Arquivo do dia: maio 29, 2010

Morre o ator Dennis Hopper

O ator americano Dennis Hopper, mais conhecido por dirigir e estrelar o clássico de 1969 “Sem destino” (“Easy Rider”), morreu às 12h15m (horário de Brasília) deste sábado em decorrência de um câncer de próstata. Hopper tinha 74 anos e morreu em casa, em Los Angeles, cercado por familiares e amigos. As informações são de Alex Hitz, amigo próximo ao ator.

Em uma diversificada carreira de mais de 50 anos, Hopper apareceu ao lado de seu mentor James Dean em “Juventude transviada”, na década de 50, e interpretou maníacos em filmes como “Apocalipse now”, “Veludo azul” e “Velocidade máxima”. O ator foi indicado duas vezes ao Oscar: pelo roteiro de “Sem destino” (junto com o ator Peter Fonda e Terry Southern) e pela interpretação de um professor de basquete de um colégio no drama “Momentos decisivos”, de 1986.

“Sem destino”, considerado um dos melhores filmes do cinema americano, fez parte de um movimento que revelou jovens talentos como Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. De baixo orçamento, “Sem destino” levou aos cinemas o consumo de maconha, tráfico de cocaína e popularizou os motoqueiros cabeludos. “Nós tínhamos atravessado a década de 60 e ninguém tinha feito um filme sobre fumar maconha sem matar um monte de enfermeiras”, disse Hopper è revista “Entertainment Weekly” em 2005. “Eu queria que ‘Sem destino’ fosse como uma cápsula do tempo sobre aquele período”, completou.

dennis hopper / arquivo

Dennis Hopper e Peter Fonda se juntaram na tela por um até então desconhecido Jack Nicholson como um advogado alcoólatra, mas o set de filmagens não foi nada harmonioso. Hopper tratou a todos com violência e Fonda o descreveu mais tarde como um “pequeno fascista louco”. A amizade dos dois acabou ali.

Hopper se sentiu mal em setembro do ano passado, mas continuou trabalhando até o fim. Hopper vivia o personagem Ben Cendars na série de TV “Crash” e estava tralhando em um livro que mostra sua fotografia. Os últimos meses do ator foram consumidos por um conturbado divórcio com sua quinta mulher, Victoria Duffy.

A vida pessoal de Hopper foi bastante conturbada. Seus muitos casamentos incluem uma união de apenas oito dias com Michelle Phillips, do grupo The Mamas and The Papas, na década de 70. Hopper deixa quatro filhos.

Secretário do Tesouro Inglês usa dinheiro público com namorado

Secretário alugava quartos de propriedade do companheiro para receber benefício

Rupert Hartley/24.05.2010/Reuters
Foto por Rupert Hartley/Reuters

David Laws declarava alugar quartos de propriedades de seu namorado,
com quem mora, para justificar o recebimento de ajuda para moradia

O secretário de Estado do Tesouro do Reino Unido, David Laws, pediu desculpas após o jornal britânico Daily Telegraph revelar que ele usou mais de R$ 105,1 mil (40 mil libras) de verbas públicas em gastos pessoais.

Laws, cujo cargo tem nível de ministro, é um liberal-democrata do novo governo de coalizão britânico, liderado pelos conservadores.

Ele admitiu as acusações, prometeu reembolsar o dinheiro e se comprometeu em apresentar seu caso ante a comissão de ética do Parlamento.

Laws, ex-banqueiro, utilizou as verbas públicas para pagar o aluguel da casa que dividia com o namorado.

Ele admitiu ter reclamado durante oito anos, entre 2001 e 2009, o reembolso de gastos de até R$ 2.497 (950 libras) por mês pelo aluguel de quartos de duas propriedades de seu companheiro, James Lundie.

Sequestrada aos 7 meses encontra a família

Ela foi sequestrada aos sete meses de vida. Chegou a ser adotada. Voltou para uma das várias casas de assistência social por onde passou. Fugiu 29 vezes. Morou nas ruas. Nesta semana, finalmente achou o que sempre queria: sua família.

Essa é a saga de Maíra Luiza Bueno, 15. A história começou em 1995, quando Maíra foi sequestrada em Piraquara (21 km de Curitiba). A avó Maria da Penha Paulino, hoje com 57 anos, diz que foi a vizinha que levou o bebê.

Ela e a mãe, Andreia Amália Bueno, hoje com 36, trabalhavam como ambulantes no centro de Curitiba e sempre deixavam Maíra e a certidão de nascimento da criança com a vizinha, caso ela precisasse levá-la ao posto de saúde numa emergência.

Numa certa noite, ao voltar do trabalho, a avó encontrou a casa da vizinha fechada. Desconfiou que algo estava errado e confirmou os maus presságios depois: a mulher havia sumido com a neta, sem deixar notícias.

Três anos depois, Maíra foi abandonada –não se sabe por quem– num abrigo em Presidente Prudente, no interior de SP e a 582 km de Piraquara. E foi adotada.

Mas a menina não se deu bem com a nova família. As discussões eram constantes e, aos 12 anos, Maíra foi parar em um abrigo. Na sua versão, fugiu. O abrigo diz que ela foi deixada pelos pais adotivos.

Rotina de Fugas

Maíra iniciou uma série de fugas –foram 29. Ela conta ter passado noites na rua, com fome e frio. Há dois anos, sua sorte começou a mudar. Uma ordem judicial determinou que ficasse no Centro de Referência da População Migrante de Rua, em Presidente Prudente.

A coordenadora do centro, Avelina Campos, e a educadora Edmeia Arenales passaram a investigar qual era, afinal, a família de Maíra. Cruzaram dados da certidão de nascimento dela com os de diversos bancos de dados.

O documento, que foi roubado pela sequestradora com a menina, facilitou o crime e o trânsito entre Estados, mas foi também o elo principal para o reencontro.

Campos e Arenales encontraram o nome da avó de Maíra cadastrado no programa Bolsa Família, em Campo Largo (PR), onde mora.

Acionaram a prefeitura da cidade, que indicou o conselheiro tutelar Jorge Luiz do Nascimento, 46, para continuar as buscas. Foi ele quem comprovou que se tratava de fato de avó e neta.
Maíra diz que não se lembrar de muita coisa. Sabe apenas que foi deixada no abrigo por uma loira que se dizia sua mãe e que prometia voltar para buscá-la.

O reencontro tão esperado aconteceu na manhã da última quarta-feira, no abrigo, em Presidente Prudente. Houve choro e abraços. “Foi emocionante”, diz a menina. “Era a única que faltava para a nossa família ficar completa”, afirma a avó.

Novo endereço

Desde ontem (28), Maíra tem um novo endereço. Mora em uma casa simples com avó, mãe (que não teve outros filhos), tios e primos em Campo Largo. A readaptação será acompanhada de perto por assistentes sociais da cidade.

“Era exatamente o que eu imaginava: uma família grande, com primos e um tio engraçado. Não existe amor maior do que o da família de verdade”, diz Maíra.

Império em litígio: Adriano e Love brigam


Imperador teria expulsado o ex-companheiro de Flamengo de uma festa em seu apartamento por causa de uma mulher

Depois da separação amigável no campo esportivo, o Império do Amor acabou com um divórcio litigioso fora dele. Segundo o colunista Ancelmo Gois, do Jornal “O Globo”, Adriano e Vagner Love brigaram feio na sexta-feira por causa de uma mulher na festa de despedida do Imperador, que rescindiu seu contrato com o Flamengo para jogar no Roma, da Itália.

Diz o colunista que Vagner Love foi expulso por Adriano de sua casa. Love teria saído chorando do condomínio onde o ex-companheiro de ataque mora, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.

Telebrás pagou R$ 210 mi a mais por indenização


Ré no mesmo processo, Embratel fechou acordo por R$ 44 mi, enquanto estatal aceitou pagar R$ 253,9 mi

Ação foi movida por um amigo do ex-ministro Hélio Costa (PMDB); ex-dirigente da Telebrás diz que ignorava acordo

Contrato confidencial obtido pela Folha prova, quatro anos depois, que a Telebrás pagou R$ 210 milhões a mais do que deveria numa ação de indenização movida por empresário amigo do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa, pré-candidato ao governo de Minas Gerais.

Ela e a Embratel eram rés na ação judicial e foram condenadas a pagar, cada uma, indenização de R$ 506 milhões à VT Um Produções e Empreendimentos, de Uajdi Menezes Moreira, amigo de Costa há mais de 30 anos. Os dois foram companheiros de trabalho na TV Globo.

Em junho de 2006, a Telebrás firmou acordo extrajudicial com a empresa no valor de R$ 253,9 milhões para encerrar a discussão. A estatal é vinculada ao Ministério das Comunicações, e Hélio Costa (PMDB) era o titular da pasta quando o acordo foi fechado.

Já a Embratel, do grupo mexicano Telmex, encerrou a discussão um ano antes por um sexto do valor pactuado pela Telebrás: R$ 44 milhões. A Folha teve acesso com exclusividade ao documento assinado pela Embratel em 28 de fevereiro de 2005.

O contrato foi mantido em sigilo, e nem o Ministério Público Federal teve acesso a ele. A diferença brutal de valores mostra que a Telebrás desembolsou muito mais do que deveria para encerrar a discussão judicial.
O ex-presidente da Telebrás Jorge Motta e Silva, que assinou o acordo com a VT Um, disse que desconhecia o valor pago pela Embratel. Disse que a Telebrás pediu à Justiça para ter acesso ao acordo da Embratel, mas que o pedido foi negado. “”Você acha que, se soubesse dos R$ 44 milhões, eu teria fechado o acordo por valor maior”?

A AÇÃO
A VT Um Produções e Empreendimentos entrou com a ação judicial contra as duas teles em 1998, um mês antes da privatização da Telebrás.

A empresa tinha firmado um contrato com a Embratel (então controlada pela Telebrás), em 1994, para vender serviços a terceiros usando o sistema de telefones 0900, em que a fatura era lançada na conta telefônica do usuário. Cabia a Embratel repassar o pagamento à empresa.

A Embratel rompeu o contrato com a VT Um em 1995. A ação de indenização contra a Telebrás e a Embratel correu em Brasília. Quando a sentença foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a Embratel fez o acordo com a VT Um. Quem assinou o contrato pela Embratel foi seu então presidente Carlos Henrique Moreira.

O processo continuou contra a Telebrás, sendo confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça. No dia 9 de junho de 2006, o então presidente da Telebrás, Jorge da Motta e Silva assinou o acordo para pagar R$ 253,9 milhões.
Do total, R$ 95,5 milhões foram pagos em dinheiro (R$ 59,5 milhões à vista e 40 parcelas mensais de R$ 900 mil). O resto foi pago com direitos de crédito de ações contra a Telesp e a Fazenda Nacional.

TCU
No início deste ano, o Ministério Público Federal decidiu reexaminar o caso e enviou o processo ao procurador federal junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), Marinus Marsico. O parecer de Marsico, divulgado há duas semanas, foi de que o cálculo da indenização feito pela perícia judicial foi superestimado em R$ 169 milhões e que a indenização devida seria de R$ 84,3 milhões.

Segundo Marsico, o Ministério Público Federal também desconhecia o valor do acordo feito pela Embratel. Ele considerou o contrato “”prova importantíssima” de que houve pagamento indevido pela Telebrás e “”enorme prejuízo para o erário”.

Elvira Lobato – Folha de São Paulo

Der Spiegel:Lula na primeira divisão mundial

Transpirando autoconfiança, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está elevando o status global do seu país ao protagonizar um número cada vez maior de iniciativas na área de política internacional. Na mais recente dessas ações, ele convenceu o Irã a concordar com um polêmico acordo nuclear. Poderia este acordo proporcionar uma oportunidade para que sejam evitadas sanções e guerra?

Ele foi acusado de ser muitas coisas no passado, incluindo um comunista, um proletário grosseiro e um alcoólatra. Mas a época dessas acusações acabou há muito tempo. À medida que o Brasil cresce para tornar-se uma nova potência econômica, a reputação do presidente brasileiro cresce de forma meteórica. Hoje em dia muita gente vê o presidente como um herói do hemisfério sul e um importante contrapeso em relação a Washington, Bruxelas e Pequim. A revista de notícias norte-americana “Time” foi além, duas semanas atrás, ao afirmar que ele é “o líder político mais influente do mundo”, colocando-o à frente até mesmo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. No Brasil, muita gente vê em Lula da Silva um candidato ao Prêmio Nobel da Paz.

Nova estratégia de segurança dos EUA admite peso do Brasil no mundo

A Nova Estratégia de Segurança dos Estados Unidos, anunciada nesta quinta-feira (27) pela Casa Branca, elogia as políticas econômicas e sociais do Brasil, reconhece o país como guardião de “patrimônio ambiental único” e dá as “boas-vindas” à influência de Brasília no mundo.

E agora este homem, Luiz Inácio da Silva, 64, apelidado de “Lula”, que passou a infância em um cortiço como filho de pais analfabetos, conseguiu mais outra vitória política no exterior. Em uma reunião que foi uma verdadeira maratona política, ele negociou um acordo nuclear com a liderança iraniana. Na última segunda-feira, ele apareceu triunfante ao lado do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Os três líderes chegaram a um acordo que eles acreditam que retirará da agenda internacional as previstas sanções da Organização da Nações Unidas (ONU) contra o Irã devido ao possível programa de armas nucleares do país. O Ocidente, que vinha fazendo pressões pela adoção de medidas punitivas mais duras contra o Irã, pareceu ter sido feito de bobo, e até ter sido pego de surpresa.

Mas o contra-ataque de Washington veio no dia seguinte, abrindo um novo capítulo nesta acalorada disputa nuclear, na qual Pequim, em especial, há muito vem resistindo a adotar uma abordagem mais dura. A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton anunciou: “Nós chegamos a um acordo baseado em medidas fortes com a cooperação tanto da Rússia quanto da China”. O texto relativo às sanções planejadas contra o Irã foi enviado a todos os membros do Conselho de Segurança da ONU, incluindo o Brasil e a Turquia. Os dois países são membros eleitos para ocuparem durante dois anos esse conselho que têm 15 integrantes, e que precisa aceitar uma resolução com pelo menos nove votos para que esta possa ser implementada.

Os Estados Unidos mostram-se irredutíveis quanto às sanções

Clinton agradeceu especificamente a Lula pelos seus “esforços sinceros”. Mas a sua expressão indicava claramente que ela viu os esforços de lula mais como um impedimento do que como uma ajuda. “Nós estamos procurando o apoio da comunidade internacional a uma resolução composta de sanções fortes que, segundo o nosso ponto de vista, constituir-se-ão em uma mensagem muito clara a respeito daquilo que se espera do Irã”, afirmou Hillary Clinton.

Mas a abordagem menos confrontativa de Lula nesta disputa nuclear não seria muito mais promissora? Seria tão fácil assim desacelerar o “Lula Superstar”, que conta com o apoio da Turquia, um país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)? Quem quer que tenha acompanhado a carreira de Lula achará difícil acreditar nisso. Este homem sempre superou todas as resistências, e todos os cenários desfavoráveis com os quais se defrontou.

O pai dele abandonou a família quando Lula era bem novo, e a mãe mudou-se com os oito filhos do nordeste do Brasil para o sul industrializado, onde ela esperava aumentar as chances de sucesso da família. Lula só aprendeu a ler e a escrever aos dez anos de idade. Quando criança, ele ajudou a sustentar a família trabalhando como engraxate e vendedor de frutas, e também como operário de uma fábrica de tintas. Ele acabou conseguindo fazer um curso de torneiro mecânico. Quando Lula tinha 25 anos de idade, a mulher dele, Maria, e o seu filho ainda não nascido morreram porque a família não tinha condições de pagar por atendimento médico adequado.

Lula tornou-se politicamente ativo quando era jovem, ao ingressar em um sindicato e organizar greves ilegais na época da ditadura militar. Ele foi preso várias vezes na década de oitenta. Insatisfeito com os esquerdistas clássicos, ele fundou o seu próprio Partido dos Trabalhadores, que gradualmente transformou-se de um partido marxista em uma agremiação social-democrata. Ele concorreu três vezes, sem sucesso, à presidência, até que, na quarta vez, venceu a eleição presidencial de 2002 com uma vantagem significante sobre o seu adversário. Foram os indivíduos mais pobres que, em um país de extremos contrastes econômicos, depositaram as suas esperanças no carismático líder trabalhista. Quando Lula venceu a eleição, os indivíduos extremamente ricos, temendo que os seus bens fossem desapropriados, mantiveram os seus aviões a jato particulares abastecidos, prontos para decolar.

O herói dos pobres distanciou-se de revoluções

Mas aqueles que esperavam ou que temiam uma revolução no Brasil ficaram surpresos. Após tomar posse, Lula levou alguns dos membros do seu gabinete a uma favela, e lançou um programa de grande escala chamado “Fome Zero” para aliviar os sofrimentos dos desprivilegiados. Mas ele não assustou os mercados. Aumentos dos preços das commodities e uma política econômica moderna que enfatizou os investimentos estrangeiros, a educação nacional e recursos para treinamento ajudaram Lula a se reeleger em 2006.

O mandato dele termina em dezembro, e Lula não poderá disputar novamente a reeleição. Ele colocou a casa em ordem e cultivou uma potencial sucessora. Mas o presidente autoconfiante deseja evidentemente deixar também um legado político: ele considera uma missão sua transformar o Brasil, com a sua população de 196 milhões de habitantes, em uma grande potência mundial, bem como assegurar uma cadeira permanente para o seu país no Conselho de Segurança da ONU.

Lula reconheceu que manter boas relações com Washington, Londres e Moscou é algo que ajuda o Brasil a tentar alcançar essa meta. Mas ele sabe também que vínculos fortes com países como a China e a Índia, bem como o Oriente Médio e os países africanos, poderiam ser ainda mais importantes. Ele se considera um homem do “sul”, e um líder dos pobres e desfavorecidos. E, é claro, ele também reconhece as mudanças que estão ocorrendo. No ano passado, por exemplo, a República Popular da China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil pela primeira vez na história.

Lula é o único chefe de Estado que participou tanto do exclusivo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, quanto do Fórum Social Mundial, que criticou a globalização, na cidade de Porto Alegre, no Brasil. Ele é um viajante infatigável, tendo visitado 25 países só na África, muitos países asiáticos e quase todos as nações da América Latina – levando sempre consigo uma delegação econômica. Lula prega incansavelmente a sua crença em um mundo multipolar. E, como Lula é um orador carismático e um “autêntico” líder trabalhista, multidões em todo o mundo o saúdam como se ele fosse um pop star. Na reunião de cúpula do G20 em 2009, em Londres, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que aparentemente é um fã de Lula, afirmou: “Eu adoro esse cara”.

No entanto, Obama não pode mais ter certeza de que Lula é de fato “o seu cara de confiança”. O brasileiro está ficando cada vez mais autoconfiante à medida que se distancia de Washington e, às vezes, chega até a buscar a confrontação com os norte-americanos.

Autoconfiança cada vez maior

O caso de Honduras é um exemplo dessa tendência. Os Estados Unidos, que sempre viram a América Central como o seu quintal, ficaram perplexos quando Lula concedeu abrigo ao presidente deposto Manual Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa no ano passado e exigiu que tivesse uma voz no processo para solucionar o conflito. Ao recusar-se a reconhecer o novo presidente, Brasília se opôs ostensivamente a Obama.

Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente. Lula viajou a Cuba, onde reuniu-se com Raul e Fidel Castro e pediu um fim imediato do embargo econômico norte-americano à ilha. Para a alegria dos seus anfitriões, ele comparou os críticos do regime que sofrem nas prisões de Havana a criminosos comuns. Lula também fez questão de aparecer junto ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que não poupa críticas a Washington e que está amordaçando cada vez mais a imprensa no seu país. Em uma entrevista a “Der Spiegel”, Lula definiu o líder autocrático como “o melhor presidente da Venezuela em cem anos”.

E quando recebeu Ahmadinejad em Brasília alguns meses atrás, Lula cumprimentou o presidente iraniano pela sua suposta vitória eleitoral impecável e comparou o movimento oposicionista iraniano a torcedores de futebol frustrados. Ele afirmou que o Brasil também não permitiria que ninguém interferisse com o seu programa nuclear “obviamente pacífico”.

Apesar dessa aproximação, muita gente manifestou ceticismo quando Lula seguiu para Teerã a fim de negociar um acordo nuclear com a liderança iraniana, especialmente depois que os iranianos não demonstraram quase nenhuma disposição para ceder nos meses anteriores. Em uma entrevista coletiva à imprensa com Lula, o presidente russo Dmitry Medvedev disse que a probabilidade de um acordo mediado pelo Brasil seria de no máximo 30%. Lula retrucou, dizendo: “Eu diria que as chances são de 99%”. Lá estava novamente em evidência o ego pronunciado do astro político em ascensão. “Ele acredita ser um trabalhador milagroso que é capaz de obter sucesso onde outros fracassaram”, diz Michael Shifter, um especialista norte-americano em América Latina.

Vitória inédita ou fracasso?

Neste momento, só existem indícios circunstanciais de que uma “vitória inédita” foi alcançada em Teerã após 17 horas de negociações. É também possível que a reunião tenha sido, na verdade, aquilo que o jornal alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung” classificou como um “fracasso”, ou apenas mais uma forma encontrada pelos iranianos, que em outras ocasiões foram frequentemente evasivos, para novamente paralisarem as iniciativas internacionais contra o seu programa nuclear.

Autoridades da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena afirmaram cautelosamente que qualquer fato novo no sentido de que se chegue a um acordo nuclear se constitui em um progresso. Os inspetores da AIEA são responsáveis por inspecionar as instalações nucleares de todo o mundo em nome da ONU. Eles recentemente descobriram mais indícios de um programa iraniano ilegal de armas nucleares e pediram a Teerã que cooperasse mais. A avaliação dos especialistas da agência, cuja comunicação com Teerã nunca foi interrompida e que jamais afirmaram algo que não fossem capazes de provar, terá agora muito peso. O fato de os iranianos só se disporem a apresentar o texto do acordo à AIEA “em uma semana” gerou dúvidas.

Os governos ocidentais têm manifestado muito ceticismo, e a resolução da ONU que Hillary Clinton tornou pública pouco depois do acordo de Teerã aparentemente deixou os israelenses preocupados. Alguns membros do governo de linha dura do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estão criticando abertamente o acordo como sendo uma artimanha para aliviar a pressão internacional que é exercida sobre Teerã. O ministro israelense do comércio Benjamin Ben-Elieser afirma que Teerã está aparentemente “tentando novamente ludibriar o mundo inteiro”.

O acordo proporciona uma brecha ao Irã

O instituto norte-americano ISIS, que sempre defendeu uma solução negociada e que acredita que a “opção militar” para resolver a questão nuclear iraniana é impensável, fez uma análise inteligente do acordo Lula-Ahmadinejad-Erdogan. Na análise, os especialistas nucleares independentes do instituto divulgaram as suas preocupações e observaram os pontos fracos do texto do acordo que foi revelado até o momento.

Os iranianos só concordam em enviar 1.200 quilogramas do seu urânio de baixo teor de enriquecimento à Turquia, para receberem em troca combustível para o seu reator de pesquisas em Teerã. As dimensões do acordo correspondem àquelas de um outro acordo proposto pela AIEA em outubro do ano passado, segundo o qual mais de três quartos do urânio produzido no Irã seriam mandados para fora do país, fazendo desta forma com que a fabricação de uma bomba atômica se tornasse impossível. A ideia era que isso fosse uma medida fomentadora de confiança para proporcionar espaço para negociações.

No entanto, o acordo atual ignora o fato de que o Irã, após ter colocado em funcionamento as suas centrífugas em Natanz, aparentemente já conta com mais de 2.300 quilogramas de urânio. Em outras palavras, o acordo possibilitaria que Teerã ficasse com quase a metade desse material, que é um ingrediente básico para uma bomba nuclear, de forma que o Irã ainda contasse com matéria prima suficiente para atingir a “capacidade mínima” de fabricação de armas nucleares.

O acordo também proporciona uma brecha a Teerã: ele concede à liderança iraniana o direito de pegar o seu urânio de volta da Turquia se, na sua opinião, qualquer cláusula do texto oficial “não for cumprida”. E o mais importante é que o acordo não exige que Teerã suspenda o processo de enriquecimento de urânio. “Nós nem sonharíamos em fazer isso”, declarou uma autoridade iraniana. Mas é isso precisamente que a ONU exigiu inequivocamente com aquilo que a esta altura já são três rodadas de sanções.

Essas objeções todas não preocupam Lula. Ele demonstrou que não pode mais ser ignorado no cenário internacional. Na última terça-feira, os amigos do presidente brasileiro elogiavam os seus esforços no sentido de fomentar a paz durante a reunião de cúpula América Latina-União Europeia em Madri. A participação do presidente tinha como objetivo demonstrar que a “lula” possui vários braços. Ele provou que é capaz de nadar na companhia de grandes tubarões.

Por trás dos bastidores, o Lula Superstar gosta de falar sobre como obrigou os diplomatas brasileiros a abandonarem a “síndrome de vira-latas”, o seu termo para designar o profundamente arraigado complexo de inferioridade que os brasileiros demonstravam até recentemente em relação aos norte-americanos e aos europeus.

O fato ocorreu em 2003, na primeira aparição internacional importante de Lula, na reunião de cúpula do G8, em Evian, na França. Um grupo de pessoas estava sentado no saguão do hotel onde ocorria a conferência, aguardando o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Quando os norte-americanos finalmente entraram no recinto, todos se levantaram – menos Lula, que ordenou ao seu ministro das Relações Exteriores que também permanecesse sentado. “Eu não participarei desta subserviência”, declarou o presidente brasileiro. “Afinal, ninguém se levantou quando eu entrei”.

Der  Spiegel
Erich Follath e Jens Glüsing
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