Fernanda Brambilla, do jornal da Tarde fez esta matéria com Rita Lee:
Rita Lee já foi contestadora, rebelde, ovelha negra em letra e música. Hoje sexagenária, a cantora mantém a cabeleira vermelha brilhante, mas a ex-Mutante está mais amolecida do que polêmica, tão divertida quanto ranzinza e lança CD e DVD gravados ao vivo em meio às próprias contradições, mesmo depois de ultrapassar os 40 anos de carreira.
Coisa da idade? Não, segundo ela, sua idade é de criança. “Estou com três anos e meio. O nascimento da Ziza (a neta) foi um marco zero na minha vida”, diz a avó Rita Lee na entrevista que concedeu por e-mail ao JT.
Se por um lado Rita Lee se diz realizada no palco, toda felicidade é desmistificada ao admitir, ainda hoje, que cogita ‘acabar com Rita Lee’ para fazer qualquer outra coisa da vida. “‘Acabar’ no sentido de mudar de profissão, sim, penso nisso todos os dias, desde que comecei”, afirma a cantora.
O radicalismo prossegue no hábito que tem de não se ouvir mais do que o extremo necessário. “Nada meu que já foi mixado em imagem ou som eu gosto”, justifica a artista, que se julga perfeccionista e super CDF.
Do rótulo de artista contestadora ela também desdenha: “A única causa da qual sempre carreguei bandeira é a da defesa dos animais, mesmo assim, faço longe dos holofotes”, afirma Rita. “Aliás, existe alguém mais chato do que o Bono Vox?”
Ultimamente qualquer banda é suficiente para irritar os ouvidos exigentes de Rita Lee. A cantora só escuta música instrumental, das clássicas ao jazz, das eletrônicas ao new age, sem palavra falada ou cantada.
Mas Rita Lee não é toda ranzinza e isso bem se vê ao vivo. Em frente a uma plateia lotada que a acompanha a cada verso, ela se envaidece e conta que se sente muito melhor do que aos 30. “Balzaquiana, achei que estava no fim da vida. Me olhava no espelho e via madre Teresa de Calcutá. Uma coisa terrível”, diz do alto do palco do Vivo Rio, na gravação ao vivo. Mas isso passou e, hoje, ela se sente toda faceira. “Eis-me aqui, aos 63 anos de idade, toda brejeira. Afinal, rock não é mesmo coisa para maricas.”
É também no palco que ela curte a autoimagem. Rita se acha ‘gordinha’, ‘bunduda’, ‘coxuda’. “Eu odeio ser gostosa”, se diverte durante o show, e provoca o público: “É que eu sou meio machinho.”
Mas a melhor prova de que Rita Lee está longe do fim ela dá ao vivo, em sua reverência a Chuck Berry, com Roll Over Beethoven. “Aos 80 anos, ele está lá, fazendo shows com aquele passinho de ganso.”
A paulista Rita Lee escolheu um palco carioca para a gravação do CD e do DVD ao vivo do Multishow. O repertório mescla hits e sucessos antigos como “Cor de rosa choque”, “Vingativa”, “Mutante”, e as inéditas “Tão” e “Insônia”. Na gravação, “Bwana” teve o refrão trocado para “Obama”. No palco com o filho Beto e o marido Roberto de Carvalho, Rita gravou também o forró “O bode e a cabra”, paródia de “I wanna hold your hand”. “Queríamos gravar, mas a dona Yoko (Ono) sempre vetou. Finalmente a ‘japa’ liberou, então fizemos questão de incluir.”
Fernanda Brambilla/JT
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