Foram presos ontem (terça-feira) pela Polícia Civil do Distrito Federal a advogada Adriana Villela e mais quatro pessoas suspeitas de obstruir as investigações para esclarecer o assassinato do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela (foto).
Por ordem judicial, foram presos também o ex-agente da Polícia Civil José Augusto Alves, suspeito de ter colaborado com uma farsa que levou à prisão de falsos autores do crime; a faxineira do casal, Guiomar dos Santos; a vidente Rosa Maria Jaques e seu marido, João Torquato Jaques. Rosa Maria e João foram presos no Rio Grande do Sul, onde moram, e trazidos para Brasília.
Adriana é filha mais velha de Villela e, com a prisão, passa a ser também suspeita de ser mandante do crime. Ela e o irmão, Augusto Villela, são os herdeiros da fortuna em imóveis, ações e investimentos do pai.
Para o juiz Fábio Esteves, do Tribunal de Justiça do DF, essas pessoas estavam agindo para que a polícia não elucidasse o crime. A vidente havia se apresentado como paranormal com a missão de ajudar nas investigações. Ela dizia que ouvia espíritos que contavam detalhes sobre o ocorrido no dia do crime. Depois foi descoberto que a vidente, seu marido e Adriana Villela se conheciam, embora tivessem negado à polícia.
Já a empregada mentiu em depoimento, dizendo que Adriana tinha um ótimo relacionamento com os pais. Com base em cartas e outros testemunhos, a polícia descobriu que a filha tinha muitos conflitos com Villela e a mulher. O motivo dos desentendimentos era sempre dinheiro. O ex-agente teria deixado de apreender material na cena do crime, que teria sido adulterada. Ele também conhecia a vidente. Os cinco tiveram prisão temporária de 30 dias decretada.
Habeas corpus
O advogado de Adriana Villela, José Eduardo Alckmin, informou ontem à noite que vai entrar com o pedido de habeas corpus para obter a liberdade de sua cliente. Adriana passou a noite em uma cela do Presídio Feminino (Comeia), situado no Gama. A empregada Guiomar Barbosa também dormiu na Comeia. Até o fim desta edição, o casal João e Rosa não havia chegado a Brasília.
CAUSA MILIONÁRIA
O ex-ministro havia ganhado uma causa milionária e receberia 12 parcelas de R$ 7 milhões, cada, em precatórios a cada três meses. Segundo fontes, ele já teria recebido duas parcelas.
Advogado do ex-presidente Fernando Collor no processo de impeachment, em 2001, e um dos constitucionalistas mais requisitados do País, Villela foi morto a facadas em 28 de agosto de 2009, junto com a mulher, Maria Carvalho, e a empregada, Francisca Nascimento. Eles receberam 73 facadas dentro do apartamento em que moravam, num bairro nobre de Brasília, e seus corpos só foram encontrados três dias depois.
Relação conflituosa
Adriana Villela, 46 anos, é artista plástica. Vive no Lago Sul, mas também tem uma casa em Alto Paraíso (GO). É a filha mais velha do casal de advogados. No começo das investigações prestou depoimento na condição de colaboradora. Foi ela quem fez os desenhos das joias da família levadas do apartamento provavelmente no dia do crime.
Ao longo das investigações, a polícia teria recolhido provas
de que Adriana mantinha uma relação conturbada com os pais. Apesar de ter morado na mesma quadra de José Guilherme e Maria Villela, no Bloco F, ela raramente frequentava a casa deles. Duas cartas de Adriana para a mãe, apreendidas no escritório dos Villela em 27 de outubro passado, revelariam um conflito com os pais, por questões financeiras. Assim como o irmão Augusto e a filha Carolina, Adriana sempre evitou dar entrevistas sobre o triplo assassinato. Dos três, era a que demonstrava maior irritação com o assédio de jornalistas.