Dos 53 prédios destinados ao Renova Centro, programa de habitação popular e requalificação que pretende trazer 2,5 mil famílias para morar naquela região, somente 3 começam a ganhar destinação social. Os primeiros beneficiados serão artistas aposentados, idosos e pessoas carentes.

Ontem, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) assinou a escritura de desapropriação do Edifício Cineasta, antigo hotel abandonado na Avenida São João. O custo foi de R$ 4,2 milhões – 1% de todo o valor previsto para o Renova Centro. Será o primeiro prédio a ser reformado, para artistas que recebem hoje de 1 a 3 salários mínimos. Falta ainda a licitação para o início das obras de reforma interior e da fachada, tombada pelo patrimônio histórico. O edifício passará a ser chamado de Recanto dos Artistas. Após a reforma, terá 59 apartamentos de aproximadamente 50m² e um dormitório.
Mais dois edifícios foram desapropriados e estão em fase de licitação para reforma e adequação à moradia popular. Outros 20 são classificados como “em estágio avançado de desapropriação”, o que significa que os proprietários já aceitaram o valor proposto pela Prefeitura. “A promessa é entregar as primeiras unidades até 2012. As aprovações e toda a desapropriação devem ser feitas no menor prazo possível”, disse o secretário de Habitação e presidente da Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (Cohab), Ricardo Pereira Leite.
Próximos passos. O prédio Mário de Andrade, na Rua Asdrúbal do Nascimento, receberá famílias carentes. E o Santo André, na Avenida Celso Garcia, será moradia de idosos. Juntos, os três prédios oferecem cerca de 150 apartamentos. Os moradores serão incluídos no programa de locação social da Prefeitura, que administrará os condomínios. Dessa forma, os inquilinos comprometerão em torno de 25% do salário com o aluguel.
“O maior beneficiário vai ser aquele cidadão humilde que precisa da sua casa e até então não teve concretizado esse sonho que é de todo ser humano”, disse, em discurso, Kassab. “São Paulo não tinha uma casa para acolher esses artistas. O prefeito cumpre uma promessa de campanha”, comemorou o ator Odilon Wagner, presidente da Associação dos Produtores Teatrais Independentes de São Paulo.
Crítico. Para o professor Issao Minani, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), atrair moradores de baixa renda para o centro é questionável. “Acho muito difícil você fazer uma revitalização de um conjunto de edifícios sem que isso seja precedido da criação de empregos e renda na região.”
PARA LEMBRAR
Clientes eram funcionários de empresas
A porta de vidro de entrada do Cineasta ainda ostenta o adesivo com o símbolo do hotel. Mas nenhum hóspede entra há cerca de dez anos. O acesso é bloqueado por grades, fechadas com cadeado. O prédio foi construído na década de 20 do século passado. Em entrevista ao Estado em maio de 1996, o então dono do hotel, o português Florival Manuel Francisco, contou que mais 80% dos clientes eram funcionários de empresas. Sacoleiros e casais suspeitos eram impedidos de se hospedar.
As diárias eram de um hotel duas-estrelas: em torno de R$ 300. As 20 suítes, mais espaçosas, contavam com camas de casal, banheira, ar-condicionado, frigobar e televisão. Os demais quartos, 60, diferiam por terem mais camas. O prédio contava com um jardim de inverno e uma sala de estar.
Apesar do fechamento, tudo continua ali: poltronas, camas de madeira, carpete. A diferença, atualmente, é a camada de poeira sobre a mobília e os dois elevadores parados, com a placa de manutenção. A proteção cabe a dois seguranças, mantidos ininterruptamente no local. A principal missão deles é evitar ações de invasores.
Na frente do prédio não há moradores de rua nem consumidores de droga. Quando tentam se acomodar ali, são espantados pelos seguranças.
Felipe Frazão – O Estado de S.Paulo
COLABOROU ELVIS PEREIRA