A ciência brasileira acaba de obter a primeira linhagem de células-tronco embrionárias humanas. O avanço inédito foi obtido por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e deve ser anunciado na manhã desta quinta-feira, em Curitiba, durante um simpósio de terapia celular, que ocorre no Paraná.
O sucesso foi uma combinação de muito suor e alguma audácia por parte do grupo liderado por Lygia da Veiga Pereira, uma vez que a liberação definitiva para a produção de células-tronco embrionárias humanas só veio com a decisão do Supremo Tribunal Federal, em maio de 2008, que julgou improcedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Lei de Biossegurança, que havia sido aprovada pelo Congresso em 2005.
Se o grupo tivesse começado as pesquisas apenas após o julgamento no Supremo, não teria sido possível avançar tão depressa. “Na verdade, em 2005 as pesquisas haviam sido liberadas. A existência da ação de inconstitucionalidade não proibia. Essa foi a minha interpretação”, conta Pereira.
Ela usa como argumento que seu projeto foi aprovado pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e recebeu financiamento já em 2006. “Entendi isso como um sinal para ir adiante.”
Mas nem tudo foram flores. Por conta da insegurança jurídica, houve gente no grupo de Pereira que teve a bolsa de estudos negada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que temia uma proibição mais adiante. Mesmo assim, com o auxílio de verbas federais e de instituições privadas, o grupo prosseguiu.
E, cerca de três meses atrás, após 35 tentativas, os cientistas conseguiram extrair a primeira linhagem estável de células-tronco a partir de um embrião. Desde então, os pesquisadores passaram a multiplicar essas células. Finalmente, algumas semanas atrás, conseguiram determinar que as células obtidas eram pluripotentes — podiam se transformar em qualquer tipo de tecido.
É exatamente por isso que as células-tronco embrionárias são tão cobiçadas. Agindo como curingas celulares, elas são teoricamente capazes de se transformar em qualquer tipo de célula que existe no corpo humano. Por isso há a esperança de que possam, no futuro, ser aplicadas em tratamentos de doenças hoje incuráveis, restabelecendo a saúde a órgãos ou tecidos danificados. Entre as muitas enfermidades que poderão um dia ser combatidas com terapia celular estão diabetes, mal de Parkinson e problemas cardíacos.
“Já vimos nossas células se transformarem em neurônio e músculo”, diz Pereira. “Pretendemos fazer agora testes em animais, para confirmar essa pluripotência.”
G1/USP
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