A Associação de cegos dos EUA planeja protestar contra filme do brasileiro Fernando Meirelles, “Ensaio sobre a cegueira”. Para o presidente da entidade, Marc Maurer, o retrato do filme é ofensivo e assustador que pode minar os esforços de integrar os cegos à vida em comunidade.
— O filme retrata cegos como monstros, e vejo isso como uma mentira. A cegueira não transforma pessoas decentes em monstros.
O protesto está planejado para a próxima sexta-feira, 3, dia de sua estréia nos Estados Unidos e será o maior nos 68 anos de história da associação. A Federação Nacional de Cegos e simpatizantes irão distribuir panfletos e carregar cartazes com os slogans: “Eu não sou ator. Mas eu ajo como uma pessoa cega na vida real”. Haverão piquetes nas salas de cinema em pelo menos 21 estados, alguns com dúzias de participantes, sincronizados para coincidir com as sessões noturnas.
Para a entidade, o filme reforça estereótipos incorretos, incluindo o de que cegos não podem tomar conta de si próprios e ficam para sempre desorientados. — Nós enfrentamos uma taxa de 70% de desemprego e outros problemas sociais porque as pessoas não acham que a gente possa fazer nada. E esse filme não ajuda em nada — afirma Christopher Danielsen, porta-voz da organização.
O diretor, Fernando Meirelles, estava em filmagens e não se manifestou. O estúdio Miramax, entretanto, divulgou um comunicado e afirmou:
— Meirelles trabalhou com dedicação para preservar as intenções e a ressonância do aclamado livro, uma parábola corajosa sobre o triunfo do espírito humano quando a civilização entra em ruínas. Ficamos entristecidos em saber que a Federação Nacional de Cegos planeja protestar contra o filme.
Baseado em um romance de 1995 do prêmio Nobel José Saramago, “Ensaio sobre a cegueira” imagina uma epidemia misteriosa que faz com que as pessoas não vejam nada que não uma luz branca embaçada – o que resulta em um colapso da ordem social. O livro foi elogiado por seu uso da cegueira como uma metáfora para a falta de comunicação e respeito à dignidade humana na sociedade contemporânea.
G1.
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