A exportação de atletas sempre foi a grande fonte de receita dos clubes de futebol. Mas isso mudou em 2009. A crise no mercado europeu esvaziou os cofres dos times que caçam talentos por aqui.

O retorno de astros como Ronaldo (Corinthians), Adriano (Flamengo) e Fred (Fluminense) fez com que as receitas com os contratos de transmissão dos jogos pela TV superassem os ganhos com a venda de talentos.
Levantamento da Casual Auditores Independentes, membro da britânica Parker Randall International Partner, mostra que, em 2009, 27% da receita de R$ 1,3 bilhão obtida pelos principais clubes veio dos contratos de TVs, enquanto a transferência de atletas somou 21% do total.
“Foi a primeira vez que isso aconteceu”, explica Carlos Aragaki, consultor da Casual Auditores. Em 2008, por exemplo, a venda de craques representou 28% das receitas, enquanto os contratos com TV somaram 24% do total.
Aragaki diz que essa é uma tendência que deve se repetir este ano, quando novos astros – como Robinho (Santos) e Cicinho (São Paulo) – desembarcaram por aqui.
“Os clubes estão se profissionalizando, valorizando suas marcas e tentando se aproveitar do aumento da concorrência na disputa pela transmissão dos jogos”, diz.
Concorrência
Uma das causas dessa maior competição vem do interesse da Rede Record em abocanhar parte da transmissão dos principais campeonatos do país.
Não bastasse o aumento já negociado com o Clube dos 13 para a renovar os direitos do Campeonato Brasileiro de 2009 a 2011, a Rede Globo também antecipou a assinatura do contrato de transmissão do campeonato paulista do ano que vem com os quatro maiores times de São Paulo (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos).
Além disso, os clubes também estão lucrando com a fragmentação nas mídias, que acirrou a concorrência pelos direitos de transmissão.
“Os contratos têm televisão aberta, fechada, Pay-Per-View e internet”, explica Amir Somoggi, diretor da consultoria Crowe Horwath RCS e especialista em gestão de marketing esportivo.
O Terra, portal da Telefônica, tentou comprar direitos dos jogos em 2009, mas não conseguiu bater a oferta da Globo. Segundo Somoggi, ter canais na TV fechada dá vantagem à emissora na negociação.
“Pela primeira vez, existe uma remuneração variável negociada com o Clube dos 13, que é um bônus para o time que vender mais Pay-Per-View”, diz Somoggi.
O diretor de relações institucionais e marketing do Clube dos 13, Ataíde Gil Guerreiro, diz que o contrato com a Globo gira em torno de R$ 600 milhões, fora o percentual – entre 30% e 40% – nas vendas do Pay-Per-View na TV paga. Segundo estudo da Crowe, em 2003, as cotas de TV somaram R$ 265 milhões.
Publicidade e bilheteria
A chegada dos astros trouxe outros benefícios aos clubes. Ao desembarcar no Corinthians, Ronaldo elevou não apenas os ganhos com patrocínio e publicidade, mas também a receita com venda de ingressos e de produtos associados ao time, que faturou R$ 27,6 milhões só com bilheteria.
Graças a isso, teve lucro de R$ 5,8 milhões em 2009, o segundo melhor resultado do país, atrás apenas do lucro de R$ 10,5 milhões registrado pelo Atlético Paranaense.
“A volta dos craques trouxe os torcedores outra vez aos estádios”, lembra Aragaki. O lado negativo dessa importação de talentos foi o aumento dos gastos dos clubes, já que eles saem caro para folha de pagamento. No Corinthians, por exemplo, os gastos subiram 64%.
“Mas no final, o saldo é positivo e as perspectivas para os clubes brasileiros seguem muito boas”, conclui Aragaki.
Fonte de Receita
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27% foi o peso dos contratos de transmissão dos jogos pela TV no total da receita de R$ 1,3 bilhão obtida pelos clubes em 2009. |
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21% foi quanto pesou na receita o lucro com venda de atletas para o exterior no ano passado. Em 2008, esse índice foi de 28%. |
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12% das receitas dos clubes em 2009 vieram da venda de ingressos para os jogos. No ano anterior, a bilheteria foi 11% do total. |
laine Cotta e Conrado Mazzoni/Brasil Econômico
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