O Grêmio foi condenado a pagar R$ 1,35 milhão ao ex-jogador Cezar Augusto Nascimento, que ficou paraplégico após sofrer um acidente de carro em 30 de setembro de 2007.
Esse valor deve aumentar dependendo dos juros e correção monetária, que não foram calculados pelo juiz Manuel Cid Jaron, da 21ª Vara do Trabalho de Porto Alegre.
A decisão saiu na quinta-feira passada e o clube gaúcho vai apresentar recurso ao TRT (Tribunal Regional do Trabalho).
O atacante Cezar estava emprestado ao Palmeiras quando seu Golf preto foi fechado por outro carro em uma estrada de Cornélio Procópio, cidade do interior paranaense onde nasceu. Ele tinha ido buscar a esposa, Vanessa, e as duas filhas, Larissa e Lívia, para irem com ele a São Paulo. Ainda no hospital, ouviu de Carlos Leite, empresário que detinha 40% de seus direitos federativos, que o Grêmio tinha feito um seguro milionário em seu nome. O problema é que o Cezar nunca recebeu o R$ 1 milhão que a seguradora Metlife pagou ao clube.
Arquivo pessoal |
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Cezar, ao centro, ao lado de sua mãe Juraci e do corintiano Alessandro, seu anjo da guarda |
A diretoria gremista avalia que o dinheiro é seu, já que foi feito uma apólice coletiva prevendo ressarcimento em caso de acidente de qualquer um dos atletas incluídos no contrato, desde que não pudessem mais dar retorno financeiro ao clube, ou seja, serem vendidos.
“Essa decisão foi absurda. Ele está querendo um seguro opcional, não o obrigatório, que foi pago. É como um seguro do carro: tem o obrigatório e aquele que você faz se você quiser. Tenho certeza que a sentença será alterada no TRT”, disse ao iG Cláudio Batista, diretor jurídico do Grêmio.
O ex-jogador ganhou R$ 140 mil, pagos pelo Palmeiras, referente ao seguro obrigatório do contrato de trabalho. Comprou uma casa e a adaptou para o uso da cadeira de rodas. Vive hoje com um salário de R$ 2,5 mil que ganha via INSS, mas não dá para bancar as medicações que precisa tomar, valor que ultrapassa os R$ 3 mil mensais. Para isso conta com ajudas de amigos do futebol, como o goleiro palmeirense Marcos e o lateral corintiano Alessandro.
No despacho, o juiz disse que o clube deveria ter cuidado da recuperação do funcionário. O salário de R$ 10 mil mensais, segundo o ex-atleta, foi suspenso. Cezar nunca pôde usar a sala de fisioterapia do Olímpico, apesar de ter contrato vigente que só acabou em agosto de 2009. Sua paraplegia é secundária e ele deve voltar a andar se fizer um tratamento adequado. Não jogará mais futebol, mas pode dar aulas de educação física, seu sonho atualmente.
“Agora vou poder fazer um tratamento qualificado. Espero receber logo”, disse Cezar, por telefone, de Leópolis, pequena cidade a 14 km de Cornélio Procópio, onde vive atualmente.
O escritório da advogada Gislaine Nunes, que representa o atleta, vai aguardar o recurso do Grêmio para entrar com pedido de execução provisória – que prevê, no futuro, a possibilidade do bloqueio das contas do clube gaúcho no valor da ação.
Dificuldade
Poucos palmeirenses e gremistas devem se lembrar de Cezar, que quando se acidentou tinha 22 anos e iniciava a carreira. Emprestado ao Palmeiras em janeiro de 2007, primeiro foi testado no time B. Ganhou projeção em séries inferiores do Campeonato Paulista e o técnico Caio Júnior o promoveu ao profissional em maio. Ele ficou no banco de reservas nas partidas contra Figueirense e Corinthians, pelo Brasileiro, quando sofreu uma grave lesão muscular. Ainda se tratava do problema na coxa direita quando teve o acidente no Paraná.
Como tinha contrato com o Palmeiras até dezembro, o clube lhe deu assistência. Continuou pagando o apartamento no qual ele morava e o tratamento. Também arcou com o seguro obrigatório, mas quando acabou o contrato Cezar decidiu voltar para o Paraná. Três jogadores o ajudaram e ainda colaboram com dinheiro: Osmar, ex-atacante palmeirense, o lateral Alessandro, que conheceu no Grêmio, e Marcos. O arqueiro palmeirense pagou os custos do processo, como viagens que a advogada precisou fazer, e o último aluguel de R$ 1,8 mil em São Paulo, que estava atrasado.
“A primeira coisa que fiz (após a sentença) foi ligar para o Alessandro e contar. Com o Marcos ainda não consegui falar. Mas eles também têm uma parcela de ajuda em tudo isso”, disse Cezar.
Ele faz fisioterapia uma vez por semana em uma clínica na cidade de Uraí, a 35 km de onde mora. Os custos são pagos por um político local, mas não é o tratamento ideal, que precisava ter também hidroterapia e uma periodicidade maior. Um laudo anexado ao processo, assinado pelo chefe do laboratório de patologia neuromuscular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Beny Schmidt, diz que se Cezar estivesse realizado o tratamento adequado desde o início já estaria andando.
“Já sinto um pouco as pernas e comigo mexer os dedos. Se Deus quiser vou voltar a andar”, completou Cezar.
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