Li, gostei e colei a matéria de Fátima Souza, repórter policial, em colaboração ao Portal IMPRENSA:
Os bastidores desta grande cobertura com certeza é uma grande matéria. Aconteceu de tudo, seja entre os profissionais ou em relação a dezenas de pessoas que, todos os dias, estavam de plantão na porta do Fórum de Santana, onde o casal Nardoni foi condenado (na sexta-feira, dia 26 de Março de 2010) pelo assassinato de Isabella, de cinco anos.
Entre os jornalistas e produtores, havia profissionais de gabarito, gente que tem anos de carreira. E havia também os iniciantes, conhecidos no jornalismo como “focas”.
– “Por quê atrasou o início da sessão?
– “Porque o juiz recebeu uma série de petições”
– “Peti” o quê? O que é isso”, perguntou a “jornalista” de unhas pintadas de verde.
Pacientemente, Rômulo explicou o que era uma “petição”, perante os olhos incrédulos de profissionais de verdade. Ao final da explicação, a garota, sorrindo e saltintante, disse:
– Ah! (com cara de quem não entendeu nada)… Adorei esta palavra! Petição…
Era só o começo… Horas mais tarde ouvi uma outra foca perguntar o que era homicídio doloso.
– “Quase certeza!”, respondeu, a iniciante.
E desde quando “quase” é chorar? Desde quando “quase” é notícia????????
“Barbaridade!”, diria minha velha e falecida avó.
Ainda na quinta-feira, aparece um jornalista representando o jornal Metro News. Veio para dar apoio a outro colega do mesmo jornal que estava na cobertura do caso desde segunda-feira. Alto, peito “bombado” e estufado, o menino (não mais de 25 anos) era destes que se “acha” maravilhoso, lindo e gostoso. Circulava pelos corredores do Tribunal e pela sala de imprensa com a camisa de dois botões abertos, como se fosse o Brad Pitt. Tive a impressão de que estava ali mais para “galinhar” do que para trabalhar com seriedade. E não era só impressão. O “bonitinho” conversa com o outro companheiro do Metro News:
– “Tem umas gostosas aqui, meu! Cada mulher! Aquela da Assessoria do TJ até que dá prá “pegar”… To ficando doido com tanta mulher boa!”
Então eu pensei (com o perdão da palavra): “puta que o pariu… A gente está aqui trabalhando com seriedade, disputando senhas para ir ao Júri e acompanhar os depoimentos e estes moleques estão aqui mais preocupados com as “gostosas” do que com o caso, o maior julgamento da história do País? Estão me tirando!”
Muitos tapas, poucos beijos e o “homem-peruca” na Globo
Brigas, palavrões, socos e tapas também marcaram a cobertura. Nos corredores o repórter do Jornal da Tarde, Leandro, bateu boca com um foca da Folha Online. Era a vez do Leandro ir ao Plenário e o iniciante da Folha queria ir de qualquer jeito, embora não fosse a vez dele. (Havia senhas e um revezamento de 20 repórteres por vez… cada grupo ficava uma hora no plenário e depois era substituído por outro grupo). E não é que o moleque iniciante bate o pé, fala alto e ainda “dedura” para a Assessoria de Imprensa do TJ que tem um repórter do JT e outro do Estadão no mesmo grupo? Ah! O Leandro ficou irado! Aos berros chamou o moleque de “dedo-duro”! Este foi um dos muitos bate-bocas…
O outro aconteceu entre um repórter da Jovem Pan e outro do jornal O Globo, durante a coletiva que estava sendo dada pelo advogado que representou os Nardonis, Dr. Roberto Podval. No meio da entrevista, os dois se desentenderam e aos berros, quase saem no tapa…
Também só não saíram no tapa dois repórteres da TV Bandeirantes porque a turma do “deixa prá lá” separou os dois… Ambos da mesma emissora se estranharam e foi um bate-boca ferrenho!
Já o pessoal da TV Globo não ficou no bate-boca não, saiu prá porrada mesmo! Primeiro foram socos num engraçadinho que decidiu fazer graça e, quando o repórter Cesar Trali estava ao vivo, o cara, fazendo a dança do caranguejo, ficou pondo e tirando uma peruca na cabeça… Foi ao ar! O operador da TV Globo deu um puxão no cara, tirando ele de cena… E ai o peruquinha levou dois socos bem dados pelo pessoal da Globo… E não é que a lição não valeu? No dia seguinte, o peruquinha voltou, fez a mesma graça e apanhou de novo… A gente descobriu depois que ele era funcionário das Casas Bahia e que, para passar pelo portão reservado à imprensa, “colou” o slogan da RedeTV! sobre o crachá das Casas Bahia…. É… tem doido prá tudo mesmo!
No dia seguinte, os repórteres da Globo e do SBT se preparavam prá entrar ao vivo quando começou um empurra-empurra. A repórter do SBT (Samara) empurrada acabou esbarrando no repórter da Globo… Aí, o operador de VT da platinada, muito mal educado, empurrou a garota e depois deu um “tapa” bem dado na cabeça dela. Assustada, a menina entrou no ar, ao vivo, na sequência, quase chorando! Uma baixaria do funcionário da TV Globo.
Aliás, a cobertura foi uma loucura! No final do dia, o promotor Francisco Cembranelli e o advogado de defesa, Podval, davam entrevistas coletivas. Daí o bicho pegava… Era gente se acotovelando, gritando, xingando, subindo em escadas e caixotes para ter o melhor ângulo para a TV ou para a foto que estaria nos jornais no dia seguinte… Uma confusão, uma “zona como se diz no popular português…. O Coronal Ricardo Souza, da Polícia Militar e encarregando da segurança no Fórum, até tentava arrumar a bagunça, mas não tinha jeito! Todo dia era a mesma baixaria…. educado e muito cortês, o coronel num dos dias perdeu a paciência e, abrindo os braços, disse aos jornalistas, repórteres, cinegrafistas e fotógrafos:
– Gente, pelo amor de Deus, o que é isso!!!????
E lá fora: até a camisa e toca do timão serviram de disfarce…
O público se acotovelava cada vez que alguém da família dos réus ou das vítimas e o promotor e advogado chegavam ao Fórum. O advogado e os familiares dos réus eram ostensivamente vaiados e xingados, enquanto o promotor e familiares de Isabella eram aplaudidos.
O coitado do advogado Roberto Podval chegou a levar um soco no peito, em um dia que decidiu almoçar num barzinho ao lado do Fórum (barzinho que, aliás, me disseram pertencer a um Juiz)… Na saída do almoço, um maluco apareceu e o agrediu, esquecendo que todos têm direito à defesa, mesmo os culpados. Podval foi vaiado todos os dias e chamado de “mercenário”, “advogado do diabo”, entre outras ofensas. Em um dos dias, quando saia do Fórum, seu carro foi chutado…
Para evitar passar por situações tão constrangedoras, o pai de Ana Carolina Jatobá saía “disfarçado” do Fórum. Em um dos dias, no estacionamento do Fórum, ele olhou para os lados e, como não viu ninguém observando, tirou a camisa que usava, abriu o porta malas do seu carro e de lá tirou – e vestiu – uma camisa e uma touca do Corinthians. Uma tentativa de não ser reconhecido pelo público como pai da assassina. A imagem foi gravada pelo competente jornalista da TV Record, Leandro Santana.
Para o promotor, os aplausos: O promotor Francisco Cembranelli recebia os aplausos do público, que gritava como se fosse um jogo de futebol: “Ú, Cembranelli, Ú, Cembranelli…”. Na quinta feira, já se sentindo “próximos” ao promotor, gritavam: “Ù, Cembra!”, “Ú, Cembra!”
Durante os cinco dias, um homem ficou na porta do Fórum, amarrado numa enorme cruz e com um cartaz com a foto da Isabella no peito. Não era parente e nem amigo da família, mas queria “protestar”… Acho que ele queria mesmo era aparecer na TV e nos jornais e conseguiu: todo mundo mostrou as imagens e fez entrevista com ele… M
Meu amigo querido Plínio Delfino, repórter e produtor do SBT, comentou comigo: “é por isso que ele insiste em ficar aqui… por causa da imprensa… Queria ver é ele pregado com prego e não com uma cordinha… O cara quer é aparecer!”
E, um dos maiores absurdos que aconteceu foi o que eu chamei de “marketing da morte”…
Primeiro foi o Diário de São Paulo que mandou vários homens, vestindo a camisa do Diário, distribuir, de graça, ao publico presente na porta do Fórum, o jornal do dia, no qual a manchete, claro, era o caso do assassinato da menina…
Depois foi uma mulher que apareceu na sexta-feira, último dia do caso, entregando panfletos que anunciavam “vagas” em um cemitério. Os interessados e precavidos poderiam comprar um jazigo no local, a preços módicos e pagamentos em parcelas a perder de vista. Na cara de pau, a mulher entregava os panfletos e dizia: “olha, é lá que está enterrada a Isabella.Você pode ter seu túmulo do ladinho do dela!”
Confesso que fiquei com muita vontade de entrar para o time da TV Globo e sair na porrada! Um abuso que merecia mesmo que aquela mulher levasse uns tapas!
Mas me acalmei e pensei: UFA! Ainda bem que é o último dia…
Bem, último dia deste caso porque fomos assim em casos anteriores (como o da Suzane Richtofen) e assim seremos nos próximos casos.