A testemunha do caso do funcionário do Flamengo acusado de pedofilia diz que foram quase 20 anos tomando coragem para denunciar o suspeito e disse não entender como o crime foi ignorado pelos ex-presidentes do clube (Clique aqui ver vídeo com o depoimento da testemunha):
— Acho uma vergonha que uma pessoa assim viva rodeada de crianças dentro da Gávea, mas não sei por que ele sempre foi acobertado pelos dirigentes que passaram pelo clube.
O Conselho Tutelar da Zona Sul convocou o alto funcionário do Flamengo para prestar esclarecimentos, ontem à tarde, em Laranjeiras. Mas não obteve sucesso, já que o denunciado não apareceu, tampouco justificou a ausência, o que causou estranheza ao conselheiro tutelar Edmilson Ventura
— Não temos poder de polícia. Queríamos apenas ouvir o acusado, porque, por enquanto, é apenas uma denúncia. É estranho ele não ter aparecido. Vamos convocá-lo mais duas vezes, espero que ele venha. Se não vier, entraremos com uma representação na Justiça contra esta pessoa, por embaraçar o trabalho do Conselho Tutelar — disse.
Edmílson foi informado da denúncia pela Coordenadoria de Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes da Defensoria Pública, e soube através das reportagens do EXTRA que o fato seria de conhecimento de ex-presidentes do clube.
— Essa situação é reprovável, sob todos os aspectos. Eu gostaria de saber como isso acontece dentro de um clube cuja presidente é uma vereadora, o vice (Hélio Ferraz) já foi candidato ao Senado e o ex-presidente (Márcio Braga) já foi deputado federal duas vezes. Ou ele é mesmo inocente ou é tudo muito estranho.
O funcionário do Flamengo foi denunciado à polícia por ter, segundo testemunha, oferecido R$ 100 a um menor de cerca de 10 anos, frequentador do clube, para acariciar o pênis do menino. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Crianças e Adolescentes Vítimas.
Nota atualizada em 24/02/2010:
O caso de pedofilia envolvendo um diretor do Flamengo pode sofrer grande reviravolta e até mesmo perder a classificação de crime. Nesta quarta-feira, o delegado da 15ª DP do Rio de Janeiro, Luis Henrique Marques, ouviu a mãe do garoto que teria sofrido o assédio. Segundo ele, a mãe apresentou uma certidão de nascimento indicando que o garoto tem 15 anos. O Código Penal brasileiro, em seu artigo 217, considera como crime sexual contra vulneráveis as relações com indivíduos de até 14 anos. Portanto, se o garoto tem mais de 14 anos, o diretor do Flamengo já não pode mais ser acusado de crime sexual contra vulneráveis.
Mas ainda sim ele poderia ser acusado por estupro qualificado (primeiro parágrafo do artigo 213 do Códrigo Penal), que é o crime para quem abusa de vítima menor de 18 anos ou maior de 14. Mas, no depoimento desta quarta-feira, além de apresentar a certidão, a mãe, segundo o delegado, disse que o menor não relatou abuso por parte do dirigente, o que também o livraria da acusação de estupro qualificado. O menor, que ainda não depôs, foi ouvido por psicólogos. Durante 15 dias, esses psicólogos farão um acompanhamento com o garoto. Ao final, gerarão um laudo.
Na tarde desta quarta-feira, o senador Magno Malta, presidente da CPI da Pedofilia e que foi acompanhar de perto o desenrolar do caso, havia dito existir forte indício de que o dirigente seria acusado pelo fato de uma testemunha ter falado que o menor aparentava ter 10 anos de idade. Mas depois da apresentação da documentação e do depoimento da mãe do garoto, o delegado afirmou que o diretor do Flamengo não poderia ser enquadrado como acusado, denunciado ou réu do processo. Ainda assim, o dirigente não está livre do processo, que continuará em andamento.
O garoto é morador de uma comunidade carente próximo ao bairro do Catete, região central do Rio de Janeiro. O delegado Marques não quis dizer quem serão os próximos a depor.
Além do senador Magno Malta, a vereadora Lilian Sá, da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara do Rio de Janeiro, também compareceu à delegacia para acompanhar o caso.