Arquivo do dia: março 22, 2012

Filme: Raul Seixas o início, o fim e o meio

 

Na onda dos novos documentários que fazem a arqueologia dos primórdios da cultura pop nacional, Raul – O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho, é o filme que vem para reaproximar a lenda histórica da emoção que um dia ela causou. Raul Seixas (1945- 1989), o mito fundador do rock nacional, ressurge inteiro em sua capacidade de mobilizar, causar ternura, rebelião, beleza, atração, repulsa, orgulho, piedade, espanto.

Para reproduzir uma definição do próprio artista, é um filme que deve catapultar uma nova onda de “raulseixismo”. Segundo dados da produção, mesmo 20 anos após sua morte, Raul Seixas é um dos artistas que mais vendem discos no País, cerca de 300 mil cópias ao ano. Seus álbuns podem ser encontrados na loja Amoeba de Los Angeles ou num shopping center de Gifu, no Japão.

Raul Santos Seixas morreu em 21 de agosto de 1989, aos 44 anos. Uma vida de excessos, dias intensos, paixões tórridas, bebedeiras homéricas, ressacas apocalípticas. O legado do maluco beleza do rock nacional é quase tão vivo quanto no seu auge, nos anos 80.

Quando o cineasta Walter Carvalho pensou em um título para seu documentário sobre Raul Seixas, que estreia amanhã em todo País, imaginou apenas estampar o primeiro nome do roqueiro. Seria simples e quase autoexplicativo. Depois, achou melhor o nome todo.

O subtítulo não veio para explicar muito, talvez, mais para confundir: Raul Seixas: O Início, o Fim e o Meio. Com Raulzito, como ele era conhecido desde os tempos de moleque arteiro nas ruas de Salvador, na Bahia, até seu primeiro grupo de rock (Raulzito e os Panteras), nada seguia uma lógica.

O documentário se propõe a narrar os dias de Raulzito, do garoto fã de Elvis a artista já corroído pelos vícios. Walter Carvalho não se furta de assuntos polêmicos, como casos extraconjugais, excessos de drogas (maconha, cocaína, ácido) e os tempos em que participava de rituais satânicos. Trata-se de um retrato humano do mito Raul Seixas – com uma trilha sonora que vale o ingresso por si.

“Ao começar, minha única intenção era conhecer Raul Seixas. Eu não faço filme para provar nada”, diz o diretor Walter Carvalho. “Achava e continuo achando que um mito como Raul não tem explicação e nem deve ter. Ele está no inconsciente das pessoas.”

O esforço biográfico desencavou imagens inéditas de diversos arquivos e cerca de 94 (50 estão no filme) entrevistas em Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro e no exterior (Suíça e Estados Unidos), reunindo ex-mulheres, filhos, amigos de infância, músicos, profissionais da área musical e parceiros, como Paulo Coelho. O desfile de familiares e amigos é vertiginoso – quando Dakota, o neto de Raulzito, surge em cena, exibindo a mesma cara desafiadora e alegre do avô, um colar de couro neo-hippie no pescoço, a disposição de ouvir os discos do velho no quarto, é como uma redenção para o espectador.

Raul não nutria grande simpatia por Caetano Veloso, um dos depoimentos mais marcantes do filme, e a MPB dita “universitária” sempre teve preconceito em relação à obra dele – considerada por intelectuais da música como simplista, “tresacordista” demais, escorada muitas vezes numa sonoridade típica do brega nacional. Ainda assim, é tocante a sinceridade de Caetano ao admitir a genialidade da canção Ouro de Tolo e do seu verso preferido (“Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado: macaco, praia, carro, jornal, tobogã; eu acho tudo isso um saco”).

O documentário provoca grandes cenas de humor involuntário, como quando confronta Paulo Coelho, escritor e ex-parceiro de Raul Seixas, com seu contrato com uma seita satanista. Paulo Coelho não voltou para rescindir o contrato, diz seu ex-mestre, o que deixa o autor (que ficou muito rico) apreensivo.

A habilidade de colocar o dedo nas feridas traz rancores adormecidos à tona: traições conjugais, brigas, esquecimentos. A equipe do filme deixa sem graça o irmão vivo de Raul Seixas, Plínio, com a lembrança de que a canção Meu Amigo Pedro foi feita em sua “homenagem”. Diz assim: “Hoje eu te chamo de careta, Pedro/E você me chama vagabundo”.

As cenas que mostram os últimos shows de Raulzito, já decadente, são dolorosas. Mas sempre muito reveladoras. O encontro no palco com o antigo partner, Paulo Coelho, o surpreende e maravilha. Mas, no camarim, Paulo Coelho não consegue ser senão protocolar com Raulzito, que quer abraçá-lo, conversar com ele. Raulzito tinha se tornado um fardo, um constrangimento para os amigos.

Não é um documentário definitivo, haverá sempre uma parte inédita de Raul a ser revelada. Baiano alegre que, aos 9 anos, imitava Elvis Presley, e, aos 20, já tinha mudado a face da música brasileira, Raul contaminou gerações com seu toque libertário.

Preste atenção

1. Raul e Paulo Coelho, em turnê, brincando de dançar sapateado e fazendo micagens lembram os Beatles (Os Reis do Iê Iê Iê)

2. Foi o irmão de Raul, Plínio, quem forneceu cenas de Super-8 inéditas e gravações em fita (Raulzito mandando recados)

3. Atores são distribuídos pelo filme. No ritual de sacrifício de animais da seita satânica, quem atua é um sósia, e não Raulzito

4. No último show de Raulzito, em Brasília, o cantor vira o microfone para o público e capta áudio da multidão gritando “Raul”

5. A última mulher de Raulzito, Helena Coutinho, foi namorada de adolescência do diretor Walter Carvalho durante dois anos

RAUL – O INÍCIO, O FIM E O MEIO

Direção: Walter Carvalho.

Gênero: Documentário (Brasil/2011, 120 min.).

Classificação: 12 anos.

Estreia dia 23

 

 

KOMBI DEIXARÁ DE SER PRODUZIDA

Depois de 62 anos como um dos veículos mais vendidos no Brasil, a Kombi deixará de ser comercializada a partir de 2014. Nos últimos anos, a perua ficou parada no tempo. A Volkswagen, fabricante do veículo, que hoje é produzido apenas por aqui, não conseguiu encontrar uma solução para modernizá-la e equipá-la com air bag e freios ABS. Daqui a dois anos, segundo legislação aprovada em 2009, todos os carros produzidos no Brasil deverão sair da fábrica com esses dois itens.

Modelos apresentados em 1975 (Foto: Editora Globo)MODELOS APRESENTADOS EM 1975 (FOTO: EDITORA GLOBO)

Não faltaram esforços para evitar a morte dessa sessentona. Em 2010 a Volks designou um alemão, Dietmar Schmitz, diretor de desenvolvimento de veículos comerciais que trabalhava na sede da empresa, em Wolfsburg, na Alemanha, para achar um meio de colocar os freios ABS e o air bag na Kombi. Ele mesmo disse que esse era um dos pedidos mais estranhos de toda sua carreira de engenheiro. Estranho e difícil, já que Schmitz não foi bem sucedido nessa tarefa. Um de seus desafios era achar um espaço no eixo dianteiro do carro para colocar os sensores que enviam a um computador central a mensagem para abrir o air bag em caso de colisão. Nada feito.

A Volkswagen, porém, diz que “não há nenhuma definição sobre o assunto e que a Kombi continua a ser produzida normalmente”. Época NEGÓCIOS ouviu fontes próximas a empresa e consultores que confirmam o fim da Kombi a partir de 2014.

A velha Kombi, modelo saia e blusa, vista de frente (Foto: Editora Globo)A VELHA KOMBI, MODELO SAIA E BLUSA, VISTA DE FRENTE (FOTO: EDITORA GLOBO)

Essa não é a primeira vez que a Kombi, que começou a ser vendida no Brasil em 1950 e fabricada aqui sete anos depois, se vê num impasse tecnológico. Em 1997, por conta de uma nova legislação ambiental, a perua ganhou injeção eletrônica, em substituição ao carburador. Era o único carro brasileiro que ainda contava com esse tipo de equipamento. Nove anos mais tarde, em 2006, deixou de ter motor refrigerado a ar – foi o último modelo produzido no mundo dessa forma – para ter a refrigeração à água. Essa é uma forma mais moderna e mais potente de evitar o aquecimento do motor.

A palavra Kombi vem do alemão Kombinationfarhzeug, que significa veículo de uso combinado. Esse nome é usado apenas no Brasil e no México (lá a palavra se escreve com C, Combi). Em Portugal, a perua é chamada de Pão de Forma. Na Alemanha, é Bulli. Nos Estados Unidos, Bus; e, na Polônia, Papuga.

Kombi - modelo de 1976 (Foto: Editora Globo)KOMBI – MODELO DE 1976 (FOTO: EDITORA GLOBO)

Desde 1996, o Brasil é o único produtor de Kombi do mundo. Atualmente, o veículo é exportado apenas para a Inglaterra. Desde 2000, uma empresa compra de 100 a 200 unidades do veículo para transformá-los em motorhome, conhecido por aqui como trailer. Em fevereiro deste ano, segundo dados da Fenabrave, a federação nacional da distribuição de veículos automotores, a perua da Volks foi o quarto utilitário mais vendido no país e o sétimo mais vendido no ranking que também contabiliza veículos de passeio.


Época NEGÓCIOS

%d blogueiros gostam disto: