“Quando ela pegou o telefone, eu aumentei o volume do som, tapei a boca dela e comecei a furar as costas. Isso foi na sala. A faca já estava comigo para cortar a pedra de cocaína. No dia em que aconteceu tudo, eu já tinha usado cocaína durante quatro dias.”
Foi assim que Mohammed D’Ali Carvalho dos Santos, 21 anos, descreveu, aos membros do júri e ao juiz Jesseir Coelho de Alcântara, o assassinato da inglesa Cara Marie Burke, 17 anos, durante seu julgamento, ontem, em Goiânia. O réu admitiu que matou, esquartejou e tentou se livrar do corpo da vítima em julho do ano passado e acabou condenado a 21 anos de reclusão — 19 anos pelo homicídio e dois pela ocultação do cadáver. Depois da leitura da sentença, às 23h15, ele voltou para a cadeia.
Os membros do júri não concordaram com a tese da defesa, que pediu abrandamento da punição, alegando que o réu seria semi-imputável por sofrer de problemas mentais. Os sete jurados concordaram que o homicídio teve agravantes (motivo fútil e sem dar chances de defesa à vítima).
Para espanto das cerca de 400 pessoas que acompanhavam a sessão no Tribunal de Justiça, Mohammed riu em vários momentos. Ele negou que namorasse Cara e disse que ela costumava usar drogas. A defesa chamou para serem ouvidos o irmão do assassino, Bruce Lee dos Santos; uma tia, Jane Lúcia Souza Oliveira; e a namorada — que tem com Mohammed um filho de 2 meses, concebido na prisão —, Helen de Matos Victória, 19 anos. Os depoimentos dos três pareciam buscar confirmar a tese da defesa.
Os familiares disseram ainda que a morte do pai teria deixado Mohammed perturbado. A tia afirmou que o pai do condenado foi morto e esquartejado quando ele ainda era criança. Já a namorada disse que o acusado está arrependido e que só cometeu o crime porque estava sob o efeito de drogas. Ela disse ainda que não tem medo de ser morta pelo companheiro e o descreveu como “uma pessoa amorosa e cativante”.
Também testemunharam o tenente-coronel Cláudio de Oliveira Silva, da Ronda Tática Ostensiva Metropolitana (Rotam), e o porteiro do prédio onde o crime ocorreu, Domingos Leal da Silva. O policial afirmou que Mohammed tentou suborná-lo para ser solto. Silva, por sua vez, disse nunca ter presenciado brigas no apartamento.
Debate
Por volta das 17h15, foi iniciado o debate entre o promotor Milton Marcolino e a defesa. Primeiro a falar, Marcolino disse não acreditar que Mohammed tenha problemas mentais e que o crime foi premeditado. Segundo ele, o réu custeou a vinda de Cara ao Brasil e queria se casar com ela para ter o direito de morar na Inglaterra. Ele lembrou ainda que o assassino tirou fotos de partes do corpo de Cara e as enviou pelo celular. “Isso mostra que ele é uma pessoa má e não uma pessoa com problema mental”, argumentou. George Hidasi, um dos advogados de defesa, disse que o crime foi “monstruoso”, mas insistiu em uma pena branda.
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