres do que crianças. Acho que sempre achei isso. Desde que era criança. Também quando era adolescente.

Percebi que a idade adulta traz ainda maior firmeza a esse gozo da autonomia, mas o florescer dessa ventura ficou para sempre ligado, em meu imaginário, à puberdade. Então posso dizer que sempre fui adolescente. Quinze anos é a minha idade. Talvez 14. O resto são marcos exteriores que não me dizem respeito, como esse número 70 que a gravadora e meu escritório de produção colaram em meu nome no site que rola na internet. (…)

O desenvolvimento da mente tem uma espécie de ápice aos 50. Não é uma regra, mas senti isso em mim. Julguei que seguiria igual aos 65. Mas logo vi que minha memória não era a mesma. Eu tinha sofrido muito quando, aos quarenta e poucos, tive que pôr óculos para ler. Eu sempre tinha tido excelente visão, não achava suportável ter que usar esse apetrecho nem preocupar-me em não perdê-lo.

Tive também de me acostumar a ouvir as pessoas dizerem “o óculos” em vez de “os óculos”. A não concordância de número nos verbos e adjetivos relacionados também me faziam mal. Gosto de gramática, de normas para a língua, acho que a tendência à não observância dessas coisas denota insalubridade social. Escrevo de modo um tanto barroco, mas não acho que os brasileiros devessem estar desatentos a regras de clareza, coerência e coesão. Também não me deixa feliz ler, com tanta frequência, coisas como “Fulano não entregou o DVD à Beltrano”. Esse acento agudo que indica crase onde não há (coisa que um linguista declarou uma vez que deveria já ser a regra) me entristece.

Casmurrice de velho? Não: quando era garoto, eu era mais puro em minhas paixões e vaidades gramaticais.
Digo que tenho 14 anos. Poderia dizer 30, a idade que tinha quando nasceu meu primeiro filho, em meio à alegria indizível de ter voltado para o Brasil. Mas também então me sentia adolescente. A descrição minuciosa das impressões de infância pode fazer crer que a idealizo como todo mundo.

Um dos sinais mais claros de que estou velho foi ler Francisco Bosco dizendo não entender que graça achávamos em Francis. Amadureci o bastante para dizer que não creio que conceitos como “luta de classes” expliquem tudo. Que nem sei se esse um diz respeito a algo evidente. Como adolescente, sinto o gosto das descobertas, tenho medo, tenho imensa alegria, começo a ousar dirigir a palavra a estranhos, não apenas a papai e mamãe. Acho lindo o Cristiano Ronaldo e sua difusão mundial da música de Teló.

CAETANO CAMALEÃO 70

Ele nasceu em 7 de agosto de 1942. Desde o fim da bossa nova, ele se reinventa sem cessar, figura decisiva em sucessivos momentos da MPB. Em especial no Tropicalismo, “big bang” que reverbera até hoje.

Acordes de violão em modo menor, suaves, pulsantes. Sobre uma melodia tristonha, um homem e uma mulher falam de anseios não realizados, amor terminado em seco. “… que passou por meus sonhos sem dizer adeus, e fez dos olhos meus um chorar mais sem fim…” As vozes são jovens, austeras, quase impessoais.

A canção Meu coração vagabundo abria Domingo, de 1967, estreia em LP de Maria da Graça Costa Penna Burgos – mais conhecida como Gal Costa – e Caetano (Emanuel Viana Teles) Veloso. Um melancólico idílio bossa nova – que não iria durar muito tempo.

Corte rápido para Tropicália ou Panis et Circensis: já em seu álbum solo do ano seguinte, Caetano provocava um big bang que iria abalar as bases da nação e seguir reverberando, décadas mais tarde. Seu nome já era um manifesto: “Tropicalismo” era a expressão de um Brasil entre a oca e a guitarra elétrica, entre o pau-de-arara e o homem na Lua.

Gilberto Gil, Tom Zé, Torquato Neto, Caetano e outros estavam pondo em prática a antropofagia postulada pelo pensador Oswald de Andrade. Aí, devoraram o baião e os Beatles da fase LSD, digeriram Stockhausen e música eletroacústica, metabolizaram o concretismo poético de Augusto e Haroldo de Campos. E puseram no mundo uma linguagem de transgressão de fronteiras artísticas e culturais.

Nunca se vira tal coisa na música popular brasileira: esse Caetano Veloso, então, era um vanguardista?

Personalidade caleidoscópica

O baiano de Santo Amaro da Purificação, filho de Dona Canô, irmão de Maria Bethânia e mais outros quatro, faz 70 anos em 7 de agosto de 2012. E já completa quase meio século de carreira musical, do samba-canção ao rock, do tango ao reggae, da experimentação mais radical ao sucesso brega.

Como definir esse monstro da MPB, com capacidade camaleônica de se apoderar de quase qualquer gênero musical, reinventá-lo – de reinventar-se? Na tentativa de torná-lo mais palpável, a crítica musical norte-americana o compara a Bob Dylan ou Paul Simon, o New York Times declara-o “Poeta Laureado inoficial” do Brasil.

Títulos lisonjeiros, sem dúvida. Mas, a sério: como fazer jus a tal biografia, descrever o caleidoscópio dessa personalidade?

Flash back: um aeroporto brasileiro em 1969. Caetano e o conterrâneo Gilberto Gil esgotaram a paciência da ditadura militar. Depois de ter várias de suas músicas censuradas e proibidas, os dois foram detidos, tiveram a cabeça raspada, acusados de subversão, desrespeito ao hino e à bandeira nacional.

A terra do AI-5 está tenebrosa para artistas de espírito crítico ou meramente “irreverentes”. Acompanhados das esposas, os baianos pegam o avião para Londres, no mesmo ano em que Chico Buarque se autoexila na Itália. Antes de retornar ao Brasil, três anos mais tarde, Caetano ainda fará escala em Madri e Tel Aviv.

Som e imagem

Corte rápido para 2007: esmerando-se no sotaque lusitano, Caetano interpreta Estranha forma de vida, de Amália Rodrigues. Apesar do cenário de gosto duvidoso e de ser acompanhada por um pas-de-deux piegas e supérfluo, a cena é um ponto alto do semidocumentário Fados, de Carlos Saura. Um homem e seu violão: aos 60 e poucos anos, o baiano emite um falsete angélico, contido e comovente até as lágrimas.

Fusão para: cena de festa, cinco anos antes. O distinto senhor de cabelos grisalhos ficara registrado na memória afetiva do público internacional ao entoar docemente o huapango mexicano Cucurrucucú, paloma – no filme Fale com ela, de seu amigo pessoal Pedro Almodóvar.

Caetano Veloso não era um novato das telas. Na produção Tabu, de 1982, incorporara o compositor Lamartine Babo; em Os Sermões – A história de Antônio Vieira, de 1989, fora o poeta colonial Gregório de Matos – ambos, filmes de Júlio Bressane. Em 1983 fizera também uma aparição em O Rei da Vela, do selvagem diretor paulista José Celso Martinez Corrêa.

Tratava-se da adaptação cinematográfica da peça homônima de Oswald de Andrade, o próprio mentor do Movimento Antropofágico. Coincidência ou não, exatamente dez anos mais tarde Caetano se reuniria a Gil no CD Tropicália 2. Embora detratores diagnosticassem mero oportunismo, uma coisa pelo menos está registrada nos vídeos dos shows: a dupla baiana se divertiu demais com esse revival;

Corta para 1995. Gal se esgoela, debochada: “
Flor do Lácio, sambódromo, Lusamérica latim em pó. O quer, o que pode esta língua?“; escande palavras de ordem: “A língua é minha pátria. E eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria“.

Caetano rapper, virtuose dos jogos de palavras, das alusões oblíquas. O arranjo de Jaques Morelenbaum sublinha a anarquia de referências culturais, faz colagem, misturando cuíca e cordas sinfônicas, escola de samba com o Tristão e Isolda de Wagner.

A canção Língua já aparecera em Cinema falado – mais uma incursão do veterano da MPB ao mundo do cinema, dessa vez também como roteirista e diretor. Contudo, a ambiciosa reflexão audiovisual de 1986, sobre linguagem e cultura, justapondo citações de Thomas Mann, Guimarães Rosa, Gertrude Stein, resultara indigesta até para gente que se jurava caetaniano até a morte. Em algumas cabecinhas, o máximo que sobrou de toda a filosofia foi o lento nu frontal de Maurício Mattar – ousadia quase impensável naquela pós-ditadura recente.

Não seria a primeira nem a última vez que o baiano despertava polêmica de âmbito nacional. Será que “Caê” ficou megalomaníaco de vez? Será que está confundindo arte inteligente com chatice intelectualoide? Afinal, ele é poeta ou letrista? Ou o quê? E essa mania de dar palpite em tudo que é debate no país? Não é melhor ficar “cada macaco no seu galho” – como aconselhava Chô chuá, sucesso de Gilberto Gil de 1972, reeditado em Tropicália 2?

As graças do patriarca

Obviamente, o enfant terrible inveterado é a pessoa menos interessada nas respostas a questões do gênero. Ele já está ocupado o suficiente em “ser Caetano”, provocando até sem querer e prosseguindo sua trajetória original e intransferível.

Felizmente, essa rota é também ampla e generosa, dando espaço a variadas combinações, sinergias, parcerias. Espécie de patriarca, ele não cessa de apadrinhar os músicos iniciantes em que acredita – seja Virgínia Rodrigues, Chico César, Maria Gadú – nem de resgatar, da ignorância generalizada e do esquecimento, veteranos como Clementina de Jesus ou Elza Soares. Fato que não deixou de suscitar reações do tipo: “Agora, para fincar pé na MPB, só com a bênção do ‘Coroné Velô’…”. Pura inveja?

Corta para a internet, hoje: para quem quiser uma panorâmica dos 45 anos dessa carreira, o site http://www.caetanoveloso.com.br disponibiliza boa parte da discografia do colecionador de Grammys comoaudio-stream grátis – pelo menos para usuários no Brasil. Entre quase 50 produções, seu mais recente disco de estúdio é de 2009: Zii e Zie, onde o mestre anuncia mais um novo gênero, o “transamba”. De lá para cá, já saíram mais três álbuns ao vivo, em duo e trio.

Fade out? Nem pensar – ao que tudo indica.

DW Autor: Augusto Valente
Revisão: Alexandre Schossler

Caetano será “Personalidade do Ano” no Grammy Latino

Caetano Veloso, ganhador de dois prêmios Grammy e de oito prêmios Grammy Latino, será homenageado como a “Personalidade do Ano 2012” em um jantar de gala anterior à 13ª cerimônia de entrega do Grammy Latino.

A Academia Latina da Gravação divulgou nesta terça-feira que a homenagem acontecerá dia 14 de novembro em Las Vegas (EUA), em uma noite em que diversos artistas interpretarão canções do artista.

Parte da arrecadação do evento se destinará à Fundação Viva Cazuza, entidade escolhida por Caetano e dedicada à prevenção e tratamento do HIV para crianças e jovens. O restante será investido em programas de ajuda e educação da Academia Latina da Gravação.

O cantor e compositor será nomeado como a “Personalidade do Ano 2012” na véspera da celebração, também em Las Vegas, da XIII Entrega Anual do Grammy Latino.

Durante sua carreira, Caetano gravou quase 50 álbuns, publicou quatro livros, dirigiu o filme “O Cinema Falado”, foi tema de documentário e ganhou inúmeros prêmios.

A Academia Latina da Gravação já homenageou como “Personalidade do Ano” os músicos Plácido Domingo, Gloria Estefan, Julio Iglesias, Carlos Santana e Shakira, entre outros. EFE

Cine: ‘Uma Noite em 67’: o festival que mudou a MPB

Os bastidores, uma revolução musical

Lucila Soares
Edu Lobo e Marília Medalha cantam Ponteio na final do festival de 1967

Edu Lobo e Marília Medalha cantam Ponteio na final do festival de 1967 (foto de Wilson Santos/Jornal do Brasil)

Caetano é chamado de “Veloso” e Arnaldo Batista tem que dizer seu sobrenome a Randal Juliano e ainda apresentar os outros dois Mutantes (“aquele é o Sérgio, e ela é a Rita). Todos fumam desbragadamente, Cidinha discorre sobre a moda de dar nomes de legumes a cores (e diz que seu vestido é rosa-shocking e chuchu), e Reali Jr corta um dobrado para entender a definição de “pop” dada por “Veloso”.

Naquela noite de 21 de outubro de 1967, cinco jovens compositores brasileiros aguardavam, nervos à flor da pele, o anúncio de quem seria o vencedor do 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record. Seus nomes: Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil e Edu Lobo. Nos bastidores, os organizadores não estavam menos ansiosos. Aquele festival mostrara-se diferente das edições anteriores. Quatro das cinco finalistas tinham chance de vencer, tornando a disputa acirradíssima.

O público tornara-se co-protagonista do evento, mostrando disposição para apoiar sua canção preferida com fervor e a demonstrar desagrado com vaias ensurdecedoras, capazes de inviabilizar uma apresentação. (A vítima mais conhecida desse público, digamos, participativo, é o compositor Sérgio Ricardo. Na semifinal, exasperado com as vaias, ele acabou por quebrar seu violão e atirar os destroços sobre a plateia).

Era uma festa protagonizada por garotos de pouco mais de 20 anos. Era também uma batalha, que se desenrolava simultaneamente no palco e nos bastidores. No palco, a disputa era entre Alegria, Alegria; Roda Viva; Domingo no Parque; Ponteio e a obscura Maria, Samba e Carnaval, a única a não entrar para a história da MPB. Mas era também entre o violão e a guitarra elétrica, entre a MPB “tradicional” e a novidade da nascente Tropicália. Nos bastidores, a batalha era para que tudo desse certo. “Tudo”, no caso, era levar a bom termo um grande evento transmitido ao vivo pela televisão, o que era um imenso desafio naquele longínquo final dos anos 1960. E também incluía administrar crises de pânico, buscar artista que estava bebendo no botequim em cima da hora de sua apresentação, garantir que nenhum artista se apresentasse vestido de forma inconveniente. “Eu estava lá morrendo de medo que acontecesse alguma coisa”, diz Solano Ribeiro, organizador do festival.

Foto Wilson Santos/Jornal do Brasil

Caetano Veloso defende Alegria Alegria na final do festival de 1967Caetano  e Alegria Alegria na final do festival de 67

Essa batalha festiva (ou festa-batalha) é a rica matéria-prima do documentário Uma Noite em 67, de Ricardo Calil e Renato Terra, que estreia hoje nos cinemas.

O filme mescla imagens garimpadas no acervo da TV Record e entrevistas atuais e reveladoras com alguns dos protagonistas daquela noite, tanto no palco quanto nos bastidores. Há cenas antológicas, como a da tragicômica passeata contra a guitarra elétrica que tomou a avenida Brigadeiro Luís Antônio em junho de 67.

A marcha liderada por Elis Regina, Edu Lobo, Geraldo Vandré (foto), os músicos do MPB-4 e outros representantes da MPB “tradicional” aparecia como um ato destinado a resistir contra a “invasão americana”, como se não houvesse mais nada contra o que protestar em plena ditadura militar. E é muito engraçado lembrar que um dos participantes era Gilberto Gil, que poucos meses depois defenderia seu Domingo no Parque acompanhado pelos estreantes Os Mutantes, em arranjo cheio de acordes elétricos.

Em outros momentos, a graça está nas entrevistas realizadas por Cidinha Campos, Reali Jr e Randal Juliano durante os intervalos.

As imagens de época são, é claro, o grande apelo do filme. As cenas de palco são bem conhecidas, mas, junto com muitas de bastidores, inéditas ou pelo menos pouco divulgadas, formam um panorama espetacular do que foi aquela noite, e do que era aquele tempo. O maior mérito do filme, no entanto, está nas entrevistas atuais. Paulo Machado de Carvalho Jr, filho do fundador da Record e diretor dos festivais da casa, conta que foi buscar Gilberto Gil no hotel porque soube que ele desistira de cantar na final. “Eu ajudei Nana (Caymmi, então namorada de Gil) a dar banho nele e vesti-lo.” Gil admite simplesmente: “Eu estava em pânico, e até hoje me espanto que ninguém tenha percebido naquela noite que era um fantasma o que estava ali no palco”.

Chico Buarque e Edu Lobo, dois senhores de quase 70 anos, não disfarçam que até hoje se incomodam por terem sido considerados “velhos” pelos “revolucionários” pré-tropicalistas que se revelaram naquela noite. “Eles (os pré-tropicalistas) estavam lá todos fantasiados e eu de smoking. Aí fiquei com aquela cara… de smoking”, diz Chico.

De todas as entrevistas, no entanto, duas dão especialmente bem a dimensão do que passava pela cabeça de quem estava lá, naquele teatro, naquela noite. A de Paulo Machado de Carvalho, em que ele compara a concepção do festival à dos programas de luta livre. “Tinha que ter o mocinho, o bandido, a heroína etc”. E a do produtor Solano Ribeiro, que resume assim a noite que mudou a história da MPB: “O festival nada mais era do que um programa de televisão.

Só depois é que aquilo ganhou importância histórica, política, sociológica, musical, transcendental”. E é exatamente esse o maior mérito do filme. Ele proporciona um mergulho naquela noite, sem didatismos e sem teses. Os diretores fizeram essa escolha seguindo o conselho de João Moreira Salles, um dos produtores do documentário: “O filme tem que ser uma experiência.” Conseguiram.

Veja:


Caetano Veloso: colunista de O Globo

Desde domingo (09), o jornal carioca O Globo chega às bancas com novidades em sua seção de cultura, o “Segundo Caderno”. De acordo com comunicado enviado pela publicação, a intenção é dar ao caderno mais conteúdo, com a inserção de serviços e novos colunistas, entre eles, o cantor Caetano Veloso, que assinará espaço de opinião todos os domingos.

A cada dia da semana, um novo colunista ocupará esse espaço e entre os convidados estão Francisco Bosco, Felipe Hirsch, José Miguel Wisnik e Hermano Vianna. Eles se juntarão ao time do “Segundo Caderno” já formado por Arnaldo Jabor, Joaquim Ferreira dos Santos, Arthur Dapieve, Arthur Xexéo, Cora Rónai e Arnaldo Bloch. A coluna terá ainda colaboradores da Europa e dos Estados Unidos, que vão trazer as novidades e tendências desses locais.

“A ideia é pegar carona nesse momento tão legal do Rio para fazer um caderno de cultura que dê a todas as artes cariocas o lugar que elas merecem. Mas não vamos falar só das artes cariocas, claro. São Paulo, Recife e o mundo todo terão espaço. O mundo mudou, e nós mudamos junto”, afirma a editora Isabel de Luca.

A Página 4 será dedicada, diariamente, a um tema específico: artes plásticas, música, teatro e dança, cinema e cultura alternativa. Sempre com críticas, novidades e a agenda dos eventos da semana, no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP) e em outros países.

A área reservada para quadrinhos também será reformulada, com novas histórias e destaque para quadrinistas brasileiros, como Reinaldo, do “Casseta & Planeta”, e Arnaldo Branco. Os leitores também poderão mandar suas tirinhas e a melhor da semana será publicada, aos domingos, no espaço “Quadrinhos do leitor”.

Lula liga prá dona Canô e perdoa Caetano

Mãe do cantor ficou constrangida com as declarações do filho

Dona Canô dormiu 'mais tranquila e emocionada', segundo Rodrigo Veloso

Leo Azevedo/AE

Dona Canô dormiu ‘mais tranquila e emocionada’, segundo Rodrigo Veloso

Coube ao próprio presidente Lula a iniciativa de colocar um ponto final na polêmica com o cantor e compositor Caetano Veloso, que o chamou de “analfabeto”, em entrevista à jornalista Sonia Racy, do Estado, no dia 5. De Roma, Lula ligou para dona Canô, mãe do artista, que queria se desculpar pelas declarações.link A entrevista do cantor

Após polêmica, que mobilizou artistas e políticos País afora, o assunto foi discutido pelo clã, na terça-feira, 17. Horas depois, à noite, o telefone da casa tocou. Rodrigo, irmão de Caetano, atendeu. “Veio a mensagem: ‘Boa noite, é do gabinete do presidente, ele queria falar com dona Canô’.”

Lula relatou ter sido informado da intenção de dona Canô, constrangida com as declarações do filho, e quis tranquilizá-la. “Não fique chateada, preocupada, porque gosto muito da senhora e gosto do Caetano também”, disse, segundo Rodrigo. “Está tudo bem, essas coisas acontecem.”

Na entrevista ao jornal, o cantor disse que votará em Marina Silva (PV) para presidente, caso ela se candidate, porque “não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro”. Dona Canô, em outra entrevista, disse que a opinião não era refletida no resto da família.

“Minha mãe foi dormir mais tranquila e emocionada”, diz Rodrigo. “Agora, definitivamente, esse assunto está esclarecido com todas as partes e encerrado.”

AE

Timóteo ataca Caetano Veloso

Até o cantor Agnaldo Timóteo (foto) soltou o verbo contra Caetano Veloso, em entrevista à coluna Entre a Gente, do Jornal da Tarde desta terça (10).

Ele falou que a declaração de Caetano ao Estado de S.Paulo, na semana passada, chamando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de analfabeto é “deplorável, oportunista, demagógica e covarde”.

Timóteo, que também é vereador em São Paulo pelo PR e é tão polêmico quanto Caetano, alfinetou ainda o compositor baiano por buscar, nos órgãos do governo, “vultosos patrocínios para suas apresentações elitistas”.

Caetano Veloso fez show da turnê Zii e Zie no Citibank Hall, em São Paulo, no último fim de semana. Antes da apresentação de sexta, em entrevista à Record, ele reafirmou que “Lula fala como analfabeto” e que não gosta da idéia de todos terem de “adular Lula”.

Ainda na sexta, após o show, Caetano se recusou a receber repórteres em seu camarim. Ele apenas permitiu a entrada de fotógrafos. No domingo, ele levou um tombo no palco e criticou a imprensa, por não ter repercutido como ele acha que deveria a morte do compositor baiano Neguinho do Samba, no Olodum, no último dia 31 de outubro.

O público foi fraco no show de Caetano e, no domingo, foi preciso que a casa de show colocasse uma cortina para tampar os muitos lugares vazios, concentrando o pouco público presente na região central da pista, em frente ao palco.

Eu odeio Caetano Veloso, sucesso no YouTube

Muitos se perguntam qual a causa do abismo que existe entre a cultura popular e a indústria da música popular brasileira. Parece que Os Tropeçalistas botaram o dedo na ferida. E depois jogaram sal…

Caiu na web uma música que tem tudo para cair nas graças de Lula e do PT. Chama-se “EuOdeioCaetanoVeloso.com.br”.

A música foi colocada  no YouTube na quinta-feira da semana passada. Por coincidência, o mesmo dia em que Caetano tachou Lula de “analfabeto”.

O autor é o paulista Vlado Lima. Integrou a banda alternativa “Os Tropeçalistas”, assim, com cedilha.

Para gáudio do petismo, o vídeo traz na abertura um esclarecimento vazado em timbre irônico:

“Note que não é uma ode contra esse ídolo dos anos 70/60, mas sim uma merecida bronca na mídia preguiçosa”, rendida ao “jabá”.

Ou seja, além de situar o sucesso do neo-adversário Caetano em décadas remotas, bate na mídia, o inimigo de sempre.

Parece que o próprio Caetano adorou!

Caetano Veloso no disco de Vitor Ramil

foto:Ana Ruth Miranda

Vitor Ramil e Caetano Veloso, durante as gravações

O gaúcho Vitor Ramil continua trabalhando em um novo álbum de estúdio que deve chegar às lojas em breve. Uma das novidades deste trabalho é a participação especial de Caetano Veloso.

O cantor e compositor baiano divide os vocais com Ramil na música “Milonga de los Morenos”. Essa música é baseada em um poema do escritor argentino Jorge Luis Borges.Além do CD, também será lançado um DVD com cenas das gravações, ensaios e uma música inédita como bônus.

Algumas das músicas que estarão no álbum são “Chimarrão”, “Milonga de los Morenos”, “Mango”, “Milonga de dos Hermanos”, “Tapera”, “Un Cuchillo en el Norte”, “Pé de Espora”, “Milonga para los Orientales” e “Pingo à Soga”. O lançamento será pelo selo Satolep.

Enquanto termina a produção do disco, Vitor se prepara para as apresentações internacionais que fará nas próximas semanas. Com uma agenda de shows em Portugal e no Japão, ele esbanja desenvoltura e entusiasmo e só comemora o sucesso de sua longa carreira.

O gaúcho de Pelotas ingressou na carreira de cantor aos dezoito anos. Desde então, acumula 28 anos de canções românticas e milongas, compostas por ele e por alguns grandes nomes da letra e da poesia brasileira e argentina.

Vitor também celebra o sucesso de seu livro Satolep, lançado em 2008, em que ele recria a cidade onde nasceu. Um ano depois de publicada, a obra acumula indicações a prêmios literários, entre eles o famoso Prêmio Jabuti de Literatura.

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