Arquivo do dia: março 19, 2010

Morre a coreógrafa Roseli Rodrigues

A arte da dança perdeu ontem uma das mais destacadas coreógrafas brasileiras. Roseli Rodrigues ( foto) morreu de madrugada, em São Paulo. Ela tinha 54 anos. Em janeiro, descobriu um câncer no sistema linfático. Estava em tratamento e não resistiu. Era diretora e coreógrafa da Raça Cia. de Dança, de São Paulo, uma das mais destacadas na formação de bailarinos na área clássica e contemporânea.

Figura constante no Festival de Dança de Joinville e ex-conselheira do evento, Roseli esteve na cidade no ano passado acompanhando a filha Izabela Rodrigues numa apresentação de balé clássico. Em outras edições do evento, a coreógrafa ministrava cursos sobre a arte e também acompanhava as turmas da companhia paulista nas apresentações.

O presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz, lamentou a morte e destacou a figura doce e carismática que ela era:

– Roseli é uma das figuras mais emblemáticas da história do Festival. O jazz deve muito a ela a importância que conquistou junto ao público de dança.

O Grupo Raça tem 30 anos de história. Foi criado por Roseli como uma companhia de jazz e tem esse estilo como principal referência.

Professora e crítica de dança, Sílvia Soter ficou abalada com a morte da amiga:

– Era uma pessoa muito entusiasmada com o trabalho. Foi uma educadora da dança. A escola atravessou o tempo e se modificou com trabalhos de muita qualidade. Perdemos uma grande pessoa, parceira da dança.

Artigo: obnubilado mal-intencionado

Maristela Bairros

A minha mensagem começava assim: “Envio este mail porque creio poder estar contribuindo para o geral e não apenas advogar em causa própria.” Na minha santa ignorância no trato com as letrinhas há quase 4 décadas profissionalmente, tirando o que eu me puxava nas aulas de português desde guriazinha, achei que tinha sido clara. Afinal, eu estava partindo – irônica comigo mesmo – do particular (uma reivindicação minha) para o geral, pois solicitava, resumindo a ópera, que meus nobres vizinhos apenas me avisassem quando fossem usar furadeira até dez da noite ou dia inteiro para eu pegar meu note book e me instalar em outras plagas. Vejam bem: eu não estava pedindo que não fizessem os serviços em horário comercial, que é da lei.

No entanto, a criatura que recebeu o mail surtou. Em caixa alta, assim como envio, abriu sua resposta me dizendo: “NÃO ENTENDI TUA AFIRMAÇÃO DE QUE EU POSSA EM ALGUM MOMENTO ESTAR ADVOGANDO EM CAUSA PRÓPRIA! GOSTARIA DE EXPLICAÇÕES!” e passou a enumerar seus feitos no condomínio, fechando a carta com uma lição de moral sobre a vida em coletividade. Seria cômico, se não fosse sacal.

Minha filha, que é a jovem mais ponderada que conheço, me disse, suspirando: “impressionante o que as palavras escritas podem gerar de confusão”. Tem razão ela. Mas não é o caso das palavras que eu havia digitado no dito mail para a tal criatura que, não é a primeira vez, ou fez uma leitura apressada ou, realmente, tem sérios problemas de interpretação de texto. Para minha preocupação em relação a quem cuida de nossas leis e, muitas vezes, de nossa vida, a pessoa em questão é formada em Direito. Sim! O moço inclusive gerencia uma equipe. Pobre equipe!

Gosto muito de uma palavrinha da língua portuguesa que raramente é utilizada: obnubilado. Ela tem tudo a ver com gente que, de fato, tem seus pensamentos encobertos por nuvens escuras de falta de entendimento ou desentendimento. E como topamos com gente padecendo deste mal!

Exibem títulos e mais títulos nas paredes, mas a cabeça é um poço fundo de dificuldade de entender qualquer enunciado. Só que, para dar uma resposta imediata ao estilo mordida de cachorro louco, ah, os obnubilados são muito ágeis. E a vítima, como eu, então, tem de tomar uma única atitude: “baixar a louca”, seguindo conselho de Júnior, meu sábio e debochadíssimo cabeleireiro.

Porque, tenho certeza, gente obnubilada vai ler esta crônica e, primeiro, não vai se tocar que tem a ver com ela. Segundo, vai derrapar no obnubilado e sairá daqui sem ter ao menos uma coceira cerebral que lhe haja dado curiosidade em ir ao dicionário.

Portanto, todo e qualquer esforço para fazer com que esta criatura arrogante e burra entenda alguma coisa de forma delicada e didática é perda de tempo e energia. Tem de partir pro troco, constranger no grito que seja, em suma, chutar o balde. Essa linguagem, o obnubilado reconhece. E se encolhe de pavor.

Meu obnubilado em questão usa terno de risca de giz até no verão mais saárico, embora pegue ônibus para não gastar com estacionamento (e tendo dois carros) só para segurar a cabeça altiva na gravata apertada em torno do pescoço fino. Adora óculos escuros até em dia nublado porque é “estilo”. Mal abre a boca para dar um bom dia e tem aquele ar de menino que se borra de medo do pai, que ele cita de meia em meia hora nas conversas enjoadas em que tenta ser filósofo de botequim com seus conceitos mal absorvidos.

O obnubilado, que se formou em universidade mas ainda escreve expressar com s em vez de x, e ceder com s em lugar do c, adora usar adjetivos como plausível, sem acento é claro. Ele é, enfim, o new-Zé Bonitinho, aquele personagem de topetão e com sobrancelhas que se mexiam junto com o bigode, só que em vez do pente de 50 centímetros, o obnubilado enverga sua ignorância para alisar a vaidade.

Pior é ter de conviver com este tipo quando ele se oferece e é aceito para um cargo que só ele acha importante no prédio, porque ele passa a ter idéias, um perigo! Aí, daquele rapaz até então apenas chato, que reclamava de quem deu uma em vez de duas voltas na chave da porta do edifício, sempre com aquela voz empostada mas que parece ainda em fase de muda (uma coisa constrangedora para o interlocutor), pode-se esperar a transmutação imediata de um-qualquer-com- título em um-qualquer-com-poderzinho. Como cansa! Se alguém souber de um remédio ou mandinga para ao menos congelar o sujeito por algumas horas, por favor, me passe. Urgente! Não suporto mais nem o perfume enjoativo que fica no corredor quando o obnubilado sai para passear sua soberba ignorante pelas ruas.


PS: Prá facilitar aos “obnubilados” aí vai a melhor definição: A obnubilação é o estado de perturbação da consciência, caracterizado por ofuscação da vista e obscurecimento do pensamento.

Maristela Bairros

maristelabairros@gmail.com