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Já tá nas lojas o álbum Cauby interpreta Roberto (Lua Music). Produzido por Thiago Marques, o disco traz 12 canções de autoria do “Rei” que ganharam a interpretação particular do “Professor”.
Cauby é o primeiro intérprete masculino a gravar um álbum somente com canções de Roberto. Antes dele, apenas Maria Bethânia (1993), Nara Leão (1978) e Sônia Mello (1979) haviam sido autorizadas.
Fã de Cauby, Roberto liberou as canções em apenas uma semana. A única ressalva foi a de que a música Você não sabe fosse substituída por Olha. Quase nada perto do excesso de zelo que o “Rei” tem com a sua obra.
Além de Olha, gravada apenas com a voz e o piano de Keco Brandão, Cauby optou por Proposta, De tanto amor, A volta, Sentado à beira do caminho, Os seus botões, Música suave, As flores do jardim da nossa casa, Não se esqueça de mim, Desabafo, À distância e O show já terminou.
Tudo bem. Alguns vão dizer que não haveria combinação mais brega que Cauby e Roberto. Será mesmo? Cauby foi um dos grandes nomes do rádio brasileiro e o mais lembrado até hoje. No passado, foi um verdadeiro popstar. Suas roupas eram rasgadas (embora fossem preparadas para isso), ele saía semanalmente em capas de revistas. Cantou nos Estados Unidos na década de 50 e foi comparado a Frank Sinatra.
Os grandes compositores brasileiros fizeram música especialmente para ele: Caetano Veloso (Cauby, Cauby!), Chico Buarque (Bastidores), Roberto e Erasmo (Brigas de Amor) e Tom Jobim (Oficina). Ou seja, Cauby é muito mais que a sua Conceição.
E outra. É admirável que Cauby, perto dos 80 anos, ainda produza e se sujeite às críticas.
Mesmo com seus floreios musicais, suas roupas extravagantes, suas perucas, suas jóias e repertório algumas vezes de gosto duvidoso, ele é uma das grandes vozes brasileiras. Todo mundo o conhece.
Aliás, o diretor Nelson Hoineff (de Alô, alô Terezinha) está produzindo um documentário sobre a brilhante (em todos os sentidos) trajetória de Cauby. Além disso, o cantor segue se apresentando semanalmente no Bar Brahma, em São Paulo.
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Cauby um caso raro de longevidade artística. Ídolo das menininhas nos gloriosos tempos da Rádio Nacional nos anos 50 – onde se formou o primeiro pelotão das “macacas de auditório” do Brasil – ele é até hoje um sucesso, onde quer que cante. E sua receita, a cada dia dessas cinco décadas, é simples: “Eu vivo o hoje”. Tanto que se sente “em casa” em São Paulo, um mundo tão diferente do Rio em que se inventou.
Nesta conversa com a coluna, ele confidencia: longe do palco e dos aplausos, sua vida é monótona. E sua diversão, aos 78 anos, é cantar… e se ouvir.
Satisfeito com o novo disco com músicas de Roberto?
Sim, fiz um CD muito bom, com músicos excepcionais. Acho que ele vai adorar. O Rei ainda não viu nada, nem o show. Ele é muito ocupado, quase não pode sair.
Como é sua relação com ele?
Muito boa. Ele era meu fã. Eu tinha muito sucesso na época. Ele ia nas rádios para me mostrar suas músicas. Só que as meninas não deixavam. Mas às vezes eu chamava: “Roberto, vem, vem…”. Eles vinham me mostrar músicas mas eu acabava gravando outros compositores mais famosos, né?
Você lhe dava conselhos, já que sua voz já era tão admirada?
Era mesmo. Mas eu nunca estudei, não colocava a voz. É natural, não dava para dar dicas. Porque isso nasce com a gente. Ou tem ou não tem.
Que tipo de comparação imagina que será feita, quando ouvirem as músicas de Roberto Carlos em sua voz?
Pois é, agora vão comparar e eu não poderei fazer nada. Não posso dizer que eu sou melhor. Não diria isso (risos). Mas o povo diz, o jornal diz, as revistas dizem, comparam. Posso dizer? Não posso, né?
Costuma ir a shows?
Não vou não. Só ao meu mesmo.
O que faz quando não está no seu show?
Estou sempre estudando, ensaiando. Por exemplo, agora estou ouvindo esse meu CD novo para ver qual música devo trabalhar mais…
Como você se diverte?
Fico em casa me ouvindo. Vendo nas gravações o que eu faço de melhor e de pior. Levo uma vida que muita gente considera monótona. Não saio, não vou me divertir em lugar nenhum. Me divirto no meu show, onde eu canto, onde eu trabalho.
Mora sozinho?
Moro.
Como se veste em casa?
Em casa é só uma roupinha rasgada, um chinelinho. Nada de brilho. Como se eu fosse outra pessoa.
Vai gravar Sinatra no ano que vem?
Tenho esse projeto de música americana. Eu falo e canto muito bem em inglês. Vou fazer um CD só com Nat King Cole e Frank Sinatra. Vai ser muito bom, né? Vou começar a mexer nisso depois do Natal. Quero Let Me Try Again, I’ve Got You Under My Skin…
Se arrepende de algo?
Não.
Por Débora Bergamasco
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