A lingüiça está tomando o lugar da picanha na grelha do brasileiro. Com a crise o brasileiro continua fazendo seu churrasco, sem comprometer o bolso: está comprando mais lingüiças.
A venda de carnes bovinas encolheu desde dezembro, segundo a Associação Paulista de Supermercados. “A picanha está vendendo 10% menos.
Durante 2008, segundo o IPC-Fipe, as carnes bovinas tiveram alta de 17,78%. No ano passado, o contra-filé subiu 11,63%, passando a custar R$ 16 o quilo. Somente entre novembro e dezembro, a picanha aumentou 12,02% e agora custa R$ 36 o quilo.
As lingüiças, mesmo tendo subido 16% no ano passado, custam entre R$ 5 e R$ 10 o quilo, no máximo. É justamente nesse período que se inicia a temporada de churrascos no Brasil. “De dezembro até fevereiro o consumidor faz mais churrascos por conta do verão e das férias”, diz Márcio Gonzalez, da Cargill dona da Seara. Este ano a demanda por lingüiças deve ficar 15% acima do que foi registrado nos mesmos meses de 2008.
A boa notícia é que neste verão as lingüiças estão menos gordurosas. A Seara fez uma pesquisa com consumidores em 2008 e reformulou sua linha de embutidos, colocando 12% mais carne nos produtos. Segundo a legislação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a toscana – a preferida do brasileiro – deve ser feita apenas com paleta e pernil de porco. Esse tipo de lingüiça, mesmo mais cara, tem 80% das vendas dos embutidos suínos frescos, dados da Nielsen.
Das vendas totais de lingüiça, a de suínos representa 70%, a de frango tem 28% e as temperadas (que misturam carnes de frango, bovinos e suínos na composição) ficam com 2% das vendas.
O mercado como um todo, segundo dados da Nielsen, cresceu 8% no ano passado e chegou a 260 mil de toneladas, com faturamento de R$ 2,6 bilhões.
A única coisa que está deixando as empresas reticentes neste ano não é a crise, mas a reforma ortográfica. Nem Sadia, Perdigão ou Seara definiram quando irão adotar a regra que tira o trema da lingüiça. Todas as marcas ainda estão estudando quanto essa pequena mudança pode custar.
Lílian Cunha/Valor