Arquivo do mês: janeiro 2010

Morre o escritor argentino Tomás Eloy Martínez

Faleceu neste domingo, após longa batalha contra o câncer, o escritor e ensaísta argentino Tomás Eloy Martínez,autor de “Santa Evita” e “O voo da rainha”

Tomás Eloy Martínez nasceu em Tucumán, Argentina. Jornalista, romancista e ensaísta. Também escreveu roteiros para filmes.

É autor de “La novela de Perón”, “Santa Evita”,” El vuelo de la reina” (prêmio Alfaguara 2002), e “Ficciones verdaderas”. Intelectual argentino de grande destaque em seu país e no exterior.

A experiência com a ditadura militar argentina resultou em marca na militância e na ficção de Tomás Eloy Martínez, nascido na província de Tucumán, em 1934.

Formado em literatura e especializado em Jorge Luis Borges, Eloy Martínez atuou como repórter na Argentina e na França, tendo iniciado a carreira jornalística como crítico de cinema.

Durante o seu exílio, ele ajudou a fundar periódicos importantes como El Diario (Venezuela) e Siglo 21 (México). Ele criou o suplemento literário Primer Plano para o jornal Página/12, de Buenos Aires. Desde 1995, ele dirige o Programa de Estudos Latino-americanos da Rutgers University, em Nova Jersey.

Marcados pela fluência narrativa e tramados em bases históricas, seus romances abordam, de modo geral, os efeitos do exercício do poder, visto sob um olhar cético, por vezes cáustico. Cinco de seus livros estão em catálogo: O Voo da Rainha (Objetiva), O Cantor de Tango, A Mão do Amo, O Romance de Perón, Santa Evita (todos Companhia das Letras).

PF aponta superfaturamento de R$ 1 bi em obras de aeroportos

A Polícia Federal apontou superfaturamento de R$ 991,8 milhões nas obras de dez aeroportos administrados pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) – Corumbá, Congonhas, Guarulhos, Brasília, Goiânia, Cuiabá, Macapá, Uberlândia, Vitória e Santos Dumont. Todas as obras foram contratadas durante o primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2006.

Relatório final da Operação Caixa Preta sustenta que o desvio é resultado de um esquema de fraudes em licitações arquitetado pela cúpula da estatal na administração Carlos Wilson, que presidiu a Infraero naquele período. Ex-deputado, ex-senador e ex-governador de Pernambuco (1990), Carlos Wilson foi filiado à antiga Arena, ao PMDB, ao PSDB e, por último, ao PT. Ele morreu em abril de 2009, aos 59 anos, vítima de câncer.

Os principais assessores de Wilson no comando da Infraero foram enquadrados pela PF: Josefina Valle de Oliveira Pinha, ex-advogada-geral do Senado que exerceu a função de superintendente jurídica da estatal; Adenahuer Figueira Nunes, ex-diretor financeiro, e Eleuza Lores, ex-diretora de engenharia – o indiciamento de Eleuza foi suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça.

O inquérito foi aberto em novembro de 2006 pela Superintendência Regional da PF em Brasília. Equipes multidisciplinares formadas por peritos criminais federais, engenheiros civis, mecânicos, elétricos, eletrônicos e cartográficos inspecionaram um a um os aeroportos. Interceptações telefônicas revelaram estreito contato entre ex-diretores da Infraero e funcionários de empreiteiras. A investigação foi conduzida pelos delegados César Leandro Hübner e Felipe Alcântara de Barros Leal. “A equipe policial identificou um enorme superfaturamento nos preços e quantidades dos serviços praticados pelas empresas contratadas em um montante aproximado de R$ 1 bilhão em valores atualizados”, assinala o texto.

À página 26 do relatório a PF estima que o valor superfaturado seria suficiente para construir 34.193 casas populares, “o que equivale a todas as moradias de uma cidade de 112.837 habitantes”. O desvio corresponde ainda ao total necessário para a construção do Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Guarulhos, obra tida como fundamental para suportar o crescimento do setor aéreo e receber com conforto os turistas para a Copa 2014.

LAUDOS

Laudos periciais revelam gastos a maior. Com base no laudo 761/2009, do Instituto Nacional de Criminalística (INC), braço da Diretoria Técnico-Científica, a PF afirma que “a Norberto Odebrecht figura como responsável por um desvio do valor atualizado de R$ 163, 25 milhões dos cofres públicos”.

Na obra do Santos Dumont (RJ), diz a PF, a Odebrecht “apresentou superfaturamento no valor de R$ 17,25 milhões”. Segundo o relatório, “essa modalidade de superfaturamento se caracteriza pela cobrança em duplicidade, ou cobrança por serviço não executado”.

O laudo 781/2009 indica que a Via Engenharia “figura como responsável por desvio de R$ 40,65 milhões das obras do aeroporto de Goiânia”.

São alvos do inquérito 18 empreiteiras: Odebrecht, OAS, Carioca, Construcap, Camargo Corrêa, Galvão, Via Engenharia, Queiroz Galvão, Constran, Mendes Júnior, Serveng Civilsan, Gautama, Beter, Estacon, Financial, Enpress, Triunfo e Cima. Elas negam irregularidades (veja na página A6). As fraudes, diz a PF, tiveram apoio de altos funcionários da Infraero. “Objetivando beneficiar seleto grupo de empresários, precisava-se restringir o caráter competitivo das licitações necessárias à aplicação dos recursos federais. Para tanto, eram necessárias mudanças estruturais e normativas na Infraero.”

A PF aponta formação de cartel – conluio entre empresas para prejudicar concorrentes -, inclusão indevida de etapa de pré-qualificação, mudanças de regras durante a licitação. Os peritos constataram dois tipos de superfaturamento: por falta de qualidade e quantidade e por sobrepreço e jogo de planilha.

Morre o escritor e critico literário Wilson Martins

Morreu neste domingo, aos 87 anos, o escritor e critico literário Wilson Martins. Está sendo velado na capela 3, Cemitério Luterano, em Curitiba, ao lado do Estádio Couto Pereira.Em seguida, será encaminhado a um crematório, conforme seu desejo registrado em cartório.

Radicado em Curitiba, Martins morreu em decorrência de complicações cirúrgicas, cinco dias após sofrer uma operação para extração da bexiga.

Wilson Martins nasceu em São Paulo em 1921. Historiador e Crítico literário.

Formou-se em Direito mas após concluir um curso de especialização literária em Paris, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura, como professor e crítico. Ministrou aulas na Universidade do Paraná e durante anos foi professor de Literatura Brasileira na New York University, aposentando-se deste cargo em 1992, quando foi homenageado com o título de Professor Emérito.

Escritor respeitado, é autor da monumental obra em 12 volumes História da Inteligência Brasileira; escreveu também A idéia modernista, Crítica literária no Brasil e A palavra escrita, entre outros.

Foi durante 25 anos crítico literário de O Estado de São Paulo e também do Jornal do Brasil.

Português é o mais rápido do mundo no SMS

Um português é o novo recordista mundial em escrever mensagens escritas num celular. Ele escreveu um texto de 264 caracteres em apenas 59 segundos. Foram 23 segundos a menos do que o recorde anterior

O LG Mobile World Cup, que aconteceu em Nova Iorque, deu a vitória a equipe da Coreia do Sul, que venceu na final a equipe dos Estados Unidos, segundo a «Exame Informática».

Mas foi o português Pedro Matias, que chegou ao topo, ao conseguir o melhor tempo de escrita em SMS. Em apenas 59 segundos o português, que tinha ganho a final portuguesa em Outubro do ano passado, escreveu o texto de 264 caracteres. Uma melhoria do recorde anterior (1m 22s).

IOL/Portugal

Abril pretende criar a rádio MTV

O Grupo Abril pretende lançar um jornal e uma Rádio utilizando a marca MTV, da qual detém os direitos de exibição e comercialização no Brasil. A intenção é expandir o alcance da marca MTV entre o público jovem, ao mesmo tempo em que estreita laços com as classes B e C.

Sobre o jornal, de acordo com o site Tela Viva sabe-se que será gratuito. Em relação à emissora de rádio, a MTV pretende lançá-la em frequência FM. Ainda não está definido em que modelo. O grupo pode licenciar a marca, exigindo algum controle editorial para garantir que a Rádio esteja de acordo com o público alvo. A alternativa é lançar uma emissora em parceria com uma empresa que tenha a freqüência, o que ainda está sendo estudado.

Além de trabalhar na distribuição de conteúdo fora das plataformas tradicionais da marca – TV e Internet – a Abril planeja ampliar a cobertura do sinal de TV aberta.

Ozzy quer Johnny Depp no seu papel no cinema

O roqueiro Ozzy Osbourne afirmou que Johnny Depp é o ator perfeito para interpretar seu papel no filme que contará a história de sua vida, inspirada no livro “I Am Ozzy”.

O roqueiro confirmou que o livro vai virar filme e que o roteiro já está sendo produzido.

SRDZ

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.



Pablo Neruda

Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Escribir, por ejemplo : ‘La noche está estrellada,
y tiritan, azules, los astros, a lo lejos’.
El viento de la noche gira en el cielo y canta.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Yo la quise, y a veces ella también me quiso.
En las noches como ésta la tuve entre mis brazos.
La besé tantas veces bajo el cielo infinito.
Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Cómo no haber amado sus grandes ojos fijos.
Puedo escribir los versos más tristes esta noche.
Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido.
Oir la noche immensa, más inmensa sin ella.
Y el verso cae al alma como al pasto el rocío.
Qué importa que mi amor no pudiera guardarla.
La noche está estrellada y ella no está conmigo.
Eso es todo. A lo lejos alguien canta. A lo lejos.
Mi alma no se contenta con haberla perdido.
Como para acercarla mi mirada la busca.
Mi corazón la busca, y ella no está conmigo.
La misma noche que hace blanquear los mismos arboles.
Nosotros, los de entonces, ya no somos los mismos.
Ya no la quiero, es cierto pero cuánto la quise.
Mi voz buscaba el viento para tocar su oído.
De otro. Será de otro. Como antes de mis besos.
Su voz, su cuerpo claro. Sus ojos infinitos.
Ya no la quiero, es cierto, pero tal vez la quiero.
Es tan corto al amor, y es tan largo el olvido.
Porque en noches como ésta la tuve entre mis brazos,
mi alma no se contenta con haberla perdido.
Aunque ésta sea el último dolor que ella me causa,
y éstos sean los últimos versos que yo le escribo.

Luiza Brunet aos 48 e sarada em capa de revista


divulgação

Luiza Brunet aos 48 anos é a capa da “Dieta já” de fevereiro. Na publicação, a rainha da Imperatriz Leopoldinense revela que, como qualquer outra mulher, luta contra as celulites. “Toda mulher tem, faz parte do corpo feminino. Só que nem por isso quero que ela fique ali, à mostra. Mas acredite, se você apertar a minha coxa, ela vai aparecer”, entrega, rindo.

Agora, para poder desfilar grandiosa no carnaval, desde janeiro a bela intensificou as caminhadas diárias para sete dias da semana e o pilates para cinco vezes. “Esse aumento nos treinos faz que eu ganhe mais resistência e pique para sambar na Sapucaí”, garante Luiza que orgulhosamente desfila, há mais de dez anos, pela Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense.

Leo Dias/Extra

Morre o grande músico Helvius Vilela

Morreu na madrugada de hoje o grande músico brasileiro Helvius Vilela.

O corpo foi velado na Capela 3 do Cemitério São João Batista e o sepultamento foi  às 17h.

Pianista, compositor e arranjador. Tocou e ou fez arranjos para artistas dos mais diversos estilos tais como: Elizeth Cardoso, Alceu Valença, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Carlos Lira, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Tito Madi, Miucha, Marlene, Francis Hime, Chico Buarque, etc.

Musicou poemas de C. Drummond de Andrade lidos pelo próprio no LP Duplo “ANTOLOGIA POETICA” – Polygram. Compôs a trilha da 1ª versão para cinema de “O CORONEL E O LOBISOMEM”, atuou com alguns dos artistas já citados em Nova Iorque, Cuba, Argentina, Uruguai, Chile, México (onde residiu por um ano), Los Angeles (onde também residiu por um ano), Espanha, Suíça (Festival de Montreux) e França.

Recebeu o “PRÊMIO SHELL” pela direção musical e arranjos para o musical “RÁDIO NASCIONAL”.

Gostei e colei: Elisa Lynch a dama do Paraguai

Homero Fonseca

Elisa Alicia Lynch, numa rara foto
Nunca tido ouvido falar em Elisa Alicia Lynch, até o dia em que, cascavilhando no estande da Biblioteca do Exército, na última Bienal do Livro de Pernambuco, deparo-me com um volume que me chamou a atenção. Era uma edição de capa tosca de “Elisa Lynch, mulher do mundo e da guerra”, de Fernando Baptista, de 2007, da própria Biblioteca do Exército Editora. Dei uma folheada e fui fisgado pela extraordinária personalidade ali retratada.

O livro do gaúcho Fernando Baptista, jornalista e economista já falecido, foi lançado em 1985 pela lendária Editora Civilização Brasileira, do não menos lendário Ênio Silveira, que assinou o texto da contra-capa, assinalando que, na obra, o autor “se livrará dos estritos e precisos limites da biografia de personagem histórica para inflamar nossa imaginação com a crônica apaixonante e apaixonada de uma belíssima mulher que não mediu esforços par alcançar os mais elevados patamares de sua aventurosa carreira de cidadã do mundo”.

A biografia romanceada ganhou naquele ano o Prêmio Literário Nacional do Instituto Nacional do Livro e dois anos depois já tinha traduções para o espanhol circulando na Argentina..

Inicialmente, o que me fez comprar o catatau de 550 páginas foi a extraordinária figura da protagonista, personagem marcante da história do Paraguai à época da guerra com a Tríplice Aliança (Argentina-Brasil-Uruguai), que culminou com a devastação do país guarani. Elisa, do ponto de vista da dimensão histórica, poderia ombrear com Evita Perón, mas talvez por ser mais ambígua e polêmica e ter sido heroína dos derrotados, tenha sido um pouco ofuscada pela portenha.

Ela nasceu em 1835, em Cork, Irlanda, e morreu em Paris, em 1886, aos 51 anos, depois de ter sido uma das mais ricas e poderosas mulheres da América Latina em sua época. Sua família era “de classe média com raízes nobiliárquicas”. Ela foi aluna do requintado Trinity College e casou, aos 15 anos de idade, com o médico e capitão do Exército francês, Xavier de Quatrefages, indo morar de imediato na Argélia, onde servia o marido. Lá, tornou-se exímia amazonas e arrasou corações, protagonizando um escândalo que culminou em tragédia: por seu amor, bateram-se em duelo um conde russo aventureiro e o comandante militar francês em Argel, que levou a pior, falecendo em consequência de ferimento a bala. O episódio é tratado com extrema discrição por Fernando Baptista, que é categórico ao afirmar que a jovem irlandesa não traíra o esposo, opinião, entretanto, não compartilhada pelo próprio, que a mandou embora.

Elisa, então, foi viver em Paris, onde começou a frequentar o “rendez-vous” de madame Dumont, que tinha entre seus clientes um jovem general sul-americano, Francisco Solano López, filho do presidente paraguaio Carlos Antônio López e embaixador plenipotenciário do seu país junto à corte de Napoleão III.

Todos as descrevem como belíssima, embora as poucas fotos disponíveis – de má qualidade, é verdade – não parecem ratificar o superlativo. Mas o fato é que Solano López se apaixonou pela ruiva irlandesa. A partir daí, a vida de Elisa Lynch assume contornos de epopéia moderna.

Retrato de Francisco Solano López

Solano a levou para Assunção, onde ela chegou grávida do primogênito Panchito. Mas como era casada com o oficial francês, passaram a viver uma relação de concubinato que escandalizou a sociedade local, sobretudo as senhoras burguesas. Enquanto as mulheres “direitas” lhe torciam os narizes, o patronato paraguaio logo formava fila para visitá-la na mansão equipada com requintes europeus pelo amante, em busca de favoritismo com o poder, principalmente a partir do momento em que Solano, com a morte do pai, assumiu a presidềncia da república guarani, em pleito indireto. Rapidamente Elisa se tornou uma espécie de eminência parda, influindo nos mais diversos aspectos da vida nacional. Teve oito filhos com o “mariscal” e o incentivou nos planos de tornar o Paraguai uma potência econômica e militar. Com efeito, o Paraguai vivia uma época de prosperidade, sendo um dos poucos países latino-americanos, em meados do século 19, a não ter dívida externa, e conseguiu montar um exército aguerrido e disciplinado. Do ponto de vista estratégico, faltava-lhe uma saída para o mar, o que produzia a dependência da navegação na bacia do Prata, controlada por argentinos, brasileiros e uruguaios.

Fernando Baptista traça um amplo painel geopolítico, econômico, militar, diplomático e histórico da guerra que eclodiu em 1865, com a intervenção brasileira no Uruguai e a invasão do Mato Grosso pelas tropas de Solano López, e somente se encerrou cinco anos depois, à custa de enorme mortandade, sobretudo do lado paraguaio.

A guerra em si é objeto de grandes embates ideológicos na historiografia dos países envolvidos, como sabemos. Mas parece que a narrativa de Baptista consegue o prodígio de se equilibrar entre essas correntes divergentes, pois o homem chegou a ser condecorado pelo governo brasileiro, bem como pelo Ministério da Defesa do Paraguai, país onde foi membro honorário do Instituto de História e do Museu Militar.

Sua narrativa é bastante empática para com os paraguaios, embora retrate com realismo a mecânica da ditadura de Solano López, que, no auge do delírio autoritário, em 1868, mandou fuzilar seus dois irmãos, Benigno e Venâncio, tendo as próprias irmãs, Inocência e Raphaela, e até a mãe, dona Juana Paula, sido levadas às barras dos tribunais de exceção.

Durante o conflito, enquanto enriquecia com aquisições favorecidas de enormes latifúndios no Paraguai, na Argentina e no Brasil, Elisa percorria a cavalo os campos de batalha, servia de enfermeira, dava ordens, recebia informações, participava de intrigas e alianças de bastidores, apoiava o seu homem em todos os momentos.

Foi uma das mulheres mais poderosas, polêmicas e magnéticas de sua época e, como sói acontecer nesses casos, mesmo após sua morte continuou gerando discussões e paixões, com parte de biógrafos, historiadores e palpiteiros pintando-a como demônio e parte como heroína.

Na batalha final de Cerro Corá, estava ao lado do ditador e do filho Panchito, que tombaram em confronto com as tropas brasileiros, sendo enterrados pela mulher, com suas próprias mãos.

Bem, aí está um resumo da portentosa narrativa do escritor gaúcho, cuja leitura é daquelas que seguram o leitor pela gola de tal modo que, esteja ele fazendo o que estiver, seu desejo é largar tudo e voltar para o livro – em suma, o tipo de narrativa que vale a pena.

Em muitos momentos, a narrativa épica parece emular Euclides da Cunha, sobretudo em passagens antológicas, como vocês podem conferir no trecho a seguir:

“Esta noite passou sem ninguém dormir em Passo Pocu. As mulheres que acompanhavam soldados, que somavam quase um outro exército, vindas de Assunção e dos departamentos do interior, prestaram, nessa dolorosa vigília, colaborações valiosíssimas. Iam, elas mesmas, pelas picadas e banhados, no meio dos juncos, onde viviam jacarés, decididas a encontrar seus maridos, filhos e companheiros, ou aproximavam-se, a tiro de revólver das trincheiras aliadas, cujos comandantes, percebendo, através da noite iluminada por milhões de estrelas e pela metade de uma generosa Lua, de quem se tratava, advertiram seus soldados para não atirarem. Às vezes, se misturavam paraguaias e argentinas, assuncenas e baianas, mesmo grávidas, auxiliando os padioleiros. Já alta madrugada e de manhã cedo aquela confraternização humanitária havia-se generalizado. Aconteceu um verdadeiro armistício. Atestando a bravura característica dos paraguaios, foram encontrados cadáveres e soldados feridos até no centro do gigantesco acampamento aliado, de contornos entrincheirados. Dessa forma samaritana, de tão nobre conteúdo humano, alguns milhares de paraguaios, argentinos, brasileiros e orientais foram reconduzidos à vida, tratados e devolvidos às suas famílias, ainda que sem membros ou cegos pelos estilhaços da tempestade de tiros e granadas.”

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