O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, cancelou sua visita ao Brasil, prevista para o fim de fevereiro, diante do desgaste das relações bilaterais provocado pelo caso Cesare Battisti, conforme informou ao Estado uma fonte da diplomacia italiana.
Uma possível decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor da extradição de Battisti não seria suficiente para o governo Berlusconi reconsiderar sua visita ao País. O STF deverá julgar o pedido italiano no início de fevereiro.
A assessoria de imprensa do Itamaraty limitou-se ontem a informar que não recebeu nenhuma comunicação oficial de Roma. Estavam em curso negociações entre ambas as chancelarias para a definição precisa da data da visita do primeiro-ministro a São Paulo e a Brasília, depois do carnaval. Com o espaço de apenas três meses entre a visita de Lula à Itália e de Berlusconi ao Brasil, o governo italiano pretendia dar um sinal político em favor da intensificação da cooperação e dos negócios entre os dois países.
Essa tinha sido, justamente, a posição defendida por Lula durante sua visita de cinco dias a Roma. Escudado no salto de US$ 4 bilhões para US$ 8 bilhões no intercâmbio Brasil-Itália entre 2003 e 2008, Lula defendera o aquecimento do comércio bilateral.
O clima entre os dois países, porém, deteriorou-se gradualmente desde 13 de janeiro, quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu refúgio político a Battisti – um militante do grupo Proletários Armados para o Comunismo (PAC) condenado pela Justiça italiana à prisão perpétua por atos terroristas que causaram a morte de quatro pessoas, nos anos 70.
Apesar da insistência do Ministério das Relações Exteriores e das pressões da opinião pública italiana, o presidente Lula respaldou a decisão de Tarso – que havia contrariado o Comitê Nacional para Refugiados (Conare) e o parecer da Procuradoria-Geral da República – e pôs uma pedra sobre o caso.
No dia 27, a chancelaria italiana chamou de volta seu embaixador em Brasília, Michele Valensise, para consultas o que indica o agravamento do conflito bilateral.
O governo italiano deu sinais de que também pode criar dificuldades para a participação do Brasil na reunião de Cúpula do G8 (as sete maiores economias, mais a Rússia), programada para junho, na Sardenha. A Itália está na presidência temporária desse grupo. Nos últimos anos, Lula tem sido convidado a participar do diálogo entre o G5 – os emergentes África do Sul, Brasil, China, Índia e México – e o G8.
Denise Chrispim Marin
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