Com apenas duas semanas de campanha pela frente, o PT corre o risco de não passar, pela primeira vez em 20 anos, do primeiro turno da eleição municipal em Porto Alegre, cidade que governou durante quatro gestões consecutivas até 2004. Se a ameaça expressa nas últimas pesquisas de intenção de voto se confirmar, o segundo turno será disputado pelo prefeito licenciado José Fogaça (PMDB) e pela candidata do PCdoB, Manuela D”Ávila, e o partido do presidente Lula, que vem batendo recordes de popularidade pelo país, sofrerá uma dura derrota na cidade que já foi o cartão de visitas do petismo.
À primeira vista, o cenário poderia parecer perfeito para a candidata do PT, Maria do Rosário. Além dos altos níveis de aprovação de Lula e da presença de quatro gaúchos no ministério (Tarso Genro, Dilma Rousseff, Nelson Jobim e Guilherme Cassel), os petistas tinham pela frente, de um lado, uma administração municipal vista pela população como lenta e carente de projetos e, de outro, um governo estadual, comandado por Yeda Crusius (PSDB), acuado por uma onda de denúncias de corrupção.
Mesmo assim Rosário não conseguiu consolidar a posição e chega à reta final, na melhor das hipóteses, empatada com a comunista em segundo lugar. Na semana passada, o Datafolha indicou 18% de preferência do eleitorado para cada uma e, ontem, nova pesquisa do instituto Methodus publicada no “Correio do Povo” deu 23,9% para a candidata do PCdoB e 17,1% para a petista, com crescimento de 1,3 ponto na vantagem de Manuela em sete dias. Fogaça, que lidera desde o início, obteve 33% e 31,1%, respectivamente.
Rosário e Manuela travam ainda uma briga particular pela identificação com o presidente da República. “Sinto-me representante do presidente Lula. Ele é do PT e eu sou do PT, por mais que outros candidatos queiram aparecer com ele”, disse. Ao mesmo tempo, Manuela apresenta fotos em que aparece junto de Lula e faz questão de enfatizar a proximidade do PCdoB com o governo federal.
Segundo o coordenador de campanha do PT, Cícero Balestro, nas próximas duas semanas o partido vai tratar de “reforçar” esses vínculos. “Vamos dizer para aqueles que aprovam o governo Lula que votem na Maria do Rosário”, afirma. Do outro lado, o coordenador da campanha de Manuela, Adalberto Frasson, considera “legítimo” que os dois partidos exponham suas afinidades com o presidente da República. “O PCdoB foi o único partido que apoiou o presidente Lula em todas as eleições desde 1989”, lembra.
Conforme o professor de pós-graduação em ciência política da UFRGS, André Marenco, o PT acabou ainda caindo num “vazio” entre os dois adversários diretos: não é nem mais governo da cidade com resultados recentes para apresentar, como Fogaça tem se empenhado em mostrar aos eleitores, nem tampouco uma novidade no cenário político. Esse papel vem sendo encarnado por Manuela, que se preocupa ainda em passar a imagem de uma personalidade aberta ao diálogo, diz, além de não enfrentar o desgaste acumulado pelo PT em 16 anos de governo na capital gaúcha. Outro problema, segundo o professor, é que os petistas não têm dificuldade em fazer oposição. “Ou o PT faz uma oposição muito estridente ou não faz nada”.
Sérgio Bueno/ Valor Econômico
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