Muito já se escreveu sobre o rock brasileiro dos anos 80. Sobre quem pavimentou o caminho, ainda há bastante a ser escrito. Para existirem Blitz e Os Paralamas, precisaram existir Rita Lee e As Frenéticas.
Sandra Pêra dá sua contribuição para esclarecer como as coisas funcionavam no pop nacional da segunda metade da década de 70 no livro “As Tais Frenéticas -Eu Tenho uma Louca Dentro de Mim”. São memórias da frenética que mais conservou causos na cachola. “Sempre fui conhecida pela minha boa memória”, diz a irmã da atriz Marília Pêra.
Ela se preocupa menos em analisar o cenário e mais em detalhar passagens pitorescas do grupo formado para animar a The Frenetic Dancin” Days Discothèque, boate que reinou por breve período na noite carioca. O jornalista Nelson Motta foi contratado para iniciar um trabalho diferente na casa e reuniu seis garotas (Sandra, Leiloca, Lidoka, Dudu, Edir e Regina) para serem garçonetes e fazerem performances.
As Frenéticas só viraram um grupo após o fim da boate em 1976. O mundo vivia a febre disco music e o Brasil carecia de artistas nessa praia. Sandra ressalta o papel do produtor Liminha, fundamental para formatar o som do conjunto.
Fartamente ilustrado, o livro traz boas histórias de começo de carreira, que são sempre as mais saborosas em qualquer biografia de banda. Os primeiros shows, o primeiro contrato com gravadora, o primeiro grande hit (“Perigosa”) etc.
A autora revela intimidades, como o romance que teve com Gonzaguinha, que era casado, e cujo fruto foi a filha Amora Pêra
Na época das Frenéticas, sexualidade ainda era tema delicado. Num dos capítulos, a autora relata uma entrevista em que as integrantes foram questionadas sobre relações homossexuais. Diferentemente das cinco parceiras, Sandra confirmou ter experimentado o mesmo sexo. “Aquilo saiu naturalmente, mas incomodou muito as outras meninas”, lembra.
A mensagem libertária das Frenéticas já estava dada nas músicas, nas letras, nas roupas e no deboche em plena ditadura militar.
JOSÉ FLÁVIO