Já se disse, com uma certa dose de razão, que três sons estão por trás da felicidade dos homens: o tilintar das moedas, o gemido das mulheres e o alarido das palmas. Felizes seriam aqueles que descobrissem como ouvi-los com uma certa regularidade.
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Em 2001, aos 29 anos, o vocalista e guitarrista Rodolfo Abrantes, líder dos Raimundos, já poderia, com tranqüilidade, ser considerado felizardo. Vivia em São Paulo, cheio de grana. Nas noites da cidade, era bajulado pelos fãs e chegava a perder peso e ficar com a pele acinzentada, tamanha a quantidade de baladas que freqüentava, regadas a maconha e ácido.
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Sem falar nas groupies, meninas bonitas. Rodolfo só ia para casa desacompanhado se quisesse. “O palco exerce um certo fascínio sobre os outros. As pessoas gostavam do cara que viam lá em cima. E eu sempre fui de mergulhar de cabeça em tudo”, conta.
Se mulheres e dinheiro já não bastassem, Rodolfo também tinha reconhecimento. Com 2,5 milhões de discos vendidos, já havia produzido um clássico da geração dos 1990, justamente o disco de estréia, Raimundos, que fazia uma releitura do som pesado e melódico da banda americana Ramones, com referências do forró.
Ele havia alcançado tudo o que sonhara desde os 13 anos, quando freqüentava o bar do Gilbertinho, em Brasília, cidade onde nasceu, para ver de perto bandas como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial, que já haviam despontado no Brasil. Tudo o que sempre quis foi tocar guitarra e ter uma banda de rock”, lembra.
Justamente no auge da fama e do dinheiro, uma coisa estranha aconteceu. Rodolfo conta ter percebido que havia chegado ao fundo do poço. O mau humor era permanente. A relação com a namorada, com drogas-baladas, era destrutiva. “As pessoas confundem estar feliz com ser feliz. Ser feliz é outra coisa”, filosofa.
“Eu não agüentava mais aquela vida frenética e sem rumo. Foi quando Jesus Cristo entrou na minha vida.” A conversão veio. Estava magro, com ínguas pelo corpo. Mesmo sem diagnóstico suspeitava estar com câncer. A mulher, convertida, chamou algumas senhoras para orarem por ele. “Não posso dizer qual era a doença. Só sei que estava mal e fiquei bem”, diz.
Na última quinta-feira, sete anos depois da conversão, Rodolfo era mais um entre as 2 mil pessoas na Igreja Bola de Neve, na zona oeste. Discreto, de calça e jaqueta jeans, assistindo ao show de uma banda gospel chamada Livres para Adorar.
Morando em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, lançou dois CDs evangélicos em carreira-solo: Santidade ao Senhor (2006) e Enquanto É Dia (2007), vendendo cerca de 20 mil cópias. Não é mais um rock star. Assumiu de vez o papel de missionário. Dedica-se integralmente a dar seus testemunhos por igrejas do Brasil e do mundo. Esteve em Belém e Santarém, antes de São Paulo. Nas próximas semanas, vai aos Estados Unidos e Japão.
Mesmo defendendo o amor eterno à mulher e à vida comedida, ele nega o rótulo de careta. As tatuagens, boa parte feita durante a vida louca, permanecem. Rodolfo não sente falta da fama. “Acredito no sucesso. Um padeiro ou um pedreiro podem ter sucesso se fazem seu trabalho bem feito. É o que eu busco. Digão, Canisso e Fred, ex-companheiros de Raimundos, mesmo depois das brigas da separação, deixaram Rodolfo emocionado ao comparecerem ao enterro do pai dele, no ano passado. “Ainda vamos dar muita risada do que rolou”, diz.
Bruno Paes Manso/Estadao
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