Após serem acusados do escândalo da babá, João Carlos e Denise Zoghbi apontam um enorme esquema de corrupção que controla os contratos do Senado. As informações são da revista Época. Tudo aconteceu na noite da última quinta-feira, quando a revista manteve duas conversas com o casal, em sua mansão no Lago Sul, uma das áreas mais nobres de Brasília.

Na primeira conversa (foto acima), a reportagem da Época mostrou aos dois o resultado de três meses de investigação envolvendo a ex-babá do casal, uma mulher de 83 anos. Ela não tinha renda até 2006. A reportagem, porém, mostra que os Zoghbi usaram nome da babá Maria Izabel Gomes para criar empresas de fachada e ocultar quantias milionárias recebidas de bancos que tinham autorização para fazer operações de empréstimos consignados com os funcionários do Senado.
Diante de tantas provas, o casal acabou confirmando a história, mas primeiro colocaram a culpa nos filhos, que foram demitidos do Senado após o veto do nepotismo. Os dois teriam ficados desesperados por causa do escândalo que estava por vir. A reportagem sugeriu, então, que se eles revelassem um escândalo ainda maior, o esquema da babá não seria a reportagem de capa.
João Carlos ligou então para um repórter do veículo com o objetivo de marcar uma nova conversa. Chegando novamente à mansão dos dois, Denise teria oferecido um carro para que a reportagem não fosse publicada. Época constatou depois que o automóvel era um Mercedes-Benz. Só que a gentileza foi recusa pelos repórteres, que em seguida receberam informações do casal sobre supostos esquemas de corrupção em todas as grandes compras, licitações e contratações do Senado.
Segundo o casal, há corrupção no Sistema de Processamento de Dados (Prodasen), na comunicação social, no transporte, na vigilância e na segurança. Sobre a taquigrafia, eles comentaram: “A taquigrafia é um escândalo. O serviço público tem o órgão dele de taquigrafia e contrata uma empresa para taquigrafar e fazer o mesmo serviço”.
João Carlos e Denise Zoghbi foram mais longe ainda e afirmaram que a quadrilha que age dentro do Senado tem um chefe: Agaciel Maia, que foi diretor-geral da Casa durante 14 anos, e deixou o cargo há dois meses, após o escândalo de que ele havia registrado uma mansão sua em nome de seu irmão e deputado federal, João Maia (PR-RN).
“Esses anos todos, o Senado tem dono. Um único dono. Ele é sócio de todas as empresas terceirizadas”, afirma Denise sobre Agaciel. Só que Agaciel nega todas as acusações e afirma que o casal sempre teve diferenças com ele, e que João Carlos “sempre sonhou em ser diretor-geral”. Ele garante que não teria como manipular os milionários contratos com empresas terceirizadas que fornecem mão de obra ao Senado. “A comissão de licitação é formada por 13 integrantes de diversas áreas, que são nomeados pelo presidente do Senado. Não havia como eu interferir”, garante Maia.
Na segunda entrevista com o casal, eles pararam de afirmar que o uso da babá havia sido negócio dos filhos. João Carlos se mostrou preocupado, dizendo que a denúncia o comprometia. Quando perguntados pelos repórteres sobre quem estava junto com Agaciel, os dois desconversaram, e não citaram mais nomes, apenas insinuaram envolvimento dos senadores Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Morais (DEM-PB).
Um senador demonstrou, na semana passada, toda a sua preocupação com a história do casal Zoghbi: “Se essa mulher contar o que sabe, implode a cúpula do Senado”.Com a publicação do caso da ex-babá, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), determinou que a Polícia Legislativa investigasse Zoghbi, que já respondia sindicâncias por supostamente ter utilizado um apartamento funcional da Casa para acomodar parte da sua família.
Zoghbi, que continuava como funcionário na Casa, pediu aposentadoria ontem para escapar da demissão.
Nota atualizada na tarde de domingo dia 03 de maio:
Os senadores Romeu Tuma (PTB-SP) e Efraim Moraes (DEM-PB), além do ex-diretor geral da Casa, Agaciel Maia, passarão a integrar o processo de investigação conduzido pela Polícia do Senado que apura desvios de recursos nos contratos com instituições bancárias para concessão de empréstimo consignado. O diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, informou que as acusações do ex-diretor de Recursos Humanos, João Carlos Zoghbi, de que Agaciel Maia seria sócio das empresas que prestam serviço terceirizado “abrem uma nova vertente” nas investigações.
“Todo mundo que está citado mais cedo ou mais tarde terá que ser ouvido. Apesar de terem [os senadores Tuma e Efraim Moraes] foro privilegiado eles também serão ouvidos”, afirmou Pedro Ricardo Araújo. Acrescentou que vai cobrar de Zoghbi a apresentação de provas de todas as acusações feitas na entrevista que deu à revista Época.
“Quando formos ouví-lo vamos pedir as provas do que ele falou à Época. Ninguém é louco de fazer uma acusação dessas sem ter provas”, disse o diretor. A Polícia do Senado trabalha ainda no levantamento dos documentos sobre a forma como foram feitos os contratos com as instituições bancárias para saber o mecanismo de funcionamento do esquema administrado por João Carlos Zoghbi.
O diretor da Polícia do Senado pretende iniciar, já na próxima semana, a fase de depoimentos começando pelos jornalistas da revista responsáveis pelas apurações das matérias veiculas. Segundo o diretor, o objetivo é saber como foi realizada a apuração e quais documentos os jornalistas poderão apresentar.
Na segunda-feira, o diretor vai reunir-se com os responsáveis pela investigação para analisar de que forma a Polícia do Senado atuará a partir das denúncias feitas por João Carlos Zoghbi. Além disso, todos os gestores de contratos de concessão de empréstimo consignado serão ouvidos.
Agência Brasil
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