Aos seis meses de idade, Vinícius é um bebê que adora papinha de mamão e dá sonoras gargalhadas durante o banho. O menino foi gerado a partir de um embrião congelado durante oito anos, um recorde no país. Pelos critérios da Lei de Biossegurança, seria um embrião indicado para pesquisas com células-tronco embrionárias.
A lei, aprovada em 2005, enfrenta uma ação de inconstitucionalidade movida pelo ex-procurador-geral da República, o católico Claudio Fonteles. Ele acha que destruir embriões de cinco dias para a extração de células para pesquisa viola a Constituição, que garante o direito à vida. O julgamento da ação no STF foi interrompido na quarta-feira por pedido de vista do ministro Carlos Alberto Direito.
Vinícius nasceu após quase 20 anos de tentativas de gravidez do casal Maria Roseli e Luiz Dorte, de Mirassol (SP). A mulher tinha endometriose e o marido, má qualidade dos espermatozóides, fatores que impediam uma gravidez natural.
Na última FIV, feita em 1999, Maria Roseli produziu nove embriões. Transferiu quatro para o útero, mas não engravidou. O casal decidiu então congelar os cinco embriões restantes.
Em 2006, o casal recebeu telefonema da clínica questionando sobre o destino dos cinco embriões. “Resolvemos transferir, sem esperança de dar certo”, conta Luiz Dorte. Em fevereiro de 2007, os embriões foram descongelados. Três sobreviveram e foram transferidos ao útero de Maria Roseli. Um se fixou.
Com 28 semanas de gestação, ela sofreu uma hemorragia e o parto teve de ser induzido para preservar a vida da mãe. Vinícius nasceu com 1,2 kg medindo 36 cm.
Foram necessários 22 dias de UTI neonatal e mais um mês de internação hospitalar para que o menino atingisse 1,8 kg e tivesse alta da maternidade.
“Meu filho venceu oito anos de congelamento e a prematuridade. Imagine se eu tivesse desistido dele e doado o embrião para pesquisa? Acredito sim que há vida [nos embriões], o Vinícius é a prova disso”, diz Maria Roseli, católica praticante. Ela afirma ser favorável às pesquisas com células-tronco embrionárias, mas “não teria coragem” de doar seus embriões para esse fim.
O ginecologista José Gonçalves Franco Jr, detentor do maior banco de criopreservação do país, onde os embriões de Roseli ficaram, aposta na viabilidade dos congelados. Sua clínica já obteve 402 nascimentos a partir de embriões preservados, a maioria acima de três anos de congelamento.
“É uma loucura falarem que embrião congelado há mais de três anos é inviável. E isso não tem nada a ver com religião. A viabilidade é um fato e ponto. Os maiores centros de reprodução na Europa defendem o congelamento de embriões como forma de evitar a gravidez múltipla”, afirma o médico.
FSP