O novo filme de Woody Allen, “Vicky, Cristina, Barcelona”, conta as férias de verão de duas americanas em Barcelona, duas amigas de temperamento oposto, interpretadas por Scarlet Johansson e Rebecca Hall.
O filme tem um narrador quem mantém o equilíbrio delicado entre comédia e tragédia que marca esta aventura espanhola de Woody Allen. Esse narrador sai de cena quando encontra o seu duplo, o latin lover vivido por Javier Bardem, com toques de genialidade. Bardem sabe que seu personagem é um estereótipo de longa tradição no cinema americano. E brinca com o personagem com humor tão sutil que se torna, também ele, um comentarista do enredo.
As férias de verão das duas americanas na Espanha falam, na verdade, do choque entre duas culturas. Tudo regado a Rioja, Gaudi e Miró, com citações inevitáveis a Pablo Picasso e suas mulhere. Um filme feito de clichés. Woody Allen no país de Pedro Almodóvar, mais irônico e menos satírico, com mais melancolia e menos melodrama.
Allen homenageia Almodóvar, reescrevendo, a seu modo, aquele modelo de enredo que gira em torno da educação sentimental, que faz a delícia dos melodramas do cineasta espanhol. E ainda conta com os desempenhos primorosos de Javier Bardem e Penelope Cruz. Allen é menos irreverente e cruel do que Almodóvar, mas nem por isto menos crítico e contundente.
Com “Vicky Cristina Barcelona”, Allen reinventa, em Barcelona, a sua “Manhattan”, a sua geografia amorosa, desta vez com dose maior de auto-ironia, e num tom certamente menos nostálgico. “Vicky Cristina Barcelona” é um filme que se assiste sorrindo. Delicioso.
Marília Martins/NY
@ N I L N E W S 