Doença atinge mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo. Vacina evitou a malária em 56% dos casos, a maior porcentagem já encontrada nesse tipo de estudo

Pesquisadores podem finalmente ter conseguido desenvolver uma vacina contra uma das doenças que mais matam nos países em desenvolvimento. Segundo um estudo publicado nesta terça-feira (18) na revista científica The New England Journal of Medicine, uma vacina obteve pela primeira vez bons índices de eficiência contra a malária.
Até o atual estágio da pesquisa, que está em sua terceira fase, a vacina conseguiu reduzir pela metade os riscos de infecção em bebês de 5 a 17 meses de vida por malária. A vacina tem uma eficácia em 56% dos casos de malária clínica e em 47% dos casos de malária severa. O estudo também indicou uma taxa de mortalidade de malária bastante pequena. Apenas dez crianças, das 8 mil que participaram do estudo, morreram da doença.
A vacina contra a malária vem sendo desenvolvida nos últimos 25 anos e, aliada a outros tratamentos, pode ajudar a erradicar um mal que atinge mais de 200 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, em especial em países da África. Segundo o epidemiologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP, mesmo uma eficácia de 50% já é uma boa notícia. “É uma potencial boa notícia, uma potencial alternativa. Até chegar de fato à vacina falta chão. Mesmo com essa eficácia, ela pode ser considerada uma opção no futuro em lugares em que a malária é endêmica e em que as medidas profiláticas não ajudam muito, como repelentes e mosquiteiros. Na selva, por exemplo, é uma luta inglória contra o mosquito.”
O resultado final do estudo será publicado apenas em 2014, mas a expectativa dos bons resultados já faz a Organização Mundial da Saúde (OMS) cogitar a possibilidade de utilizar a vacina em países africanos em 2015, caso a eficácia se confirme. A vacina está sendo desenvolvida por uma parceria público-privada entre a GlaxoSmithKline e a Gates Foundation, fundação de Bill Gates que investe recursos para a melhoria das vidas de crianças africanas.
O próximo passo é avaliar por quanto tempo dura a imunidade da vacina. Além disso, alguns resultados merecem ser analisados com atenção. Os resultados mostraram uma incidência maior de meningite em crianças que tomaram a vacina, um ponto que os pesquisadores não conseguiram explicar, mas que pode ser um dado aleatório, sem nenhuma relação com a vacina. Outro dado que ainda preocupa é a incidência de reações, entre elas febre e, em alguns casos mais raros, convulsões (0,1% dos casos), indicando que a vacina merece um estudo mais detalhado.
Segundo a OMS, no mundo todo ocorrem 225 milhões de casos de malária por ano. Desses, 800 mil são fatais. A doença é considerada um dos principais obstáculos para o desenvolvimento dos países da África Subsariana. No Brasil, a doença tem maior incidência no território da Amazônia Legal. O Ministério da Saúde calcula que houve cerca de 300 mil casos de malária no país em 2009.
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