Mesmo após sentenças por crimes do colarinho branco, privilegiados vivem em mansões livres

O Brasil cultivou nas últimas décadas um grupo privilegiado de condenados. Ricos, engravatados e com trânsito nas instâncias do Poder, foram flagrados pilhando bilhões do dinheiro público e de seus clientes. Sentenciados à prisão por variado cardápio de crimes — gestão fraudulenta, sonegação fiscal, lavagem e remessa ilegal de dinheiro ao exterior, peculato, corrupção ativa e formação de quadrilha —, permanecem livres, enquanto os processos se arrastam nos gabinetes do Judiciário.
Uma das mais famosas condenações de criminosos do colarinho branco está prestes a prescrever. Sentenciado a 28 anos e 10 meses de prisão por fraudes de 16 bilhões de dólares e prejuízo de 9 bilhões de dólares aos cofres públicos, o ex-dono do Banco Nacional Marcos de Magalhães Pinto ficou três dias na carceragem da Polícia Federal no Rio, por ordem do juiz de primeira instância Marcos André Moliari. Conseguiu um habeas corpus e desde então responde em liberdade ao processo que se arrasta há 12 anos. A apelação está parada há seis anos em um gabinete do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, no Rio.
O ex-presidente do Nacional não tem pressa. Dos quatro crimes a que foi condenado, dois — fraude de balanço e formação de quadrilha — já prescreveram, e as penas foram extintas. Os outros dois — gestão fraudulenta e forjar informações ao Banco Central — têm pena maior: prescrevem daqui a um ano e meio. Após a apelação, ele ainda tem na manga recursos que levarão mais de quatro anos para serem julgados, como embargos de declaração, recurso especial e recurso extraordinário em tribunais superiores.
Se, ao julgar a apelação, o TRF reduzir as penas do ex-banqueiro quase pela metade, a exemplo do que fez com os demais membros da quadrilha no ano passado, Magalhães Pinto sairá um homem livre do tribunal. Isso porque a prescrição máxima cairá de 12 para 6 anos. Assim, as penas estarão extintas desde janeiro deste ano, porque esses seis anos contam a partir da sentença, de janeiro de 2002. O advogado do ex-banqueiro, Nélio Machado, reconhece que ele será beneficiado pela prescrição, mas assegura que “o objetivo é a absolvição na apelação”. O TRF não explicou por que a apelação do ex-banqueiro não foi julgada até hoje, embora tenha julgado a dos demais integrantes há um ano.
Alfredo Junqueira e Ana d’Angelo/ O Dia
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