Morreu ontem, aos 88 anos, no Rio de Janeiro, Iramaya Queiróz Benjamin, fundadora do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA). Ela morreu no mesmo dia em que o Levante Popular da Juventude e o movimento Articulação Nacional pela Memória, Verdade e Justiça promoveram outro escracho contra um dos suspeitos de torturar e matar presos políticos durante a ditadura militar.
O alvo do protesto de ontem pela manhã foi Dulene Aleixo Garcez dos Reis, capitão da Infantaria do Exército em 1970, que teria participado das sessões de tortura que resultou na morte, nas dependências do DOI-CODI, na Tijuca, do jornalista e secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Mário Alves. O protesto aconteceu onde mora o suposto torturador, na rua Lauro Muller, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele é subsíndico do prédio.
Garcez também é reconhecido como um dos torturadores do ex-militante político Cid de Queiróz Benjamin, filho de Iramaya, que junto com outras mães de presos políticos, teve a iniciativa de lançar o Comitê Brasileiro pela Anistia, no ano de 1978. Ela foi enterrada no Cemitério São João Batista.
Quem foi Iramaya Queiróz Benjamin:
Durante a ditadura militar, ela teve dois filhos presos, torturados e exilados. Carioca, Iramaya Benjamin viu sua vida se transformar na luta pela anistia, ou seja, o perdão aos presos políticos do período. Depois do exílio do primeiro filho, e a prisão por longos cinco anos do mais novo, apesar dele ser menor de 18 anos, Iramaya formou um grupo de parentes de presos para organizar o comitê.
À frente dele, ela liderou passeatas, manifestações e realizou palestras contra a ditadura.
– Queríamos que o povo ficasse sabendo o que era o comitê e soubessem que a causa da anistia era a causa do povo brasileiro, para que o povo saísse daquele regime de escuridão – disse ela em 2006.
Além da anistia, o comitê lutava pelo fim da lei de segurança nacional e da lei que exigia atestado de ideologia política para admissão em empregos. Pedia ainda que os filhos de exilados políticos pudessem obter passaportes.
– Dávamos também apoio aos presos políticos por que muitos de nós tínhamos filhos presos.
Casada com um coronel do exército reformado, Iramaya conta que não era bem vista pelos militares e fingia não perceber para continuar seu trabalho.
– Para mim, o que estava em jogo era o bem estar, a felicidade dos meus filhos e, de quebra, a minha mesmo por que eu não tinha como ser feliz sabendo que meus filhos estavam no exterior, sem dinheiro e sem emprego.
Ao assumir a presidência da República em 1979, João Baptista Figueiredo não admitia falar em anistia. O comitê continuou com seus trabalhos.
– No último dia de julho o Figueiredo assinou a Lei da Anistia. As mães foram todas ao aeroporto com bandeiras, faixas e palavras de ordem. Foi um movimento muito bonito.
O Globo
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