Bahrein leva menino de 11 anos a julgamento por suposta participação em protesto


Ali Hasan diz que só estava brincando na rua quando foi preso

Em uma época onde a maioria dos meninos de 11 anos está de olho nas  férias escolares, Ali Hansen está se preparando para seu julgamento.

Na manhã desta quarta-feira, 20, o aluno do ensino fundamental do subúrbio de Manama, no Bahrein, apresentou-se a um tribunal para ouvir as acusações contra ele. A promotoria alega que Hassan ajudou a bloquear uma rua com lixeiras e pedaços de madeira durante uma manifestação antigoverno no mês passado.

Em uma entrevista dada por telefone ao Guardian, Ali disse que no dia que antecedeu sua prisão houve conflito nas ruas entre a polícia e manifestantes.  ”Os manifestantes bloquearam as ruas ateando fogo em pneus e usando latas de lixo”, disse Hassan por telefone de sua casa, no subúrbio de  Bilad al-Qadeem.

O governo do Bahrein tem sido implacável na perseguição aos acusados de envolvimento nos protestos, que já duram 15 meses, contra a dinastia Khalifa, com acusações contra médicos, enfermeiros e ativistas de direitos humanos. O caso de Ali Hasan abre mais um precedente na repressão à sociedade civil. Ele é tido como o mais novo barenita a ser levado a julgamento por ligações com revoltas.

Hassan chegou a passar semanas na prisão, onde fez suas provas escolares antes de ser solto através de fiança. Após sua prisão, foi levado a diversas delegacias onde diz ter sido forçado a confessar participação nos protestos contra o governo. ‘Eu chorava o tempo todo. Eu disse que confessaria qualquer coisa para voltar para casa’, afirmou.

O pai de Hassan, Jasem Hasan, revendedor de peças de automóveis, disse que seu filho foi levado de volta à detenção um dia depois de sua prisão. “Eu estava viajando na época. Quando telefonei para a mãe dele ela chorava muito. Ela chorou durante todo o tempo em que Ali esteve preso”.

Prisão infantil

Hassan passou um mês na prisão em um cárcere com outros três meninos e era forçado a fazer a limpeza do lugar. O menino disse se sentir como um animal preso em uma jaula e nunca mais quer voltar à prisão. “Nós acordávamos cedo, por volta das 6h30, e tínhamos tarefas para fazer. O primeiro dia foi horrível. Eu chorei o tempo inteiro, mas acabei me tornando amigo dos outros meninos, e nós podíamos brincar durante quatro horas por dia. Mas o resto do dia passávamos trancados em um quarto”.

O promotor chefe para menores de 18, Noura Al-Khalifa, disse que Hassan foi detido enquanto bloqueava ruas e que ele participava da manifestação. O pai de Hassan nega as acusações. “Eles dizem que meu filho aceitou dinheiro para incendiar pneus e bloquear as ruas. Não somos ricos, mas temos o suficiente, e meu filho não precisa ir procurar dinheiro nas ruas. Eu sempre dou dinheiro suficiente para ele”.

O advogado de Hassan, Mohsen al-Alawi, diz que o menino não teve nada a ver com a manifestação. “Ali não é um ativista político nem um manifestante. Ele só estava brincando como outras crianças de sua idade”.

A Organização Internacional dos Direitos Humanos demonstrou preocupação pelo fato de o menino não estar acompanhado durante seu interrogatório. “Parece que a única evidência contra ele é a sua confissão e o testemunho de um policial”, disse Mariwan Hama-Saeed, membro da organização.

Os governos da Inglaterra e dos EUA têm sido criticados por manter relações próximas com o Bahrein e não denunciar abusos de direitos humanos durante revoltas que já causaram um grande número de mortes. O ministro das Relações Exteriores dos EUA para o Oriente Médio, Alistair Burt, que visitou o Barhein semana passada, incentivou o avanço das reformas no país e disse que ainda há muito por fazer.

Hassiba Hadj Sahraoui, vice diretora da Anistia Internacional no Oriente Médio e Norte da África, disse estar espantada com o caso. “Prender um menino de 11 anos, interrogá-lo durante horas sem um advogado, antes de julgá-lo por falsas acusações mostra uma falta de respeito por seus direitos de fazer cair o queixo”.

Ela acrescentou que esse tipo de tratamento está completamente fora de sintonia com os padrões internacionais. “Esse caso demonstra os excessos que as autoridades do Bahrein utilizam para esmagar as manifestações. Espero que eles recuperem o senso e retirem todas as acusações contra Ali Hasan”.

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