Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), entidade que controla os medicamentos no Brasil, quer banir de vez a comercialização de todas as drogas usadas para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).
A única droga para o tratamento da obesidade que continuará legalizada será o orlistate (Xenical®), que atua directamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura.
Estudos apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos. Desde o ano passado que a Anvisa impôs novas regras e endureceu os critérios de venda desse fármaco, que deixou de ser vendido como medicamento comum no Brasil e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, drogas que exigem receita especial.
A proposta de proibir os medicamentos para emagrecer foi anunciada a especialistas e entidades médicas da área na semana passada e será publicada hoje ( quarata-feira) no site da agência, junto com um parecer explicando os motivos.
Para os médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade, a medida é radical e vai deixar os pacientes sem opção de tratamento, já que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro. “Quase metade da população brasileira tem excesso de peso. Muitos doentes não conseguem perder peso com o tratamento clínico convencional, que inclui dieta e exercícios físicos. Como vamos controlar a obesidade desses doentes sem mexer no cérebro?”, diz o endocrinologista Márcio Mancini, chefe do departamento de obesidade do Hospital das Clínicas (HC).
Estudo
Os benefícios não superam os riscos. Esse é o principal argumento que a Anvisa pretende usar na próxima semana, durante uma audiência pública, para convencer a classe médica de que é melhor proibir de vez o uso de medicamentos usados para emagrecer.
Segundo Dirceu Barbano, diretor da agência, o assunto tem sido discutido desde o ano passado, quando a União Europeia baniu a sibutramina. “Quase nenhum outro país tem sibutramina. As anfetaminas também estão diminuindo. E não há notícia de que isso piorou ou atrapalhou o tratamento da obesidade”, diz. Em 2009, foram vendidas no Brasil 67,5 toneladas de sibutramina.
Segundo Barbano, a Anvisa fez um levantamento interno e concluiu que, por mais que o medicamento seja controlado e indicado apenas para doentes com determinados perfis, não há evidências suficientes que demonstrem que a perda de peso supera os riscos cardíacos. “A nossa proposta, sustentada por uma extensa pesquisa, é de retirada imediata desses produtos do mercado. A não ser que consigam demonstrar-nos com dados consistentes que estamos errados e esses remédios são bons e seguros”, diz.
AE