Nota atualizada em 23.03.2009
Jade morreu em casa, neste domingo, ao lado do marido e seus dois filhos, de quatro e cinco anos, ambos de um casamento anterior.
O câncer de Goody, porém, conseguiu gerar comoção nacional e provocou mudança de comportamento na mídia britânica sobre a trajetória de Goody.
Quando surgiu na TV em 2002, ao participar do “Big Brother” britânico, Goody era um prato cheio para os tabloides. No programa, seus frequentes deslizes rendiam enormes manchetes aos jornais sensacionalistas, que não poupavam para ela adjetivos como vil, irresponsável, selvagem, cafona e suburbana, para ficar nos termos mais leves.
Por seis anos, a obstinada determinação de Goody em aparecer, seja nos próprios tabloides, em programas de fofoca na TV, DVDs (com dicas de
ginástica ou receitas de cozinha) e até mesmo em duas autobiografias, fariam dela um alvo maior dos colunistas.
Mudança
Foi a partir de 2008 que a figura de Goody mudaria drasticamente, quando, no seu terceiro “Big Brother”, Goody recebe no ar a notícia que tinha câncer cervical.
A primeira mudança notável foi na própria atitude dos tabloides que, acompanhando passo a passo o desenvolvimento da doença, passam a ser solidários.
Aos poucos, a própria imagem negativa de Goody passaria a ser desconstruída. Sua patente ignorância, no fundo, passou a ser vista como consequência involuntária de uma educação deficiente a que ela foi submetida.
Os comentários de tom racista que havia feito em outro “Big Brother” contra
Shilpa Shetty, uma ascendente atriz de Bollywood, foram perdoados. Para os colunistas, o ato passou a ser interpretado como o desconforto infantil e aceitável de uma jovem gordinha diante de uma bonita atriz da Hollywood indiana.
Vencedora
Em fevereiro deste ano, a decisão de Goody de se casar e fazer fortuna vendendo a cobertura exclusiva da cerimônia para uma revista e um canal de TV, sabendo que estava em fase terminal de vida, só fez aumentar sua admiração.
O que parecia algo para lá de bizarro, mais uma vez, beneficiou a imagem de Jade Goody. Seu próprio assessor explicou que os cerca de 1 milhão de libras (R$ 3,2 milhões) ganhos com o registro do casamento serviriam para bancar uma boa educação e futuro para os dois filhos de Goody, Bobby, 5, e Freddie, 4.
Nas colunas, o sucesso e a fortuna de Goody passam a representar uma mulher vencedora, sob a premissa de que seu passado pobre e humilhante inevitavelmente a levariam ao fracasso, não fosse sua força de espírito. O fato de ter resistido à campanha difamatória e ainda continuar presente na mídia só reforçaria a imagem de vitória.
Também a disposição de encarar a morte de forma pública revelaria um ato de coragem diante do inevitável.
A imagem de Goody seria finalmente sacramentada por respeitados
analistas de jornais como “The Guadian” e “The Independent”. Em seus comentários, Goody representa, sem medo das críticas, uma época, em que todo mundo, em blogs e twitters, clama por atenção.
Uma ex-participante do Big Brother britânico, que está com câncer terminal na coluna cervical, se casou neste domingo em frente às câmeras – um benefício que foi concedido à emissora que pagasse mais pela exibição.
O dinheiro será destinado a pagar a educação de seus filhos pequenos.Jade Goody, a quem os britânicos costumavam odiar mas agora enchem de elogios, casou-se com seu noivo Jack Tweed, de acordo com seu porta-voz, Max Clifford.
Jade, de 27 anos, e Tweed, de 21, foram aplaudidos de pé por 200 convidados no hall do hotel onde aconteceu o casamento. A cerimônia recebeu cobertura incrivelmente positiva da mídia britânica, e marca uma reviravolta para Jade, uma celebridade atrevida e rechonchuda que saiu da posição de típica jovem inglesa vulgar e mimada para um exemplo de bravura ao acompanhar seu diagnóstica de câncer.
Para esta doente terminal de 27 anos trata-se, também, de uma questão de coerência. Viveu alguns dos principais momentos da sua vida em frente às câmaras e quer estar junto a uma camera quando partir – o que segundo os oncologistas deverá acontecer dentro de poucas semanas uma vez que as metástases atingiram vários órgãos e não há tratamento possível. Para a protagonista, é apenas a gravação de uma morte anunciada.
O primeiro “episódio” aconteceu neste domingo, data em que Jade casou. A “Living TV”, que comprou os direitos, ainda não tem data certa para passar a cerimônia. As fotografias foram vendidas por 790 mil euros à revista “OK!” e o acordo inclui o batizado posterior dos seus filhos. O vestido de noiva foi do estilista Manuel Mota e foi oferecido por Mohamed al Fayed, dono da Harrod´s.
Ainda que houvesse extravagâncias comuns aos casamentos de celebridades – um helicóptero, hotel chique, equipes de televisão e contratos que garantiam os direitos de foto e vídeo da cerimônia -, as circunstâncias estavam longe de serem ‘típicas’.
A noiva estava careca por causa da quimioterapia, e carregava uma bolsa de analgésicos ‘escondida’ pelo design do vestido, que foi adaptado para tal; o noivo está em liberdade condicional depois de agredir um adolescente com um taco de golfe.
Embora Tweed esteja em regime semiaberto, o Ministério da Justiça britânica lhe concedeu uma dispensa especial para que ele pudesse passar a noite com sua noiva. “Deve ser a única noite que o casal passará junto”, disse o porta-voz de Jade.
Jade ficou sob os holofotes desde que participou da edição inglesa do Big Brother de 2002. Na ocasião, foi tão ridicularizada por suas gafes – ela chegou a perguntar se nos EUA se falava inglês – que a escola onde ela estudou no sul de Londres chegou a se defender, dizendo que ela não era uma aluna típica.
A jovem fez dinheiro de sua notoriedade publicando uma autobiografia, vídeos de malhação e uma linha de perfumes, mas seus conflitos com a atriz de Bollywood Shilpa Shetty, durante as filmagens do “Celebrity Big Brother” em janeiro de 2007, a deixaram marcada como racista e a excluíram do programa.
Jade tentou consertar, reatando com Shilpa, doando dinheiro para caridade na Índia e se oferecendo para participar da versão indiana do Big Brother. Durante as filmagens dessa edição, em agosto, ela descobriu que tinha câncer.
A decisão de filmar sua luta contra a doença – e daí fazer a maior quantidade de dinheiro possível, para beneficiar seus dois filhos – foi exaltada por toda a sociedade inglesa.
O primeiro ministro britânico Gordon Brown classificou como ‘trágica’ a história de Jade. O líder da Igreja Católica na Inglaterra e no Páis de Gales, o Cardeal Cormac Murphy-O’Connor, disse que a jovem é “uma mulher corajosa”.
Especialistas mencionaram que o número de diagnósticos precoces de câncer cervical, o que o torna mais fácil de ser tratado, aumentou desde que a história de Jade chegou às manchetes.
“Jade Goody conseguiu fazer o que nenhuma campanha de saúde pública foi capaz antes, que é colocar a atenção da opinião pública sob o assunto”, afirmou à Sky News neste domingo o legislador inglês Dr. Liam Fox.
PT/Publico